Três mostras de cinema: Turquia, Rússia e Ecologia

Por Cézar Veronese Professor do CPV Vestibulares

São Paulo é uma cidade superlativa em vários sentidos: população, indústria, gastronomia, trânsito, violência, feiúra… E também em mostras de cinema. É a única cidade do Hemisfério Sul capaz de ombrear com os grandes centros europeus e americanos em exibição de filmes de arte e documentários. Neste momento, três importantes eventos invadem as telas do Cinesesc, do CCBB e do CCSP.
Em meio às convulsões de mais uma crise do euro, enquanto Portugal, Grécia, Espanha e Chipre rastejam para a Alemanha da dona Ângela Merkel continuar com sua impávida empáfia, a Turquia e a Rússia se abrem às oportunidades econômicas, deixando aflorar novos bilionários e polícias entregues a esquemas de corrupção capazes de ofuscar a Cosa Nostra.
Até a próxima quinta-feira (23.05) continua a mostra ISTAMBUL AGORA, no Cinesesc. Trata-se de um conjunto de filmes que retratam a Turquia dos últimos dez anos. Política e suborno são os motes de TRÊS MACACOS. O contraponto entre as tradições e a modernidade marca a trajetória de Yusuf, no premiadíssimo OVO, cuja continuação está em LEITE, ambos dirigidos por Semih Kaplanoglu. A música embala os turcos europeus e asiáticos no belíssimo e dançante ATRAVESSANDO A PONTE AO SOM DE ISTAMBUL. Corte para o interior em ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA, onde acompanhamos, em tempo real, a exumação de um corpo.
O Centro Cultural do Banco do Brasil, sedia, por sua vez, a partir de 22.05, uma mostra completa do diretor russo Aleksander Sokurov. Reconhecido mundialmente como um dos maiores diretores em atividade, Sokurov realizou a tetralogia do poder, na qual leva o espectador para a intimidade dos mais importantes líderes políticos do século XX. Acompanhamos Hitler num piquenique (MOLOCH), a agonia de Lênin (TAURUS) e o drama do Imperador Hirohito após Hiroshima e Nagazáqui (O SOL). A tetralogia é concluída com FAUSTO, símbolo máximo do poder.
O público poderá conferir também, em outra chave, os filmes-pintura de Sokurov, como MÃE E FILHO (no qual a mãe procura elidir a iminência da morte perante o filho próximo), O SEGUNDO CÍRCULO (a luta de um jovem nos confins da Sibéria para realizar um funeral com dignidade para o seu pai) e DOLCE (o desnudamento de uma velha senhora japonesa, que relembra suas perdas e a guerra). Há também o documentário MELANCOLIA DE MOSCOU, retrato dos últimos dias de outro gênio do cinema russo contemporâneo, Andrei Tarkovsky.
E no Centro Cultural São Paulo (agora com novas e decentes instalações) acontecerá, entre 23 e 30.05, a Segunda Mostra ECOFALANTE, festival de documentários ecológicos. A programação ainda não foi divulgada, mas, a julgar-se pelo que foi o evento em sua edição de estreia, em 2012, podemos esperar um conjunto de filmes de primeira plana. São todos documentários inéditos no Brasil e o evento terá seis conferências (transmitidas via internet) com convidados brasileiros e internacionais.
Entre os títulos muito bons exibidos em 2012, no primeiro ECOFALANTE, estão: FOOD, INC., sobre a indústria da carne (lançado em DVD nos EUA); BAG IT! , discussão em torno da poluição causada pelos plásticos; O VENENO ESTÁ NA MESA, sobre o emprego dos agrotóxicos nas lavouras brasileiras; INTO ETERNITY, sobre o lixo atômico (lançado em DVD na França), LIFE FOR SALE, tenebroso retrato da privatização da água no Chile, e o curta RECIFE FRIO, do hoje aclamado Kleber Mendonça Filho (diretor de O SOM AO REDOR).
São três mostras de qualidade excepcional. Para quem encara o mundo, como dizia o velho Platão, como um ser político. E não para pessoas ciosas de suas respectivas imagens, como o Roberto Carlos. Tentemos quebrar o paradigma da terra de cegos com reis de um só olho (na música, na política, na escola…). Vamos todos para o cinema de arte e documentários!

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