Consumo econômico, consciente e ideológico

Edmir Kuazaqui

Todo bom profissional que lida com estratégia empresarial preconiza que as empresas devem atender, da melhor maneira possível, o seu mercado consumidor, sempre tendo em vista a necessidade de tornar os negócios longevos e contribuir econômica e socialmente para as comunidades em que se inserem. Esse atendimento deve estar de acordo com as políticas e normas éticas e morais, dentro dos limites pessoais e corporativos.

Entretanto, o consumo de produtos e serviços está diretamente atrelado às necessidades individuais. Maslow mostrou que os indivíduos têm uma hierarquia de necessidades, as quais conduzem a desejos e respectivo consumo. Esse consumo pode ser limitado pelas variáveis macroambientais, dentre elas a econômica, em que a restrição ocorre pela redução do poder de compra do mercado. Mas o indivíduo pode ter motivações que o levem a consumir, mesmo sem poder aquisitivo para tal. Como exemplo, muitos jovens adquirem marcas de calçados (tênis) bem mais caras do que podem comprar, se sujeitando a pequenos sacrifícios mensais para consumar a aquisição de seu objeto de desejo, pagando-o em prestações.

Mas o consumo pode ser também consciente, quando o consumidor escolhe o que deseja adquirir, levando em consideração fatores pessoais baseados num senso de valor, relacionado a questões ambientais, de saúde ou políticas, por exemplo. Recentemente, tem-se notado também a presença de consumidores que diminuíram seu consumo não por restrições econômicas, mas no sentido de protestar contra a atual política que permeia a nação, manifestando sua insatisfação de forma indireta.

Essa situação não se refere somente ao consumidor pessoa física. Mesmo sem efetuar uma pesquisa qualitativa, mas a partir da identificação de percepções de empresários, é possível dizer que, além das restrições econômicas, o consumo e a produção estão sendo freados também por ações permeadas por certa ideologia que visa ao enfrentamento da crise no país. Essas ações objetivam a diminuição do consumo de matérias-primas e consequentemente da produção, reduzindo a atividade econômica das empresas, como forma de protesto contra a atual situação política e principalmente econômica que o país enfrenta.

O discurso não é direto, mas é claro nas argumentações no decorrer da tomada de decisão dos cortes orçamentários das empresas, na diminuição de postos de trabalho e mesmo na redução de programas sociais das organizações. Em síntese, sob o ponto de vista das empresas, significa a redução de custos e despesas para tornar as organizações mais enxutas, com outras alternativas para suprir o consumo interno por meio da diminuição da produção interna e substituição por meio da importação de bens semimanufaturados e manufaturados, por exemplo. Somente com esse pequeno exemplo, pode-se notar que a atividade econômica tende a diminuir, influenciando o poder de compra da sociedade, o recolhimento de impostos por parte do governo e a diminuição de investimentos que são de responsabilidade do governamental.

Esse protesto invisível mostra a importância do empresário consciente como agente transformador, que tem como objetivo maior a sustentabilidade e a longevidade de seu negócio, e que não precisa ir às ruas para manifestar suas insatisfações.

É notório o fato de que não cabe ao governo a produção, mas, sim, a gestão de recursos públicos e a criação de políticas que visem ao bem estar da sociedade. As empresas, por sua vez, têm o dever de gerar a base econômica que sustenta o social. Dessa forma, um dos problemas desse protesto do empresariado brasileiro é que seu reflexo se dará também no âmbito social, atingindo, sobretudo, as classes menos favorecidas.

A grande pergunta que se espera responder é: até quando esse modelo vai persistir e até que limite as pessoas e empresas podem suportar essa situação? Nos pacotes do governo deste ano, não há ações que visem à preservação dos direitos dos trabalhadores nem tampouco benefícios para a economia, mas, sim, a oneração principalmente da sociedade e do ambiente empresarial. O que se vê é a intensificação da quebra de braço.

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