A representação da mulher no cinema

O filme “Elena”, de Petra Costa era a referência para uma discussão entre cinema, literatura e arte plásticas. Mas, a terceira mesa da sessão de palestras do Outubro Rosa – ESPM, ontem, no auditório Victor Civita, com o professor João Carlos Gonçalves e a professora Regina Ferreira da Silva foi bem mais longe, porque o alvo era, de fato, discutir “Representação da mulher no cinema”. E o objetivo foi alcançado.

Segundo sinopse do site oficial da obra, Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar e deixa Petra, a irmã de 7 anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena. Tem apenas pistas: filmes caseiros, recortes de jornal, diários e cartas.

A todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas com uma blusa de seda. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos e acaba descobrindo Elena em um lugar inesperado. Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir.

Em sua análise, a professora Regina comentou como o discurso verbal, em suas várias manifestações, aparecem no filme e como isso ocorre em termos de intertextualidade e poética. “A Elena que vai aparecendo ao longo do filme é uma Elena totalmente diferente daquela que se imaginava no começo”, disse. E a personagem chega a esse entendimento a partir dos diários.

Porém, o diário é uma ficção? O diário é uma realidade? Na verdade, o diário fica no meio dessas duas instâncias e se constitui como um lugar próprio para que as pessoas construam um tipo de subjetividade. No filme, Petra é a leitora de seu próprio diário. Também é a intérprete do diário de sua irmã e o de sua mãe. Isto causa o diálogo entre a confusão e a separação dos traços das personagens na trama.

O professor João Carlos, por sua vez, trabalhou mais com uma análise audiovisual, contemplando a força da imagem e da construção dos elementos fílmicos. O som da narração, por exemplo, pode parecer comprometido à primeira vista, mas, comprova-se como um ato proposital da diretora ao contar a morte de sua irmã. “Ela como narradora é um sussurro. É como se ela estivesse, de alguma forma, dialogando com a irmã. E isto é colocado literalmente no texto: ‘Elena, você me escuta?’ É quase como um monólogo traçado com a irmã”, observou. O filme se materializa entre o produto do processo de luto e o próprio processo em si.

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