Por Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares
Infelizmente a História é pródiga em registros sobre a barbárie praticada entre os homens. De Gengis Khan a Hitler cada época produziu seus genocidas, que, vistos à distância, parecem empenhados numa disputa sobre quem é capaz de praticar as maiores atrocidades.
O mundo ficou estarrecido com a experiência do Holocausto e os requintes de crueldade executados pela máquina de guerra nazista. A morte transformou-se numa indústria e os prisioneiros foram transformados em cobaias para experiências químicas, médicas, farmacêuticas, e os restos mortais das vítimas usados como matéria-prima para a produção de produtos comercializados, como os cabelos usados na produção de sabão ou a pele empregada na confecção de cúpulas de abajur.
Mais recentemente, entre 1975 e 1979, muitas dessas atrocidades foram ressuscitadas pelo regime comunista do Khmer Vermelho no Camboja. Em plena Guerra Fria e na esteira dos acontecimentos do Vietnã,o Camboja vivenciou uma guerra civil. Polt Pot, líder do Khmer Vermelho, queria impedir uma vitória das forças americanas que atuavam no Vietnã. E levou ao radicalismo mais extremo a cartilha comunista da criação de um novo homem.
As cidades foram esvaziadas, as instituições – a Família, a Igreja, o Direito, foram todas eliminadas. O comércio, a propriedade e a moeda foram abolidos. Restou apenas o regime de partido único coordenado pela Angkar (a Organização). Foram criadas 196 prisões no país e cerca de 2 milhões de pessoas (um quarto da população do Camboja) foram executadas. A palavra de ordem era destruição. Os suspeitos de serem inimigos do regime eram capturados, executados e a família jamais era informada sobre o corpo da vítima.
Entre os sobreviventes desse regime sanguinário está Rithy Panh. Sua família inteira sucumbiu ao genocídio. Ele conseguiu sobreviver, foi acolhido num campo de refugiados na Tailândia e aos quinze anos chegou a Paris. Hoje é o mais importante diretor de cinema (ficção e documentários) cambojano e este ano foi agraciado com o prêmio Um certo Olhar no Festival de Cannes pelo filme A IMAGEM QUE FALTA.
Até o dia 17.11.13 o Centro Cultural Banco do Brasil promove uma retrospectiva (a primeira no Brasil) completa de todos os filmes dirigidos e produzidos por Rithy Panh. Entre os títulos imperdíveis estão S-21 A MÁQUINA DE MORTE DO KHMER VERMELHO (S-21 foi a mais importante prisão durante o regime) e o perturbador DUCH, O MESTRE DAS FORJAS DO INFERNO. Duc é o cognome de Kaing Guek Eav, professor de matemática na década de 60, e que se tornou treinador de torturadores e administrador da prisão S-21, onde foram executadas, sob suas ordens, 12.380 pessoas. Foi o único dos lídereres do Khmer Vermelho levado a julgamento e desde 2009 cumpre sua pena de 35 anos.
O Centro Cultural Banco do Brasil situa-se na rua Álvares Penteado, 112 – Centro. Os ingressos custam 2,00 e quem assiste a pelo menos três filmes recebe um livro-catálogo de 300 páginas com textos raros e inéditos no Brasil sobre o cinema de Rithy Panh.
Para ler outros textos do Professor Veronese, acesse blog CPV (link Dicas Culturais do Verô)