Veteranas da TV reagem na era do streaming

ViacomCBS e Discovery, empresas de TV com décadas de existência que foram descartadas por alguns investidores como muito lentas e pequenas para a era do streaming, deram a volta por cima no ano passado. 

As ações da ViacomCBS dispararam mais de 600% em relação a um ano antes, o que deu ao grupo um valor de mercado de US$ 60 bilhões, enquanto as ações da Discovery subiram mais de 250%, e a empresa chegou a valer US$ 32 bilhões na bolsa. 

Mesmo sendo uma empresa cuja origem remonta aos anos 1950, a ViacomCBS hoje tem ações negociadas a um múltiplo semelhante ao da Netflix – acima de 20 vezes seu lucro projetado para 2024, de acordo com uma pesquisa do Morgan Stanley. O índice S&P 500 está cotado a 18 vezes os lucros projetados para 2023. 

Já as ações da Disney mais do que dobraram em comparação com um ano atrás, o que elevou o valor de mercado do grupo para mais de US$ 350 bilhões. 

Mas nem a ViacomCBS nem a Discovery reinventaram a roda. A ViacomCBS tenta adaptar franquias de programas de TV populares para a era do streaming, com planos de relançar sucessos dos anos 1990, como Frasier, The Real World e Rugrats. A Discovery se inclina por nichos que têm uma longa história de sucesso na televisão tradicional, como os reality shows de reformas de casas, programas que canalizou para seu recém-lançado serviço de streaming, o Discovery Plus. 

O executivo-chefe da Discovery, David Zaslav, disse aos investidores no mês passado que os programas de TV mais populares da empresa poderiam ajudá-la em um mercado de streaming abarrotado. “Nós representamos 50% do que as pessoas assistem na TV e isso não está disponível em nenhum outro lugar”, afirmou. “E isso pode ser nosso caminho para o sucesso.” 

No último ano, os investidores recompensaram generosamente as empresas tradicionais de mídia por aderirem ao streaming com a oferta de serviços próprios diretamente ao consumidor. Isso sustentou o preço das ações da Disney, mesmo quando perdeu bilhões em receitas por causa de seus parques temáticos e dos cinemas vazios: hoje o serviço de streaming Disney Plus tem mais de 100 milhões de assinantes. 

Ainda assim, poucos previram um resultado similar para a ViacomCBS e a Discovery. Enquanto Netflix, YouTube e outros grupos de tecnologia ameaçavam seus negócios, Hollywood passou por uma consolidação nos últimos anos que deixou poucas megaempresas na liderança mundial da área de filmes e programas de TV. 

Isso levou alguns analistas a desprezarem grupos como a ViacomCBS, por considerá- los pequenos demais para competir. Inicialmente, até mesmo os próprios executivos da empresa evitaram a guerra de streaming, e seu executivo-chefe, Bob Bakish, posicionou a ViacomCBS como uma “traficante de armas” – que produzia programas e depois os vendia para a Netflix e serviços de streaming – em vez de competir. Desde então, ele mudou de ideia e este mês a ViacomCBS lançou seu serviço de streaming, o Paramount Plus. 

A Disney inaugurou em 2019 seu serviço homônimo, o que deu início a uma corrida enquanto os maiores grupos de Hollywood e do Vale do Silício buscavam garantir seu espaço no futuro do setor de entretenimento. Nos últimos anos, a AT&T, a Apple e a Comcast também lançaram serviços de streaming. 

Mas nem todos os grupos estão incluídos nessa recuperação. As ações da AT&T, dona da WarnerMedia, que no ano passado lançou o serviço de streaming HBO Max, caíram mais de 10% nos últimos 12 meses. 

Seu executivo-chefe, John Stankey, afirmou aos investidores na semana passada que o valor da empresa não se refletia no preço de suas ações. “Não estou feliz com isso. E eu acordo todos os dias pensando nisso”, disse. 

A Fox, por sua vez, não entrou no furor do streaming de forma tão agressiva quanto seus pares. Depois de vender grande parte da empresa para a Disney, o grupo de Murdoch hoje se resume principalmente a notícias e esportes, gêneros que ainda estão amarrados à TV tradicional porque precisam ser assistidos ao vivo. 

O grupo lançou um serviço de streaming por assinatura para a Fox News, chamado de Fox Nation, mas não divulgou o número de assinantes. A Fox também comprou a empresa de streaming Tubi, embora esse serviço dependa de publicidade e não de assinaturas. 

“Não queremos competir em um mundo de assinaturas de vídeos por demanda”, disse o executivo-chefe da Fox, Lachlan Murdoch, este mês. Para ele, os programas de notícias e esportes ainda vão “impulsionar os pacotes de TV a cabo por muito tempo”. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/03/17/veteranas-da-tv-reagem-na-era-do-streaming.ghtml

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