A oposição de direita saiu vencedora das eleições parlamentares na Finlândia, derrubando as pretensões de reeleição da atual primeira-ministra, Sanna Marin —que reconheceu a derrota antes mesmo do fim da apuração, concluída na noite deste domingo (2).
Foi uma votação apertada. Os três principais partidos conseguiram aumentar suas bancadas no Parlamento, mas a arrancada do Coalizão Nacional (NCP), da oposição, foi maior. Na última legislatura, o partido de Marin tinha 40 cadeiras, o Finlandeses tinha 39 e o NCP, 38. Agora, o NCP lidera com 48, seguido pelo Finlandeses com 46 e pelo Social-Democrata com 43.
Má notícia para Marin. Quando os dados oficiais mostravam que sua sigla estava em segundo e só com 0,1% de votos a menos do que o NCP, ela disse que ainda estava confiante. “Tenho a sensação de que obteremos uma grande parte dos votos”, afirmou a jornalistas. O Partido Social-Democrata recebeu, sim, parte expressiva da votação, mas não o suficiente, e Marin admitiu a derrota para o adversário.
O líder do NCP, por sua vez, já havia comemorado a vitória antes disso. À frente do partido vencedor, Petteri Orpo terá a missão formar uma coalizão para obter a maioria no Parlamento, e a era de Marin como primeira-ministra provavelmente chegará ao fim. O NCP liderou as pesquisas por quase dois anos, embora sua vantagem tenha diminuído nos últimos meses.
Oficializados os resultados, começa uma longa jornada de negociações. Orpo, como líder do partido mais votado, tem prioridade para começar as articulações. Ele disse que negociará com todos os grupos para obter a maioria no Parlamento, enquanto Marin havia dito que seus sociais-democratas poderiam governar com o NCP, mas não com os Finlandeses —para ela, o partido é “abertamente racista”.
A principal bandeira do Partido dos Finlandeses é reduzir o que a líder Riikka Purra chamou de entrada “prejudicial” de imigrantes oriundos de países em desenvolvimento fora da União Europeia. Ele também pede políticas de austeridade para conter os cofres deficitários, uma postura que compartilha com o NCP.
Os três partidos, porém, defendem a adesão da Finlândia à Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA e que tanto incomoda a Rússia de Vladimir Putin, vizinha dos finlandeses. Como havia consenso nesse quesito, a Guerra da Ucrânia foi deixada parcialmente de lado durante os debates eleitorais, de modo as principais pautas do pleito foram os assuntos econômicos do país.
Marin, por exemplo, moveu-se mais à esquerda para oferecer aos eleitores uma escolha ideológica distinta, o que é incomum na história nórdica recente, onde a maioria das diferenças entre os principais partidos estão nos detalhes, não na filosofia. Ela quer que o próximo governo invista no crescimento econômico e atribui o aumento da dívida à pandemia de coronavírus e à Guerra da Ucrânia.
Já seus oponentes de direita prometeram cortar gastos para reduzir a dívida da Finlândia ao nível do PIB de 73% —abaixo da média da União Europeia— para mais perto da meta do bloco, 60%.
A economia do país é o principal motivo de a atual primeira-ministra não ser tão bem-vista dentro de casa quanto é fora. Seus críticos frequentemente citam os altos gastos públicos de seu governo, e outros procuraram surfar em polêmicas festas pessoais das quais a primeira-ministra participou.
Em meio ao processo de adesão à Otan, Marin foi alvo de intenso escrutínio devido a um vídeo em que aparece em uma festa. Não foi algo tão ruidoso quanto as reuniões clandestinas durante a fase mais crítica da pandemia de coronavírus das quais o então premiê do Reino Unido Boris Johnson participou —o que colaborou decisivamente para sua ruína—, mas pode ter manchado a imagem de Marin junto a parte do eleitorado.
“Acredito que a sociedade finlandesa e sua resiliência podem suportar que eu cante e dance com meus amigos”, respondeu ela à época, driblando comentários sexistas dos quais foi alvo.
Ao menos neste domingo, porém, a primeira-ministra provavelmente não terá muitos motivos para dançar.