Por Cézar Veronese, professor do CPV Vestibulares
Quando pensamos em conquistas de direitos humanos, ideias, arte e pensamento de vanguarda, um dos primeiros países que nos vêm à mente é a França. Ninguém precisa ser francófilo para admitir que em nenhum outro país do mundo se valorizou tanto a filosofia, a literatura e a arte como na França. E nenhuma cidade conviveu com mais artistas, escritores e pensadores do que Paris. Não por que os franceses sejam mais inteligentes ou criativos, mas pelo fato de Paris ter acolhido mais refugiados, especialmente no século XX, do que qualquer outra cidade. Esse é o tema, aliás, de uma belíssima crônica, “Exilados”, compilada no mais recente livro de Luís Fernando Veríssimo, DIÁLOGOS IMPOSSÍVEIS.
Não à toa existe o estereótipo do francês culto, com um livro debaixo do braço e pronto a discutir a última teoria da moda. Por isso espanta saber que, enquanto vários países aprovaram nos últimos anos leis reconhecendo casamentos entre pessoas do mesmo sexo, a França barrou recentemente a legitimação do casamento gay e a adoção de crianças por parte de cônjuges do mesmo sexo.O que estaria por trás dessa decisão conservadora?
A questão é mais complexa e tem outros desdobramentos. Considerando-se a problemática realidade da imigração (legal ou ilegal), o que está em jogo é a aristocracia do sangue. A França é o estado europeu mais antigo, suas fronteiras são praticamente as mesmas há 700 anos e a vida nas aldeias pouco mudou nos últimos séculos. Há a tecnologia, a televisão e a internete. Mas as tradições são muito fortes e cada vez mais, como de resto em outros países europeus, são invocadas em nome da preservação do país. Em outras palavras, quem fala é o nacionalismo (ou chauvinismo) com ecos à la Jean-Marie Le Pen. Em nome dele, se pensa a economia, os empregos, os imigrantes e as uniões amorosas.
A problemática pode ser um ótimo ponto de partida para pensarmos a ideia de liberdade na pós modernidade. A propósito, está em cartaz em São Paulo um filme francês intitulado DEPOIS DE MAIO. Ambientado na Paris dos anos 70 e conduzido pela ação das brigadas estudantis, o longa acompanha as lutas, contradições e, sobretudo, as reivindicações por liberdade daquela geração. Mas é curioso constatar que, num contexto de tanta luta libertária, não há nenhum casal do mesmo sexo. O fio condutor da história é, pela enésima vez, um casalzinho hippie com cabelos longos, roupas coloridas e espírito contestador (?).
E a liberdade sexual no Brasil? O que podemos dizer sobre ela quando representantes das bancadas evangélicas realizam projetos de lei estipulando o tipo de calcinha que a mulher deve usar no dia do casamento?