Marcelo Chiavone Pontes
As escolas de samba surgem no Rio de Janeiro, no final dos anos 20. O termo “Escola” é fundamental para entendermos a cultura existente nestas agremiações – seus integrantes se intitulavam “Escola” porque consideravam os locais dos seus encontros um lugar onde o aprendizado era compartilhado.
Fazendo uma analogia com o universo empresarial, podemos dizer que a Escola de Samba é uma grande “Fábrica de Emoções”. Por trás de um desfile existe toda uma estrutura complexa, semelhante a uma linha de produção, cujo objetivo final é entregar um show de emoção, encantamento e alegria.
Para isso, o trabalho é feito durante o ano inteiro, gerando empregos, criando processos, desenvolvendo a criatividade, gerenciando verbas e tempo, e administrando uma enorme quantidade de pessoas, com culturas, formações, objetivos e responsabilidades bastante diferentes. Para que isso seja feito com eficiência, alguns pontos merecem destaque:
a) Satisfação do cliente
Uma Escola de Samba tem diferentes públicos, claramente identificados: seu produto principal, a emoção, deve ser entregue não apenas para o folião, mas também para as pessoas que pagaram ingresso no sambódromo, com a expectativa de ver um espetáculo exuberante, e para o público que fica em casa, assistindo pela televisão, gerando audiência e, como consequência, garantindo a verba de transmissão para o próximo ano.
A satisfação destes clientes parece estar sendo muito bem feita. Em 2018, todas as escolas desfilaram praticamente com sua capacidade máxima de foliões, o que significa que todas as fantasias foram vendidas. Os sambódromos estavam lotados, e a transmissão pela TV foi vista, só no Brasil, por mais de 30 milhões de pessoas. A quase totalidade das pessoas que desfilam sai da avenida satisfeita, recomendando a experiência para os amigos e familiares, e voltando no ano seguinte. Isto é exemplo claro de manutenção de clientes e comunicação boca-a-boca na sua essência.
b) Generosidade
Um desfile não é formado apenas pelos destaques, celebridades e carros alegóricos deslumbrantes. É bom lembrar que, para que um carro alegórico se movimente na avenida, existem várias pessoas trabalhando dentro dele – pessoas que não veem o desfile, e não aparecem para a audiência. É lugar comum dizer da importância do trabalho em equipe em qualquer organização, e é difícil imaginar um trabalho em equipe com bons resultados sem um mínimo de generosidade entre seus membros.
c) Atenção dos detalhes
Para se colocar na avenida desfiles maravilhosos são necessários meses de trabalho, e todo esse trabalho tem pouco mais de uma hora para ser apresentado. Qualquer erro cometido pode ser fatal na hora da apuração, e não existe uma segunda oportunidade. A disputa é cada vez mais competitiva, e exatamente por isso que cada detalhe é fundamental. Sozinhos, esses detalhes passariam despercebidos mas, no conjunto, é o que faz uma Escola ser melhor ou pior.
d) Senso de propriedade
É comum ouvirmos que as pessoas devem “vestir a camisa da organização”. Na Escola de Samba isso é feito com naturalidade, e fica claro quando ouvimos alguém dizer: “Hoje tem ensaio na minha Escola”.
De nada adianta desfile com milhares de efeitos especiais e fantasias luxuosas, porque o que efetivamente ganha o carnaval são as pessoas. A maioria dos quesitos de julgamento dependem fundamentalmente dos integrantes.
Por isso a importância dos símbolos, histórias e rituais. Quando vemos integrantes da Escola abrindo caminho para a Velha-Guarda, numa atitude de agradecimento com quem ajudou a construir a Escola, ou quando vemos pessoas reverenciando o pavilhão da Escola, beijando a bandeira, podemos ter a certeza de que ali tem alguém absolutamente comprometido.
e) Trabalho em equipe
O trabalho em equipe é o mais evidente ponto que se observa quando se compara a gestão de uma Escola de Samba com uma corporação. Mas, mesmo assim, merece uma reflexão importante, pois este é o eixo fundamental que faz com que as Escolas de Samba consigam desenvolver seu trabalho.
Numa Escola de Samba todos querem desfilar bem e ganhar o carnaval. É por isso que, na hora do desfile, ninguém precisa pedir para o outro caprichar, porque o engajamento com a Escola é, por si só, suficiente para que as pessoas façam o seu melhor.
Esta forma de gestão, que todos os anos nos brinda com um espetáculo maravilhoso, não é obra do acaso. Ao contrário, é fruto do trabalho incansável de inúmeras pessoas que, trabalhando em equipe, conseguem criar o maior espetáculo da terra. O aparente caos que se verifica nos ensaios é, na verdade, uma “re-ordem”, muito mais adequado a um ambiente cada dia mais complexo, caótico, e sempre muito criativo.
Essa conjunção mágica de canto, dança e ritmo, como afirma o consultor Renato Bernhoeft, “é uma experiência digna de ser olhada por nossos acadêmicos, consultores, executivos e empresas, com maior interesse e menor preconceito.”