Pequim vai desmembrar Alipay do Ant Group

O governo chinês pretende desmembrar o Alipay, um superaplicativo pertencente ao Ant Group, de Jack Ma, e criar um serviço separado para seus produtos de crédito, altamente lucrativos, na reestruturação de maior visibilidade até hoje do gigantesco grupo de tecnologia de serviços financeiros. 

As autoridades reguladoras chinesas já haviam ordenado que o Ant Group separasse suas duas unidades de concessão de crédito – a Huabei, que é similar a um serviço tradicional de cartão, e a Jiebei, que oferece pequenos créditos sem necessidade de garantia – dos negócios principais do grupo e as agrupasse em uma nova entidade, agregando acionistas externos. 

Agora, as autoridades querem que essas unidades de crédito também tenham seu próprio aplicativo independente. O plano também exige do Ant Group transferir os dados dos usuários, que sustentam as decisões de concessão de empréstimos, a uma nova empresa separada de pontuação de crédito, que seria uma joint venture com empresas estatais, segundo duas fontes a par do processo. 

“O governo acredita que o poder de monopólio das gigantes tecnológicas vem de seu controle sobre os dados”, disse uma fonte próxima aos órgãos reguladores dosetor financeiro, em Pequim. “E quer acabar com isso.” 

As mudanças podem desacelerar os negócios de crédito do Ant Group. O enorme crescimento da Huabei e da Jiebei havia encorajado em parte o plano de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em 2020, que acabou sendo suspensa. A CreditTech, que inclui as duas unidades, superou pela primeira vez o tamanho dos negócios principais, de meios de pagamento, do Ant Group no primeiro semestre de 2020, quando representou 39% da receita total do grupo. 

O tamanho da CreditTech, que teve participação em cerca de 10% dos créditos ao consumidor não residenciais do país em 2020, surpreendeu as autoridades reguladoras chinesas, que temiam o risco financeiro e o chamado crédito predatório, cujas condições são abusivas. 

As ações do Alibaba fecharam em baixa de 4,2% em Hong Kong nesta segunda-feira, depois de o “Financial Times” ter publicado uma versão anterior desta notícia. O índice Hang Seng Tech, que acompanha as maiores empresas chinesas de tecnologia negociadas na bolsa de Hong Kong, caiu 2,3%, diante das novas pressões reguladoras sobre o setor. 

O Ant Group vinha brigando com os reguladores pelo controle da nova joint venture. Após concessões, chegou-se a um acordo no qual empresas estatais de sua província natal, incluindo o Zhejiang Tourism Investment Group, terão participação majoritária. O governo provincial fez um favor ao Ant Group ao pressionar para que estatais locais se tornassem os novos sócios, segundo as fontes. 

“Dada a confiança mútua entre o Ant e o Zhejiang, o grupo de fintech terá grande influência na forma como a nova joint venture vai operar”, disse um ex-funcionário do Banco do Povo da China, a autoridade monetária do país. “Mas a nova configuração também garantirá que o Ant ouça o partido [comunista] na hora de tomar decisões cruciais.” 

Uma fonte próxima ao Ant Group disse que, por enquanto, a equipe de Ma estará no comando do empreendimento conjunto. “O que o Zhejiang Tourism Investment Group sabe sobre pontuação de crédito? Nada”, disse a fonte, destacando que os executivos do Ant Group ainda temem perder o controle no futuro. 

A Reuters noticiou primeiro a composição da joint venture, com participações iguais de 35% para o Ant Group e o Zhejiang Tourism Group, e o restante ficando com outras estatais e sócios privados. 

A nova joint venture solicitará uma licença para trabalhar na área de pontuação de crédito ao consumidor, algo que o Ant Group cobiçava há muito. Até agora, o banco central chinês emitiu apenas três dessas licenças, todas para estatais, o que impedia o Ant Group de monetizar plenamente os enormes volumes de dados que recolhe dos cidadãos chineses. 

O Ant Group não será a única empresa chinesa de concessão de crédito on-line afetada pelas novas regras. Neste verão chinês, o banco central informou aos participantes do setor que as decisões de crédito precisam ser baseadas em dados de alguma empresa licenciada de pontuação de crédito, e não em dados próprios, segundo uma das fontes. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/09/14/pequim-vai-desmembrar-alipay-do-ant-group.ghtml

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