Lean Startup para Gestão de Incertezas

Por Fabiano Rodrigues

Startups são objetos de desejo em nossa sociedade, muito pela intensidade do upside risk potencial (com downside risks também elevados!) e pelo impacto de modelos de negócios disruptivos na conexão entre ofertas e demandas. Startups desafiam empresas, indústrias e cadeias de valor tradicionais a repensarem seus modos de inovação para se manterem relevantes.

 Vemos um número crescente de unicórnios, ou seja, startups com valor de mercado acima de um bilhão de dólares. Em dezembro de 2020, 506 startups estavam neste time, com valuation acumulado de aproximadamente US$ 1.6 trilhões de dólares (CB Insights, 2020). Por outro lado, o cenário das startups é extremamente competitivo, mais de 90% das startups falham e menos de 1% se tornam unicórnios (Profitfromtech, 2020).

Startups são organizações temporárias usadas para procurar um modelo de negócios repetível e com alta escalabilidade (Blank, 2013). Esta busca por modelos de sucesso é bastante volátil, tanto para os empreendedores como para os investidores. Afinal, startups são instituições humanas desenhadas para entregar um novo produto ou serviço sob condições de extrema incerteza (Ries, 2012). As incertezas são múltiplas, de natureza tecnológica, financeira, mercadológica, macroeconômica, de encaixe entre a oferta criada e necessidade dos consumidores, de condições e forma de gerenciamento, entre outras.

 Como administrar organizações e inovações envoltas por tantas incertezas? Incertezas e mudanças sempre existiram, não é um fenômeno exclusivo dos dias atuais. O que muda é a velocidade das mudanças, derivada da natureza exponencial na capacidade de armazenamento, processamento e comunicação de dados. 

Eric Ries, em livro publicado em 2011, popularizou o termo Lean Startup, ou startup enxuta, como uma forma de administração para a criação de valor sob condições de altas incertezas, uma abordagem para criar inovações de forma contínua, seja para startups como para empresas tradicionais. Conceitos raramente são formulados no vácuo, possuem origem e evoluem a partir de ideias existentes. Como já dizia Lavoisier, “nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”. 

A jornada da abordagem lean origina-se após a segunda guerra mundial, com destaque para as contribuições do engenheiro de produção Taiichi Ohno, precursor do Modelo Toyota de Manufatura (Womack, Jones, & Roos, 1992). O conceito de Customer Development, desenvolvido no início dos anos 2000, pelo professor de Stanford, consultor e investidor Steve Blank, foi importante ingrediente na jornada do movimento lean voltado a startups. A mentalidade enxuta também se apropria da lógica Agile oriunda da área de engenharia de software. O próprio Steve Blank descreve Lean Startup como Customer Developmentacrescido de Agile para potencializar a construção e entrega de produtos de forma incremental e mais rápida, por meio de metodologias ágeis.

O mantra de uma startup é buscar um modelo de negócio repetível e escalável. Assim, mais do que métricas financeiras no curto prazo, busca-se validar premissas e hipóteses, de valor e crescimento. A abordagem enxuta ajuda neste processo por meio de ciclos curtos de feedback e pela busca do menor desperdício na geração de inovações, produtos e serviços. Para startups, são considerados desperdícios ações que não gerem aprendizado.

Outra chave na abordagem lean consiste na rodagem sistemática do ciclo Construir-Medir-Aprender (C-M-A). A aceleração deste ciclo na rotina das startups objetiva aprendizado rápido e iterativo sobre o que funciona (ou não) para seus clientes Experimentos são criados, resultados são mensurados e hipóteses são aceitas ou refutadas, gerando-se um conjunto de pistas sobre a evolução do negócio a cada ciclo C-M-A.

A abordagem privilegia experimentação em relação ao planejamento formal de longo prazo, feedback constante dos consumidores ao invés da intuição (mentalidade data-driven) e mais design iterativo do que projetos tradicionais. Assim, o pensamento estratégico e científico são pilares fundamentais para inovações, seja na modelagem inicial do negócio/ inovação como na formulação de hipóteses e experimentos que gerem aprendizado rápido.  Pensamento estratégico pressupõe uma visão criativa, divergente e inovadora de antecipação ou mesmo criação de futuros. Pensamento científico possibilita aprendizagem válida sobre alavancas de valor e crescimento na jornada da inovação pelos ciclos C-M-A!

A Gestão de Incertezas é o desafio central de gestores e empreendedores que almejam criar negócios de alto impacto ou inovações mais radicais. Em sua essência, a abordagem Lean admite que o futuro é incerto, estabelece experimentos iterativos que aproximam e descortinam incertezas para aumentar o upside risk e reduzir o downside risk pela união do pensamento estratégico e científico.

Para saber mais:

Blank, S. (2013). The Four Steps to the Epiphany: successful strategies for products that win. 5th ed. Pescadero: K&S Ranch Press.

CB Insights. (2020). The Complete List of Unicorn Companies. Recuperado de: https://www.cbinsights.com/research-unicorn-companies. Acesso em 10/dez/2020.

Graetz, F. (2002). Strategic thinking versus strategic planning: towards understanding the complementarities. Management decision, 40(5/6), 456-462.

Kosterich, A., & Weber, M. S. (2018). Starting up the News: The Impact of Venture Capital on the Digital News Media Ecosystem. International Journal on Media Management, 20(4), 239–262.

Profitfromtech (2020). The Ultimate List of Startup Statistics for 2020. Recuperado de: https://www.profitfromtech.com/startup-statistics/. Acesso em 01/out/2020.

Ries, E. (2012). A Startup Enxuta. 1ª ed. São Paulo: Leya.

Womack, J. P., Jones, D. T., & Roos, D.; (1992). A Máquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro: Campus.

Comentários estão desabilitados para essa publicação