Trump e seu gabinete: as perspectivas para o comércio internacional

Daniela Bertotti

O tempo não parece minimizar as polêmicas trazidas pelo presidente americano Donald Trump. Ainda é possível se impressionar com a maneira pela qual Trump utiliza a mídia para causar desconforto com seus pronunciamentos. Os posicionamentos de Trump colocam na pauta de maneira contundente questionamentos acerca do impacto da globalização e as consequências para a economia doméstica nos Estados Unidos de forma a impactar seus interlocutores.
Os planos desenhados até agora por Trump em relação ao comércio internacional fomentam críticas e algum estranhamento quando inseridos no contexto internacional. O presidente estadunidense sugeriu aumento nas tarifas sobre os produtos importados provenientes da China e México. Além disso, houve um prenúncio de aumento da tarifa sobre importações de carros alemães. Outra questão que se encontra passível de ser renegociada refere-se ao NAFTA.
O Secretário de Comércio Sr. Wilbur Ross será um importante personagem na renegociação de acordos comerciais e, sem dúvida, um interlocutor com as propostas de realocar investimentos para a infraestrutura e manutenção da indústria no ambiente doméstico, em vez de instalá-las em países que ofereçam menor custo para produção, especialmente, quanto aos direitos trabalhistas. Entretanto, a nomeação do Secretário Sr. Ross não foi pacífica dentro do Senado americano. Houve manifestação contrária a nomeação do Sr. Ross baseada na sua ligação com o Banco do Chipre e eventuais contatos com o presidente russo Vladmir Putin por meio de acionistas de referida instituição financeira.
Outro aspecto controverso da biografia do Sr Ross refere-se a sua atuação profissional. Ross é conhecido por auxiliar empresas falidas, notadamente na área têxtil, automotiva e de siderurgia. Em reportagem publicada no The New York Times em fevereiro deste ano, apontou-se que, contrariando as expectativas de Donald Trump em relação à manutenção de empregos nos EUA, o Sr. Ross realocou empresas em Estados como México e China com a finalidade de diminuir os custos de produção e, assim, amparar empresas de eventual falência.
Do ponto de vista da política comercial norte-americana, as críticas à OMC continuam na agenda e foram endossadas pela Secretário em abril do ano corrente. Medidas ligadas a reformas na Organização foram aventadas, sem maiores indicações do plano de tais aperfeiçoamentos.
Outro ponto importante entre o alinhamento do discurso de Trump e do seu Secretário está no tratamento dispendido ao NAFTA, North American Free Trade Agreement. Referido acordo que busca facilitar as trocas comerciais entre México, Canadá e Estados Unidos vige desde 1994 e a manutenção deste tem sido questionado pelo governo estadunidense.
A ideia do governo americano é a de privilegiar acordos bilaterais nas questões comerciais tendo em vista que, segundo Sr. Ross, o governo terá que ser “mais agressivo” naquilo que considera práticas comerciais injustas e que, portanto, estariam prejudicando os EUA especialmente no que diz respeito às tarifas de importação.
Nesse mesmo sentido, Trump já afirmou que se as negociações não se confirmarem tais quais suas intenções, haverá a saída dos EUA do referido acordo, ao qual ele chamou de “o pior” acordo comercial da história. Tal expressão superlativa encontraria respaldo, segundo o governo americano, na realocação de empresas americanas em território mexicano, tendo em vista o menor custo de produção – notadamente relacionado ao ambiente laboral.
Segundo Ross, renegociar o NAFTA é prioridade. Aguardemos, pois.

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