Perspectivas do Delivery: questionamentos e insights

Juliana Luiz, Letícia Arenas, Rafaella Yuna e Victoria da Costa alunas do Curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM-SP

O espaço de atuação do ramo alimentício tem crescido nas plataformas virtuais, visto que começam a ser asprincipais formas de manter ativo o mercado de alimentos, sendo um dos únicos meios de comunicação entre comércios e seus clientes. A existência e uso desses meios não são novidades, mas o que se ressalta é o fato de que aqueles negócios que antes não tinham se adequado às plataformas, se encontraram, em meio à pandemia, sem outras alternativas para continuar suas vendas senão com o delivery ou até mesmo o serviço de retirada, ainda que não seja uma solução para a crise que a indústria de alimentos presencia.

Como bem aborda a psicologia, existe o mundo que percebemos, aquele que é percebido por diferentes percebedores e são nossos sentidos que nos auxiliam na compreensão de determinada percepção. Desta forma, podemos interpretar que após a passagem dessa pandemia, a sociedade estará mais habituada ao uso dos meios digitais, mas não podemos deixar de levar em consideração que ainda terá uma parcela de clientes que continuarão frequentando os comércios sem aderir ao digital, porém a grande maioria consumirá por meios diferentes. As adaptações em consequência do atual cenário mundial tem propiciado a visibilidade dos pequenos produtores,além da valorização do consumo consciente, das culturais regionais e da diversidade, permitindo estimular o setor econômico do país e possibilitando que os comércios locais não colapsem.

Segundo a série da Interbrand sobre consumidores durante a pandemia, essa sendo uma consultora global de marcas, está produzindo relatórios divididos em episódios, dos quais selecionamos um: Cliente, agora. Episódio 03: Sobrevivência do Mais Simples, visto que quem não se adaptar e não tentar suprir as necessidades do seuconsumidor, dificilmente encontrará espaço novamente no mercado. Porém, não é sobre apenas oferecer a opção delivery, e sim preparar seu produto para este serviço, com o uso de embalagens apropriadas, teste de tempo, qualidade de certos, alimentos para a opção viagem e tempo de envio são questões que o mercado deve se atentar para oferecer um serviço e produto de qualidade ao seu consumidor, ou seja, é muito sobre adaptar seu negócio e seus produtos ao mundo do delivery.

Dadas as circunstâncias, o comerciante que mais tiver conhecimento do seu público e da sua segmentação, mais preparado ele estará para esse novo tempo durante e pós COVID-19. Além de que, como visto anteriormente no estudo citado da Interbrand, a presença desses comércios deve e precisa ser notada por seus consumidores: agora é o momento para ser visto e lembrado, de ter atenção e cuidado com sua clientela. Tendo em mente que nesta crise ninguém sairá ileso, o objetivo de todos é sair com o menor prejuízo possível. Agora, muitos comércios que antes não possuíam a opção delivery agora possuem, como lojas de brinquedos eróticos a produtos de papelaria, ultrapassando a ideia que de aplicativos de entrega só entregam comida.

Por outro lado, a crise do novo Coronavírus tem exigido de toda a população uma adequação a uma rotina e um sistema de funcionamento como sociedade extremamente novos. Ela aos poucos foi crescendo e tomando seu lugar nesse novo cenário, nos causando sentimentos como medo e angústia e trazendo para as nossas vidas consequências novas, porém necessárias, como o exercício do isolamento social.

Com o comércio, empresas, escolas e faculdades parando numa tentativa de evitar um contágio maior pelo vírus, a taxa de pessoas em casa aumentou exacerbadamente, tanto na tentativa de se proteger como por necessidade pelo desemprego que, aos poucos, foi se tornando uma realidade. Tudo isso nos leva a pensar naqueles que trabalham todos os dias, noite e dia, para atender a população de uma maneira melhor e mais segura, e nesse caso estamos falando dos entregadores que trabalham através do aplicativos de delivery. Esses trabalhadores também fazem parte da linha de frente e se expõem a riscos enormes atendendo uma demanda que, atualmente, está muito maior que antes, na tentativa de manterem um emprego e uma renda. Alguns inclusive, começaram a utilizar dessa modalidade por necessidade e como uma saída, pois acabaram perdendo seu emprego fixo no caos da pandemia.

