A Índia encerrou a maior eleição da história da democracia e reelegeu o popular e nacionalista premiê Narendra Modi. A maneira como ele vai usar o mandato de cinco anos vai reverberar pelo mundo, pois a Índia desempenha hoje um papel mais importante na economia mundial e também devido à delicada geopolítica da Ásia.
A votação durou 39 dias, dividida em sete fases para acomodar os quase 900 milhões de eleitores registrados. Milhões de autoridades eleitorais e agentes de segurança percorreram todas as regiões do país para cuidar das quase 600
milhões de pessoas que foram às urnas e tiveram seus dedos marcados com tinta indelével para evitar que elas votassem mais de uma vez.
A Índia é incrivelmente diversificada, sendo mais um continente do que um país, com 22 idiomas oficiais e milhares de castas e grupos regionais e tribais. Essa diversidade ficou refletida numa eleição em que centenas de partidos apresentaram candidatos.
Nas últimas décadas, o governo foi liderado ou pelo Congresso Nacional Indiano ou pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), de Modi. Mas com tamanha variedade de comunidades, partidos e questões regionais rivais, raras vezes um único partido conseguiu obter a maioria sozinho. Quando o BJP conseguiu isso, em 2014, foi a primeira vez em 30 anos. E, embora mais de 40 outros partidos tenham eleito deputados, a projeção oficial indica que o BJP também conquistou a maioria neste ano.
Na campanha, Modi atraiu multidões a seus comícios. Sua mensagem era que ele merecia ser reeleito pois era o mais capacitado para proteger o país e elevar seu status global na economia e na politica
Mas, ao contrário das eleições de 2014, os líderes do BJP amenizaram as promessas ligadas ao desenvolvimento econômico e às reformas, e destacaram temas nacionalistas hindus há muito defendidos pelo partido. Isso inclui prometer a proibição do abate de vacas, que são sagradas para os hindus, o combate à imigração ilegal (em sua maioria muçulmanos) e o fim do tratamento especial dado à minoria muçulmana, que representa 14% da população.
O presidente do partido do Congresso, Rahul Gandhi – cujo pai, avó e bisavô foram premiês – tentou unificar um grande número de partidos de oposição contra Modi. A mensagem desses partidos era de que as políticas de Modi prejudicaram a economia e que o foco do partido do premiê no orgulho hindu estava marginalizando as minorias e abalando as raízes da democracia secular no país.
Isso não impediu Modi e seus aliados de se manterem no poder. Agora, o país se pergunta se a guinada nacionalista que ele deu durante as eleições é um sinal do que vai acontecer nos próximos cinco anos, ou se o premiê voltará a se concentrar no desenvolvimento.
A Índia é a grande economia que mais cresce no mundo, e seu impacto no crescimento global é cada vez mais importante, especialmente com a desaceleração da China. Se Modi conseguir melhorar a gestão da economia e derrubar algumas barreiras burocráticas ao crescimento – como as restrições à compra de terras e as regras de contratação e demissão.
Para os críticos, é mais provável que Modi use o mandato para tornar o país, de 1,3 bilhão de habitantes, menos tolerante às minorias e menos democrático, com centralização de poder no premiê.
Modi também decidirá qual será o papel o país em meio à rápida mudança do xadrez geopolítico da Ásia. A Índia poderá ajudar a fazer frente a uma China cada vez mais assertiva e até amenizar parte das consequências da tensão comercial entre EUA e China.
Ao vencer as eleições, Modi ganha mais poder para adotar medidas audaciosas na política externa. Mas analistas acreditam que ele vai se concentrar principalmente em mobilizar aliados para apertar o cerco contra o Paquistão, que segundo ele não está se esforçando o suficiente para conter grupos militantes que operam dentro de suas fronteiras e atacam a Índia.