“A Travessia” (Dir. Robert Zemeckis, EUA, 2015)

Eduardo Benzatti

Conversava certo dia com um colega de trabalho sobre viagens, lugares que conhecíamos em comum. Lá pelas tantas ele disse: “Mas, você não conhecerá nunca um lugar que eu visitei em NY?”. “Mas qual?” retruquei. “As Torres Gêmeas… eu conheci o World Trade Center”. “Fato” pensei eu. Final de semana passado eu não só conheci as Torres Gêmeas – ainda em fase de acabamento -, como também atravessei da Torre Norte para a Torre Sul andando sobre um cabo de aço na companhia de um louco chamado Philippe Petit (Joseph Gordon-Levitt). Sim essa é sensação que o espectador tem ao assistir “A Travessia” de Robert Zemeckis na versão 3d (acredito que o filme só foi lançado em 3d).

A história que termina com a tal façanha – que aconteceu de fato no início de agosto de 1974 -, se inicia ainda na infância desse francês que desafiou a morte outras vezes ainda – antes e depois desse acontecimento. De forma bastante linear sua vida é apresentada (ou melhor, contada pelo protagonista em flashback, do alto da Estátua da Liberdade) a partir da sua paixão pelo circo – onde se efetiva a sua formação de equilibrista e malabarista. No circo ainda encontrará um segundo pai – e mentor – um velho e experiente equilibrista interpretado por Ben Kingsley.

A sua obsessão por atravessar o então maior prédio do mundo contagiará sua namorada (Charlotte Le Bon) e um grupo de pessoas que mais parece um Exército de Brancaleone – franceses e americanos que irão embarcar na complexa operação de montagem dos cabos de aço no topo do WTC – reconstruído em detalhes que impressionam – considerando que o prédio estava ainda na fase final de sua construção.

A reconstituição de época – NY anos 70 – é centrada na paisagem da cidade vista do alto das Torres quando da sua inauguração. Ou seja, a viagem (computação gráfica) – que só o cinema pode nos proporcionar – pelo tempo, nos leva até uma NY de meados dos anos 70 vista do alto da sua maior ambição arquitetônica.

Mas é na segunda metade do filme – na preparação e ação de um plano meticulosamente elaborado – que o filme fica mais interessante. Como foi possível um grupo tão estranho (entre eles um assistente com medo de alturas!), driblar tantos obstáculos e colocar em prática a mais ousada travessia (por cabo de aço) ilegal do século passado?

Aí o diretor brinca com a verdade e com a inverdade – para o expectador pouco importa mesmo -, com acasos, sorte, retrocessos da ação, mas também com a perseverança e a colaboração dos amigos. E na hora combinada – com um pouco de atraso é verdade – lá estamos nós dando o primeiro passo junto com o herói – o mais extraordinário é que não satisfeito em atravessar de uma Torre para outra, Philippe Petit vai e volta mais duas vezes (!), deita sobre o cabo (!) e faz outros movimentos inacreditáveis.

As imagens são vertiginosas – potencializadas pelo 3d – e o filme cumpre muito bem a sua função de divertir e enganar nossos sentidos – você sabe que é só ilusão, você sabe que o francês conseguiu realizar a sua travessia, mas como não ficar angustiado com cada passo dele a 417 metros do chão? Ao final, entendemos que nem as grandes obras construídas pelo ser humano com concreto e ferro são “para sempre”, mas seus grandes feitos sim. Esses ficam na memória e na história.

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