A disputa pelo emprego muda muita coisa. Os assalariados do Japão estão dizendo adeus para a cultura do excesso de trabalho do país. E com apoio do governo, em especial do premiê Shinzo Abe, com mostrou matéria do Financial Times, assinada por Kana Inagaki, publicada pelo Valor , edição de 8/04, pg A13.
Os longos dias no escritório, seguidos de longas noites bebendo com colegas são tão típicos do Japão quanto o sushi e os mangás. Mas essa cultura é apontada como responsável por vários males que afligem o país, da baixa taxa de natalidade à fraca produtividade. E o mercado de trabalho apertado está mudando o equilíbrio do poder das empresas para o trabalhador.
Assim, rompendo com o passado, o Japão corporativo está transformando em virtude o que é prática normal em outras partes do mundo. A trading Itochu espera atrair profissionais com horários de entrada e saída mais cedo, enquanto a fabricante de impressoras Ricoh está proibindo o trabalho após as 20h. A Fast Retailing, operadora da rede de lojas de roupas Uniqlo, pretende implementar jornada de trabalho de quatro horas para funcionários interessados em ter um maior equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada.
“Mesmo trabalhando menos, vamos pagar mais para funcionários que apresentarem resultados melhores. Longas jornadas de trabalho não levam necessariamente a melhor desempenho”, diz Tadashi Yanai, CEO da Fast Retailing.
A fabricante de robôs Fanuc quer atrair funcionários para a sua “incômoda” sede aos pés do Monte Fuji ampliando o ginásio de esportes e construindo uma nova quadra de tênis e campo de baseball.
Os esforços das empresas para melhorar as condições de trabalho coincidem com o esforço do premiê Abe de dar uma chacoalhada no mercado de trabalho, visto como fundamental para seu plano de crescimento. E os servidores públicos também terão uma pausa.
A partir de outubro, os funcionários do Ministério da Saúde serão proibidos de trabalhar depois das 22h, depois que uma tentativa anterior de esvaziar os escritórios com o desligamento da iluminação fracassou. Na semana passada, o governo apresentou ainda projeto de lei que torna obrigatório para os trabalhadores tirar cinco dias de férias remuneradas por ano.
Tentativas anteriores do Japão de melhorar o ambiente de trabalho em geral falharam. O país ainda tem casos de “karoshi” (morte por excesso de trabalho) e muitos trabalhadores se sentem culpados quando vão para casa mais cedo.
No ano passado, os trabalhadores japoneses tiraram só metade das férias previstas em lei, ao contrário de franceses e alemães, que usaram tudo, diz a agência online de viagens Expedia. Só a Coreia do Sul fica atrás do Japão nesse item.
Há oposição a um elemento do projeto de lei que exige que altos cargos de certos setores sejam remunerados em razão do desempenho, e não das horas trabalhadas.
Hisashi Yamada, do Japan Research Institute, diz: “As mudanças nas grandes empresas têm sido lentas, mas a mentalidade dos jovens está mudando”.