Edmir Kuazaqui
Em 2010 fui entrevistado pelo Diário do Comércio e Indústria (DCI) a respeito do governo brasileiro em autorizar a importação de noventa e cinco produtos com isenções fiscais – os chamados “ex-tarifários”. Naquela época, com outra Copa a ser realizada, utilizei o termo “desindustrialização” na qual a repórter achou estranho, pois não era uma palavra usual. Infelizmente, neste ano de 2014 o referido termo não é mais estranho e já passou a fazer parte do nosso vocabulário cotidiano, trazendo uma série de impactos na saúde do país. Prova disso é a atual utilização de “recessão técnica”, termo atenuante que confirma o aprofundamento da crise econômica e industrial que o atual governo proporcionou e consolidou nos últimos anos.
Na semana passada, interpretei a Balança Comercial Brasileira com os alunos de Marketing Internacional, indicando erros e omissões na conduta da política de comércio exterior brasileiro e, coincidentemente nesta semana, discutir as razões da desindustrialização e seus efeitos nas estratégias de marketing internacional das empresas.
A situação é simples: em síntese, com o custo país cada vez pior e a perda de credibilidade do governo federal, a já citada falta de política externa e mercados internacionais cada vez mais competitivos, as empresas mudaram suas estratégias e passaram, em grande parte, a adquirir mais bens para serem comercializados no mercado interno. Com isso, empresas deixam de produzir, investir no país e gerar empregos e impostos, tornando-se, em muitos casos, simples revendedores, ao invés de produtores.
Nesses casos de importação, o governo pode intervir, porém faltará produtos no mercado interno, pois a classe C cresceu consideravelmente nos últimos anos e as empresas não consideram estratégico a imobilização em ativos físicos bem como a expansão de seu parque industrial no país. Como consequência, a inflação aumentará onerando a economia e a sociedade brasileira.
Estagnação, recessão econômica ou recessão técnica?
Comparando somente com alguns emergentes, não importa a nomenclatura utilizada, pois o fato é que a economia brasileira, nos dois primeiros trimestres deste ano, indica uma retração de 0,8, frente a crescimentos de 0,8 da Rússia, 5,7 da índia, 7,5 da China e 1,0 da África do Sul. Segundo o governo, o resultado foi decorrente dos inúmeros feriados da Copa do Mundo e do mercado internacional. Nenhuma das justificativas não tem mais nenhuma base, pois mostra a nossa falta de capacidade frente aos outros países.
Como há quase doze anos estamos nos deparando com as ações do governo que levaram o país a esta situação, percebe-se a falta de aplicabilidade das teorias econômicas ou mesmo do bom senso. A expansão das despesas públicas, o aumento do consumo interno, a diminuição da poupança interna, o aumento do custo país, a diminuição de investimentos estrangeiros e a falta de credibilidade por parte dos empresários tornam a situação impossível de ser revertida no curto prazo. E nada esta se fazendo para melhorar no médio e longo prazo.
De um lado então, a solução esta mais uma vez no lado das empresas, responsáveis pelo desenvolvimento e comercialização de produtos, serviços e ideias. E de outro, das pessoas que conseguem compreender mais do que algumas pessoas falam e conseguindo realizar mais.