China perde o posto de maior exportadora de bens para os EUA

A China provavelmente perdeu o posto de maior exportador de mercadorias para os Estados Unidos no primeiro semestre, pela primeira vez em 15 anos. Em meio ao processo de desacoplamento entre as duas maiores economias do mundo, o país foi superado por México e Canadá.

pelo Departamento de Comércio dos EUA mostram que as importações americanas da China entre janeiro e maio caíram cerca de 25% em comparação com o mesmo período do ano passado, para US$ 169 bilhões. Isso equivale a 13,4% do total de importações dos EUA — o nível mais baixo dos últimos 19 anos e uma redução de 3,3 pontos porcentuais em relação a um ano antes. A queda nas importações se deu em uma série de categorias e foi especialmente forte no caso dos semicondutores, em que elas despencaram para a metade.

As importações americanas do México, enquanto isso, cresceram para US$ 195 bilhões, um recorde histórico para o período, e o Canadá não ficou atrás.Isso equivale a 13,4% do total de muito atrás, com US$ 176 bilhões. A expectativa é de que os dois países continuem à frente da China durante todo o primeiro semestre de 2023. 

Os países do Sudeste Asiático também têm exportado mais para os EUA, à medida que a presença da China diminui. As compras americanas dos membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) chegaram a US$ 124 bilhões nos primeiros cinco meses do ano, seu segundo maior valor para esse período. A participação da região nas importações dos EUA dobrou na última década. 

As exportações dos EUA para a China ficaram quase estáveis de janeiro a maio, em US$ 62 bilhões. Embora isso tenha sido suficiente para fazer da China o terceiro maior mercado de exportação dos EUA, sua participação no total, de 7,5%, é metade da do México ou do Canadá e está abaixo do pico de 2020, de pouco menos de 9%. 

A China chegou à posição de maior exportadora para os EUA em 2009, ao superar o Canadá. Quando a manufatura americana de alto custo se tornou menos competitiva em meio a uma recessão causada pela crise financeira, a China tirou proveito de seus preços baixos e concentrou as cadeias de fornecimento para ganhar terreno no comércio mundial. Seu Produto Interno Bruto (PIB) nominal quase quadruplicou nos últimos 15 anos, e suas exportações totais cresceram 2,5 vezes. 

Mas depois de atingir um pico de 20% entre 2015 e 2018, a participação da China nas importações americanas começou a cair durante o governo do presidente Donald Trump, que impôs pesadas tarifas adicionais sobre o equivalente a US$ 370 bilhões em produtos chineses, parte de uma ofensiva para reanimar a indústria dos EUA. 

presidente Joe Biden manteve essas tarifas e tomou medidas para excluir a China de áreas como a de semicondutores avançados e equipamentos de telecomunicações, alegando motivos de segurança nacional. Biden tem cobrado a reestruturação das cadeias de fornecimento em quatro áres cruciais, entre eles os de chips e baterias. 

As empresas americanas têm feito mudanças para reorganizar suas redes de produção. A Apple incentivou fornecedores de Taiwan e outros países a transferirem seus centros de manufatura da China para outras áreas, como o Sudeste Asiático e a Índia. A varejista de roupas Gap passou a adquirir mais produtos do México e da América Central. 

O esforço para reduzir a dependência da China não está livre de problemas para os EUA, pois eleva os preços para os consumidores. Mas a ideia de reduzir o risco relacionado a Pequim tem o apoio tanto de parlamentares democratas como de republicanos e a “friendshoring” — a realocação de cadeias de fornecimento para países amigos — ganha força. 

Por seu lado, a China tem apostado mais no Sudeste Asiático como destino de seus produtos. Enquanto suas exportações para os EUA caíram 17% no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado, as destinadas a países da Asean cresceram 2%, segundo dados oficiais chineses. Alguns observadores acreditam que exportadores chineses cada vez mais enviam produtos à região para serem processados para venda nos EUA e outros países. 

Se a tendência de desacoplamento se ampliar para além dos EUA, a economia chinesa voltada à exportação e as empresas que dependem da China como centro de manufatura sofrerão mais pressão para mudar de rumo. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/07/13/china-perde-o-posto-de-maior-exportadora-de-bens-para-os-eua.ghtml

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