Empreendedorismo entre jovens universitários: resultados de duas pesquisas recentes

Rose Mary Lopes

Gestores e professores universitários constatam que cada vez mais os nossos jovens universitários de graduação e de pós-graduação se interessam pelo empreendedorismo e que, ao longo dos últimos anos, tem crescido a proporção daqueles que já são empreendedores ou tem intenção de empreender logo ou depois de se formar.

Duas grandes pesquisas têm sido feitas para levantar como o empreendedorismo é percebido pelos universitários, quantos deles já se encabeçam negócios ou estão ativamente tomando os primeiros passos para criar um, como percebem seu preparo e competência, as oportunidades de fazer disciplinas ou atividades na área e o ambiente das faculdades e universidades para o empreendedorismo.

Uma delas, na segunda edição no Brasil, é o Estudo GUESSS – Global University Entrepreneurial Spirit Students’ Survey – ligado a um consórcio internacional liderado pela University St. Gallen, iniciado em 2003, e que no ano de 2014 envolveu 34 países. O Relatório do Estudo GUESSS Brasil 2013-2014 já está disponível na internet.

A outra, já na terceira edição, é realizada pela ENDEAVOR e pelo Sebrae. É denominada Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras 2014 – Resultados Quantitativos. Também está disponibilizada na internet.

Vale a pena verificar o que estes estudos apontam quanto ao avanço tanto do envolvimento ativo com o empreendedorismo, quanto da intenção e como nossos jovens têm sido preparados ou não para isto.

Ambas pesquisas conseguiram coletar amostras grandes, cobrindo as diversas regiões do país. O Estudo GUESSS Brasil obteve respostas de 12.561 estudantes, em 80 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo que, 66,6% dos estudantes eram de instituições públicas. Bastante jovens, com média de idade de 24 anos (mesmo tendo 5,1% de respondentes no Mestrado).

Na pesquisa Endeavor-Sebrae a amostra foi de 4.911 estudantes, em 70 IES, sendo apenas 27% públicas. Ou seja, o fato de ter 73% dos universitários em IES privadas deverá ser levado em comparação dos resultados. A concentração dos respondentes – 37,2% – ficou na faixa de 18 a 24 anos, e 8% estavam na pós-graduação.

Os resultados quanto à proporção de jovens que já são donos do próprio negócio no GUESSS mostraram 5,7% (713 estudantes), ao passo que no estudo da Endeavor-Sebrae esta proporção era maior 11,2%, tendo aumentado em relação a 2012, quando o percentual era de 8,1%. E que 12,3% já tinha empreendido anteriormente.

A maior proporção de alunos empreendedores neste segundo estudo é favorecida pelo fato da amostra ter mais alunos de IES privadas, e no relatório constatam que quanto maior a renda familiar do aluno, maior é o número de alunos já empreendedores.

Quanto à intenção de empreender o GUESSS encontrou que logo ao se formar 7,9% dos jovens pretende fundar seu próprio negócio, percentual que cresce bastante no horizonte de cinco anos após a formatura: 33,5% (ambos percentuais estão acima da amostra internacional). Ou seja, parecem desejar angariar experiência antes de se iniciar na carreira empreendedora.

O relatório da Endeavor-Sebrae encontrou percentual maior 57,9% pensa fundar um negócio no futuro, sendo que 60% deles quer iniciar o negócio num horizonte de tempo mais curto – de até três anos.

Nos dois estudos as áreas de Administração, Ciências Naturais (incluídas as Engenharias e Ciências Exatas) e TI são aquelas onde se encontram maior interesse em empreender. Ciências Sociais, Letras e Artes, e Saúde são as que mostram menor percentual de intenção da carreira empreendedora.

Menor interesse e força da intenção de empreender entre as mulheres foram captados nas duas pesquisas. No estudo GUESS predominaram as mulheres (55%), e mesmo assim, verificou-se menor proporção delas desejando ingressar na carreira do empreendedorismo.

Em termos de disciplinas de empreendedorismo o estudo GUESSS informa que 30% frequentou um curso obrigatório e 12% um curso optativo (geralmente são introdutórios). Endeavor e Sebrae constatam que entre 51% a 55% cursou disciplina de empreendedorismo, portanto mais do que no GUESSS. Novamente pode ser pela predominância de IES privadas no segundo estudo.

Os alunos, no geral, tendem a se avaliar positivamente quanto a sua capacitação para empreender. No caso do GUESSS se evidenciou que se avaliam melhor preparados do que seus pares internacionais. Como ainda há grande proporção de alunos que não teve acesso à educação ou experiência empreendedoras, bem como atividades práticas, parece haver espaço para mais oferta e melhoria dos nossos jovens para empreender.

Ainda mais que a maioria dos potenciais empreendedores ou dos empreendedores ativos nos dois estudos possui ou contempla pequenos negócios, pouco inovadores, com pouca intenção de crescimento. Há muito que fazer para estimular e capacitar nossos jovens (sobretudo as mulheres) para empreender negócios realmente inovadores e de alto impacto na sociedade e no desenvolvimento econômico.

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