China faz uso de ‘coerção’, diz secretário dos EUA

Na primeira viagem externa de membros do Gabinete do presidente Joe Biden, os secretários de Estado e de Defesa americanos disseram que os EUA e o Japão fortalecerão medidas de dissuasão para barrar desafios da parte da China. 

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, usou uma coletiva ontem em Tóquio para descrever um longo rol de áreas em que há discordância entre Washington e Pequim, num ato simbólico de inauguração da diplomacia Biden no exterior. 

“A China usa coerção e agressão para corroer sistematicamente a autonomia de Hong Kong, minar a democracia em Taiwan, cometer abusos contra os direitos humanos em Xinjiang e no Tibet e fazer reivindicações marítimas sobre o Mar do Sul da China que infringem a legislação internacional”, disse Blinken. “Vamos resistir às coerções ou agressões da China.” 

A conversa sobre a China consumiu boa parte de uma reunião de 90 minutos com Blinken, disse o ministro das Relações Exteriores do Japão, Toshimitsu Motegi. 

Motegi disse que ambos os lados compartilharam preocupações com nova lei que permite que a guarda costeira chinesa faça uso de força militar para defender a soberania nacional. Tóquio teme que Pequim possa lançar mão da força para tomar ilhas no Mar do Sul da China que são controladas pelo Japão, mas reivindicadas pela China. 

O Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que os militares americanos têm de reagir aos rápidos avanços feitos por Pequim como força de combate nas últimas duas décadas. “Nosso objetivo é garantir a manutenção de uma vantagem competitiva sobre a China ou sobre qualquer outro país que queira nos ameaçar ou ameaçar nossa aliança”, disse ele. 

As autoridades americanas e japonesas não detalharam qualquer nova iniciativa, mas, no comunicado, Tóquio disse que reforçará sua defesa e os aliados disseram que formarão parcerias com outras democracias. Na sexta-feira Biden falou por vídeo com líderes de Índia, Austrália e Japão, que formam o Quad, que ganhou novo significado como contrapeso à China. 

Falando ontem antes do encerramento das reuniões em Tóquio, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que Pequim acredita que as consultas das autoridades americanas deveriam favorecer a paz e a estabilidade na região e que não deveriam ser direcionadas a quaisquer terceiros nem prejudicar os interesses de terceiros”. Pequim rechaçou as críticas americanas às suas políticas em Hong Kong e Xinjiang, classificando-as como questões internas. 

As visitas de Blinken e Austin a Tóquio e Seul nesta semana refletem o objetivo de Biden de construir um consenso sobre a China com aliados que são mais cautelosos em fazer frente a Pequim dados os laços econômicos com a China. 

O comércio do Japão com a China supera seu intercâmbio comercial com os EUA, e as empresas de tecnologia japonesas, principalmente as que fabricam robôs industriais, semicondutores e peças eletrônicas, dependem das vendas à China. Tóquio se preparava para receber o líder chinês, Xi Jinping, para visita de Estado em 2020, mas a pandemia abortou o plano. 

Além disso, há conflitos entre graduados membros do partido governista do Japão, que mantêm laços com a China, e políticos mais jovens, preocupados com a acelerada ascensão militar de Pequim, disse Mieko Nakabayashi, da Universidade Waseda em Tóquio. 

Recentemente o Japão intensificou as críticas à China, ao aderir a uma declaração do G- 7 que condenava iniciativas de Pequim contra a democracia em Hong Kong. 

Blinken e Austin também se reuniram ontem com o premiê japonês, Yoshihide Suga. Os membros do gabinete americano viajaram hoje para a Coreia do Sul. 

A Coreia do Sul tem sido cautelosa em não provocar a China, o principal mercado para suas exportações e um meio potencial de reatar relações com a Coreia do Norte. O país negou especulações de que poderia se tornar o quinto membro do Quad. O vice- ministro das Relações Exteriores sul-coreano disse que seu país não participaria de foros que impedissem o ingresso de determinado país. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/03/17/china-faz-uso-de-coercao-diz-secretario-dos-eua.ghtml

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