A Guerra Fria do Século XXI

Amanda Locali, Giulia Pontes e Manuela Ravioli – Alunas do Curso de Jornalismo da ESPM-SP 

Quando saiu vitorioso da guerra que bipolarizou o globo, os Estados Unidos da América se sentiu forte o suficiente para ir em busca de uma hegemonia mundial principalmente no quesito econômico. Ferramenta indispensável para o país, o protecionismo, se tornou álibi para esconder mazelas políticas, econômicas, racistas e questões de desigualdade. 

O atual presidente Donald Trump não contribui efetivamente para uma mudança comportamental no país mas também não pode ser responsabilizado por questões que definitivamente não são atuais. Lá em 1823, a doutrina Monroe já carregava o slogan “América para os americanos” e em 2009, o ex-presidente Barack Obama concedeu o pacote Buy American, que pretendia enaltecer a compra de aço e ferro dos EUA. O protecionismo dos americanos não é uma novidade. 

A Guerra Fria do século XXI se estabelece entre a China, representando o liberalismo de mercado e acordos multilaterais; e os Estados Unidos, visando mais uma vez o crescimento individual. Esses países, que são co-dependentes, estão focando em sua supremacia geopolítica mundial que faz com as potências tomem medidas protecionistas por medo de perder sua hegemonia. 

Os americanos têm uma determinação muito forte em querer manter sua hegemonia mundial. Mas o que é isso? A hegemonia em nível mundial é a habilidade de fazer com que a maioria dos Estados aceitem uma certa visão do mundo que coloca o país hegemônico como o centro e ainda tenha potencial para ditar acordos comerciais e posicionamentos políticos. E esse é o maior desejo dos Estados Unidos, mas eles não esperavam o repentino crescimento econômico e tecnológico chinês.  

A tensão entre Estados Unidos e China vem de muito tempo antes da crise do novo coronavírus. A briga – majoritariamente econômica e tecnológica – dos dois países está colocando em cheque a relação que antes tentava ser harmoniosa. Você deve estar se perguntando o que causou esse aumento na tensão entre os países. A China teve um crescimento muito grande nos últimos 20 anos e dessa forma, ela se tornou a principal rival dos Estados Unidos, que antes não levava a concorrente a sério. E em 2020, a relação que já estava fragilizada, agora se encontra por um fio por conta da pandemia do novo coronavírus. 

A crise causada pela Covid-19 pegou todos de surpresa, do dia para a noite, curvas representando número de casos e mortes, crescem. A grande diferença, é que alguns países não levaram a sério a gravidade da situação, ou quem sabe, até mesmo optaram por não demonstrar tal fragilidade, o que apenas deslanchou o real problema. 

  Este foi o caso dos Estados Unidos e sua liderança. Donald Trump desde o início desmoralizou a pandemia ao comparar o vírus “assim como uma gripe”, e ainda complementa “ele irá embora, como um milagre”. Seu discurso nepotista e dissimulado foi desbancada pelos números – cenário que parece não mudar a mentalidade do presidente brasileiro, mas isso não vem ao caso agora – e pela comparação ao principal rival político-econômico, no momento em que o número de  casos superaram a China. 

Alex Almeida, professor de história e atualidades, acredita que há muito mais por trás e afirma: “Trump usará essa pandemia como mais um argumento para retaliar economicamente a China. O presidente, ainda, aproveita o momento para se afastar da OMS, mas na verdade, isso já era uma medida desejada por ele”.

Reações de Trump a pandemia, a morte de George Floyd em Mineápolis e o alto número de desempregados no país, que chega aos 40 milhões, podem ser índices decisivos nas eleições de novembro de 2020. “O país vinha de uma retomada econômica e a reeleição de Trump era bem provável. Com a pandemia, esse crescimento se desfez. Pode até ser que ele se reeleja, mas não será mais tão confortável como parecia ser antes da pandemia e dos protestos”, analisa Almeida.

Mesmo com a mudança de discurso do presidente do país, parece que o povo americano persiste nos seus ideais etnocêntricos e protecionistas. Embora o país possuísse o título de epicentro da pandemia até pouco tempo atrás, os estadunidenses se encontravam na rua, não lamentando a morte de mais de 100 mil pessoas, mas pedindo pelo fim da isolamento social (principal medida para controlar o vírus). 

Em pouco mais de dois meses, foram contabilizadas mais mortes norte americanas causadas pela doença do que ao longo de sete décadas nas guerras da Coréia, Vietnã, Golfo Pérsico, Afeganistão e Iraque. Mesmo em um país no qual não existe sistema de saúde pública, e cerca de 40% dos trabalhadores no setor de serviços e quase 60% dos que trabalham em meio período não têm licença médica, o número é alarmante. E, ainda assim, muitos relutam com tal medida, argumentando falta de liberdade e tensão econômica. 

Em meio a essa situação, o Brasil aparece logo em seguida com números tão preocupantes quanto os dos Estados Unidos. Governos alinhados e igualmente em uma saia justa, vêm tomando medidas e discursos semelhantes. Alex ainda explica: “caso Trump não seja reeleito, o Brasil ficará isolado na geopolítica internacional, isso porque que o governo Bolsonaro escolheu se alinhar completamente ao governo dos EUA e criou conflitos desnecessários com países vizinhos, com países árabes e até mesmo com a China”.

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