Já murchaste tua festa, pá?

Por Pedro de Santi

No último dia 7 de setembro aconteceram manifestações por muitas capitais e grandes cidades do país. Ao longo dos últimos meses, foi anunciado que as grandes manifestações de junho teriam agora uma sequência e, mais que isto, uma ampliação. Um grande aparato de segurança policial foi mobilizado, em prevenção ao risco de violência.

O que se viu foi difícil de dimensionar e analisar. Embora tenha havido manifestações e reação policial, visivelmente a quantidade de pessoas que saíram às ruas foi muito menor que do todos esperavam.

Em julho, centrais sindicais convocaram uma greve geral que, ainda que tenha conseguido bloquear algumas rodovias e avenidas, não mobilizou muita gente. Pior do que isto, na Avenida Paulista foram flagrados manifestantes sendo remunerados para fazer volume. Para minimizar o relativo fiasco, os organizadores anunciaram que se tratava apenas de um anúncio da grande mobilização que deveria ter se dado no dia 7.

Parece muito claro que houve um pico de mobilização no mês de junho que já arrefeceu. Algo muito interessante e vitalizado aconteceu e ninguém chegou a realmente entender porque veio e o porque se esvaziou. Ou se voltará.

Parece também muito claro que determinadas instituições partidárias ou sindicais procuraram retomar a liderança que pretendem possuir sobre a mobilização popular. E é ostensiva a recusa dos manifestantes em se deixarem encampar como “massa de manobra” ou “inocentes úteis”.

Em contrapartida, daquele caldo informe de junho apenas um grupo parece ter conseguido ganhar nome e forma: os Blackblocs. Nas manifestações, foram surgindo pequenos grupos que se separavam do grupo maior e partiam para o confronto com a polícia e a destruição de bens públicos, bancas de jornal ou agências bancárias. No dia 7, foram eles que conduziram as manifestações mais volumosas e noticiadas. Eles foram os protagonistas.

Talvez eles tenham conseguido catalisar a insatisfação geral, mas talvez eles tenham sua força no fato de produzirem cenas de violência e repressão policial.

Ao menos em São Paulo, as manifestações de junho ganharam força e expressão após uma quinta-feira negra na qual a polícia abusou da violência com o uso de balas de borracha. Até aquele dia, a polícia procurava restringir a ocupação de pistas e de determinadas vias públicas. Depois daquele dia, houve grande adesão popular ao movimento e, por sua vez, as forças policiais se mostraram “mais inteligentes”. Desde então as manifestações se movem com relativa liberdade pela cidade e qualquer grupo de médio porte consegue interditar vias. Isto chegou a tal ponto que a população da cidade já se mostra exausta por ter sua movimentação pela cidade- já tão difícil- ficar a mercê de qualquer manifestação.

Na medida em que as manifestações deixaram de enfrentar barreiras, elas parecem ter perdido sua potência e seu tônus.

Se isto fizer algum sentido, o sucesso dos Blackblocs estaria justamente na capacidade de provocar a reação policial, produzindo violência retroalimentada e farto material visual para as mídias de notícia. Mas sua ação é vazia de conteúdo ou proposição. À despeito de alguns portarem bandeiras anarquistas, seus meios e fins soam mais próximos aos dos skinheads neonazistas dos anos 80.

Então, as belas manifestações de junho teriam perdido seu frescor de re-politização dos jovens e estariam ganhando a forma de um elogio apolítico à violência. Os milhares de jovens que quiseram ter uma experiência coletiva e sonhar um país melhor teriam se recolhido das ruas, por hora. Até para não serem massa de manobra dos Blackblocs.

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