PIB trimestral cai e recessão ameaça Japão

No último trimestre de 2019, o PIB do Japão encolheu 6,3% em relação ao trimestre anterior, na taxa anualizada. Agora, epidemia do coronavírus ameaça jogar país em recessão técnica.

Um aumento do imposto sobre consumo e um tufão destruidor lançaram a economia do Japão em sua maior contração em cinco anos, no último trimestre de 2019. Agora, o surto do coronavírus ameaça jogar o país em uma recessão técnica. 

O PIB da terceira maior economia do mundo encolheu à taxa anualizada de 6,3% em relação ao trimestre anterior, segundo dados divulgados ontem pelo governo. O dado veio abaixo da estimativa de queda de 3,7% de economistas privados, que esperam agora nova contração no primeiro trimestre de 2020. Com dois trimestres seguidos de contração, o Japão entraria em recessão técnica. 

Os gastos do consumidor caíram 11,1% depois que o imposto sobre valor agregado foi elevado de 8% para 10% em outubro. No mesmo mês, o tufão Hagibis devastou uma grande área do país. 

Os gastos com bens de capital caíram 14,1%, e as exportações encolheram 0,4%, como consequência da guerra comercial entre Estados Unidos e China. 

Agora as incertezas sobre o impacto do coronavírus lançam mais sombras sobre a economia, especialmente com o esperado agravamento da desaceleração da China. 

“A grande queda do PIB após o aumento do imposto sobre consumo em outubro, ampara nossa visão de que a economia do Japão encolherá neste ano”, disse a consultoria Capital Economics em nota. “Mas, depois do anúncio de hoje, nossa previsão de queda de 0,2% do PIB em 2020 parece otimista.” 

Outros economistas alertaram que quanto mais tempo o coronavírus continuar se espalhando, maiores serão os riscos ao crescimento da economia do Japão. 

“O PIB real pode ter uma certa reação no período de janeiro a março em relação à acentuada queda de outubro a dezembro, mas o crescimento deverá ser fraco, com o impacto negativo do coronavírus cobrando seu preço”, disse Naohiko Baba, economista-chefe do Goldman Sachs no Japão. 

“Um risco maior está no consumo doméstico, especialmente o efeito cascata sobre os gastos discricionários não essenciais e não urgentes, como os serviços”, acrescentou Baba. “Vemos necessidade de monitorar cuidadosamente a situação, uma vez que o impacto negativo poderá piorar se o número de contágios no Japão aumentar e o problema se prolongar.” 

O governo se mostra um pouco mais otimista. “Podemos esperar uma melhora gradual”, disse Yasutoshi Nishimura, ministro da Política Econômica e Fiscal, depois da divulgação dos dados, acrescentando que o impacto da alta do imposto não foi tão grande quanto no aumento anterior, em 2014. 

Ele acrescentou que o governo adotará medidas como reforço dos fundos de reserva para conter os efeitos negativos da queda de entrada de turistas estrangeiros, ruptura da cadeia de fornecimento, desaceleração chinesa e incertezas no mercado financeiro. 

O Japão confirmou 59 casos do vírus – cifra que não inclui os 355 passageiros infectados e a tripulação do navio de cruzeiro Diamond Princess, atracado em Yokohama. 

As empresas estão adotando medidas para impedir a propagação do vírus, já que um número crescente de casos foi relatado em pessoas que não visitaram a China nem tiveram contato direto com pessoas que chegam de lá. 

A Nippon Telegraph and Telephone Corporation (NTT), uma das maiores empresas do Japão, está solicitando aos seus cerca de 200 mil funcionários no Japão que evitem usar o transporte público na hora do “rush” e que trabalhem de casa na medida do possível. Na sexta-feira, a NTT confirmou que um funcionário que trabalhava em um de seus edifícios foi infectado. A empresa ordenou a 14 trabalhadores que estavam em contato com esse empregado que não compareçam ao local de trabalho. 

O novo vírus também está afetando as previsões para outras economias da Ásia. Ontem, a Tailândia previu crescimento de 1,5% neste ano se a epidemia durar até junho – ante previsão anterior de 2,4% feita em 2019. Em Cingapura, o governo prevê que o crescimento em 2020 será lento, estabelecendo uma faixa esperada de 05% a 1,5%. 

Os dados do Japão derrubaram o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio, que fechou em queda de 0,69% ontem. O Japão aprovou em dezembro gastos de 13,2 trilhões de ienes (US$ 120 bilhões) para amortecer o impacto da alta do imposto sobre consumo. O governo do premiê Shinzo Abe também planeja um orçamento extra para conter os efeitos do surto do Covid-19. 

Os dados divulgados colocam pressão sobre o governo Abe. A contração do quarto trimestre de 2019 foi a primeira em cinco trimestres e a maior desde a queda de 7,4% registrada no segundo trimestre de 2014 – quando o Japão aumentou o imposto sobre consumo 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/02/18/japao-tem-forte-queda-do-pib-e-virus-pode-levar-a-recessao.ghtml

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