Os entregadores por aplicativos de delivery estão correndo um risco enorme se expondo, e suas necessidades devem ser levadas em consideração, assim como um cuidado especial e humano para com essas pessoas, principalmente vindo das empresas para as quais eles trabalham e que não funcionam sem eles. No entanto, o que temos visto nas notícias são alguns relatos e reclamações vindas desses trabalhadores, que apontam falta deassistência das empresas para com a sua situação, principalmente quando relacionado a sua proteção. Eles se queixam de não terem recebido os equipamentos de proteção necessários das empresas e chegaram a enviar mensagens para os clientes da Rappi de forma com que contribuíssem com gorjetas  para que eles pudessem comprar máscaras, álcool em gel eluvas. Como uns dos atuantes da linha de frente que são mais expostos, sabendo que eles se deslocam para todo canto da cidade em que trabalham e para os mais diversos estabelecimentos, essa assistência por parte das empresas é extremamente necessária, assim também como o reconhecimento dos clientes pelo esforço que fazem. Outro ponto importante foi o fato das necessidades dos entregadores   tenham   sido   notadas   pelo  Governo,  que  através  do  Ministério Público do Trabalho fez com que as empresas de delivery garantissem direitos aos motoboys tanto em questão de proteção e saúde quanto na questão remuneratória. Essa ação cobrou das empresas uma resposta e soluções rápidas, o que ocasionou no desenvolvimento de algumas estratégias para melhorar a situação dos entregadores nesse momento delicado.

O medo de enfrentar esse vírus desconhecido está em todos nós e não poderia ser diferente para aqueles que trabalham com entrega de delivery, visto que eles estão altamente expostos para nos trazer alimentos para que possamos ficar no conforto de nossas casas. Felizmente, a maior plataforma de delivery do Brasil, o iFood, tem oferecido para seus entregadores kits de higiene e uma grande distribuição de álcool em gel: só no mês de maio, foram 110 mil kits de higiene contendo álcool em gel, máscaras e folhetos informativos sobre o novo coronavírus. Essa é uma das grandes ações que a plataforma tem feito para promover segurança e informação para seus entregadores e, junto ao portal oficial do entregador, eles levam ao trabalhador informações de como, quando e onde vai ocorrer a distribuição, além de apresentar uma série de dicas para que o mesmo saiba se proteger melhor. Aqui, é interessante ressaltar que o iFood usufrui de uma linguagem mais acessível, o que podemos entender como uma maneira de fazer com que esses entregadores realmente entendam essa mensagem; a plataforma utiliza de expressões como “onde vai rolar” ao explicar as localizações de retirada dos kits de higiene e enfatizam muitas vezes que a segurança do entregador está sendo priorizada.

Além disso, em parceria com a AVUS, uma rede conveniada de saúde, a plataforma está   disponibilizando  planos  de  benefícios  em  saúde  para  seus  entregadores,  facilitando o acesso à uma rede de clínicas, laboratórios e farmácias com descontos de até 80% sem ter de pagar uma mensalidade. Esses benefícios também são válidos para mais uma pessoa que seja dependente do entregador, para ambos, essa iniciativa tem três meses de duração. Ainda com intuito de proteger a saúde e a segurança do seu entregador, o iFood está destinando um fundo de 2 milhões para fundos solidários, em que metade está sendo direcionada àqueles entregadores que possuem sintomas e são diagnosticados com o vírus, e a outra metade àqueles que fazem parte do grupo de risco.

Podemos perceber que algumas ações tendem a ficar: a entrega com cada vez menos contato entre o cliente e o entregador, faz com que pagamentos online sejam cada vez mais aderidos e incentivados pela própria plataforma. O pagamento online já era uma forte tendência aqui no Brasil e agora, é mais forte ainda; daqui, podemos tirar uma informação importante: aceitar todas as bandeiras de cartões se torna um requisito essencial ao perceber tendências como esta. Com o aumento da solidariedade em tempos tão difíceis como este em que estamos vivendo junto ao incentivo do iFood, o aumento de gorjetas via pagamento online foi de 218% comparando março com fevereiro e ainda era só o começo da quarentena. A pergunta que nos cabe fazer aqui é se essas gorjetas, que são tão importantes para agregar a renda desses entregadores, permanecerá alta no pós-Covid-19.

Procuramos aqui, apresentar uma perspectiva geral sobre como está a situação atual dos aplicativos de delivery e quais estão sendo suas estratégias para se adequarem a esse novo cenário. Além disso, este texto buscou trazer um olhar mais humano para com os entregadores e entender melhor suas perspectivas de trabalho num momento tão delicado, além de como as empresas tratam seu vínculo com seus trabalhadores e quais estão sendo as providências tomadas para melhor atender tanto seus clientes quanto aqueles que se arriscam todos os dias para manter a empresa funcionando.

CI-Lab

Laboratório de Estudos de Comportamento e Insights do Curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM-SP

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