The Economist: Mudanças climáticas – O impacto dos investidores ecológicos

Os investimentos sustentáveis estão na linha de tiro, como dois eventos recentes demonstraram. Na semana passada, a diretoria da Danone, uma produtora de alimentos francesa, demitiu seu diretor executivo, Emmanuel Faber, que há muito defendia os benefícios do capitalismo responsável e da sustentabilidade. Acionistas estavam infelizes com a estagnação do preço das ações da empresa.

No dia seguinte, o USA Today publicou um editorial de Tariq Fancy, ex-diretor de sustentabilidade da BlackRock, a maior administradora de ativos do mundo, que afirma colocar as mudanças climáticas no centro de sua estratégia de investimentos. Fancy qualificou os investimentos que levam em conta os fatores ESG (environmental, social and governance – ou ambiental, social e de governança) como “pouco mais que uma moda de marketing, uma invenção de relações públicas ou uma promessa falsa”. Ele ressaltou que há fundos ESG que investem em grandes poluidores, como petrolíferas (a BlackRock afirmou discordar das alegações dele).

Um argumento em defesa da manutenção de ações de empresas poluidoras no portfólio diz que essa é a única maneira de confrontar essas empresas e fazê-las mudar. De acordo com essa lógica, o desinvestimento somente elevaria os custos de capital dos poluidores, o que tornaria os gastos com projetos de sequestro de carbono menos prováveis. Esse é o pensamento por trás da Climate Action 100+ (CA100+), um grupo global de investimento engajado. Fundada em 2017, a iniciativa conta atualmente com 575 membros, que juntos controlam mais de US$ 50 trilhões em ativos. O grupo inclui donos de ativos, como o Fundo de Investimentos de Pensões do Governo do Japão, e também administradores de ativos.

Até agora, a CA100+ tem pedido às empresas principalmente três coisas: estabelecer metas de descarbonização, divulgar seu risco climático e melhorar sua governança desses riscos. Inicialmente, os investidores CA100+ centraram seus esforço nas 100 empresas publicamente listadas como as maiores poluidoras (razão do número 100 na sigla). A maioria das companhias é de gigantes do petróleo, dos serviços públicos ou da indústria. O grupo adicionou a essa lista cerca de 60 firmas (razão do sinal + na sigla). Esta semana, a CA100+ anunciou uma série de critérios, como investimentos em capital ecológico, que serão usados para julgar o progresso das empresas.

A CA100+ já acumula alguns sucessos. Em fevereiro, a petrolífera anglo-holandesa Shell anunciou que reduzirá a zero o total de emissões de suas atividades e de todos os seus produtos até 2050. A CA100+ reivindicou grande parte do crédito por isso, assim como pelas promessas similares feitas pela BP e pela Total, outras duas petrolíferas.

Mas é difícil distinguir o impacto da CA100+ de mudanças que teriam ocorrido de qualquer maneira. Promessas ecológicas feitas por empresas aparecem com consistência e rapidez. Desde 2018, o número de firmas que se comprometeram a estabelecer metas de redução de emissões de acordo com a Science-Based Targets Initiative (SBTI) [Iniciativa por Metas com Base na Ciência], um consórcio de ONGs que certifica o rigor dos compromissos ambientais, subiu de 216 para mais de 1.250. Enquanto isso, o número de empresas que se comprometeram a revelar dados seguindo as recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) [Força-Tarefa para Informações Financeiras Relacionadas ao Clima], um índice padronizado de risco climático usado por agências reguladoras e investidores, foi de 580 para 1.884.

Para medir o verdadeiro efeito da CA100+, a reportagem criou um portfólio de aproximadamente 100 empresas consideradas grandes poluidoras que não estão engajadas com o grupo de investidores. As atividades das firmas do portfólio são similares às da lista da CA100+ em termos de setores e regiões representadas. Julgado por dois critérios, transparência do risco climático e estabelecimento de metas, o impacto das empresas engajadas com a CA100+ parece modesto. Cerca de 30% das firmas da CA100+ aderiram à SBTI, contra cerca de 25% no nosso portfólio. E aproximadamente 40% das empresas CA100+ aderiram à TCFD, em comparação a cerca de 30% no grupo de controle.

Em ambos os grupos, as firmas que estabeleceram metas ecológicas tendem a poluir menos. Entre as empresas CA100+, as que estabeleceram metas representam cerca de um terço do seu valor de mercado total, mas somente um quinto da pegada de carbono delas. Em contraste, quase a metade das firmas de bens de consumo da CA100+, como Unilever e Procter & Gamble, estabeleceram metas.

Defensores da CA100+ afirmam que ainda levará tempo até que os benefícios do grupo fiquem evidentes. O grupo serve de exemplo para todo o mercado, argumenta Stephanie Pfeifer, diretora da CA100+, afirmando que algumas empresas de fora do foco do grupo sentirão a pressão da CA100+ e começarão a agir. Ainda assim, a pressão do grupo de investidores de US$ 50 trilhões não parece estar resultando em muita mudança.

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