O futuro das relações Brasil e Etiópia

Natalia Fingermann – Coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios Africanos (NENAF)

Victor Kuschnir

Maria Eduarda Fibla

Na segunda semana de abril de 2025, aconteceu o Fórum de Promoção de Negócios e Investimento Etiópia-Brasil, no edifício World Trade Center, em São Paulo. Nessa edição do Fórum, o Núcleo de Estudos e Negócios Africanos (NENAF) esteve presente com uma delegação de estudantes do Bacharelado em Relações Internacionais da ESPM, que pretende destacar nesse artigo quais foram os principais assuntos e temáticas discutidos durante o evento, de forma alavancar a parceria entre o Brasil e a Etiópia, uma das principais economias africanas, com uma população de 126 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto de US$ 151,8 bilhões (APEX, 2024).

Um dos principais tópicos debatidos foi como os laços diplomáticos históricos entre Brasil e Etiópia podem auxiliar na construção de uma parceria econômica e comercial, com um aumento nos investimentos recíprocos, em especial, dentro do setor de turismo. De acordo com o Mapa de Oportunidades da ApexBrasil, são identificadas 107 oportunidades para produtos brasileiros na Etiópia, principalmente aqueles associados a máquinas e equipamentos de transporte e produtos alimentícios. Além disso, a Etiópia representa uma oportunidade para o Brasil no setor de importação de alimentos, já que o país enfrenta desafios na oferta interna e diversificação de alimentos, devido a condições naturais que limitam a produção ao nível de subsistência.

As falas dos embaixadores etíopes, Leulseged Tadese Abebe e Yohannes Fanta, e do embaixador brasileiro, Antônio César, apresentaram como as recentes reformas macroeconômicas, que visam uma liberalização econômica, realizadas sob liderança de Abiy Ahmed na Etiópia beneficiam o investimento brasileiro nos setores de telecomunicações, economia digital, turismo e lazer, manufatura, agricultura, energia renovável e mineração. A garantia do investimento privado fomentaria a diversificação da economia, fortaleceria o ambiente de negócios e atrairia investimentos externos. Logo, a contribuição brasileira poderia prover, além de maior segurança alimentar, a transformação da agricultura e o desenvolvimento de setores estratégicos.

Outro destaque trazido no Fórum foi a oportunidade que se apresenta entre os dois países desde a adesão da Etiópia aos BRICS, em 2023. De acordo com o embaixador Yohannes, os BRICS é um mecanismo que propicia um clima mais favorável e estratégico para a internacionalização de empresas brasileiras e a cooperação com países africanos. Neste contexto, Rui Mucaje, presidente da Afrochamber e um dos organizadores do evento, convidou a comunidade empresarial brasileira a investir na Etiópia. O chefe da Assessoria Internacional do Estado de São Paulo, Samo Tosatti, bem como o presidente do Instituto Brasil-África, João Bosco Monte, reforçaram seu apreço às reformas realizadas no campo  econômico e às possibilidades de negócios e enfatizaram que esses fatores certamente poderiam encaminhar uma parceria Brasil-Etiópia bem interessante e benéfica a longo prazo,  apesar de Adis  Abeba ainda não ter ratificado o Acordo de Cooperação e Facilitação  de Investimentos, proposto pelo Brasil, em 2018

As  projeções de crescimento em  torno de 6,2% do PIB na economia etíope reforçam a oportunidade que o país apresenta ao Brasil. As empresas brasileiras presentes no Fórum puderam perceber que as possibilidade de negócios com a Etiópia podem ir muito além  comércio bilateral atual, que ainda é modesto, com um volume de  US$ 23,8 milhões em 2023 (APEX, 2024).

Diante desse cenário, torna-se evidente que eventos como o Fórum de Promoção de Negócios e Investimento Etiópia-Brasil desempenham um papel crucial na reconfiguração das relações internacionais do Brasil com o continente africano. Ao promover o diálogo, identificar oportunidades concretas e aproximar atores estratégicos dos setores público e privado, tais iniciativas contribuem para desconstruir estereótipos históricos, fomentar parcerias sustentáveis e impulsionar uma agenda de cooperação baseada na confiança mútua, na complementaridade econômica e no desenvolvimento compartilhado. A Etiópia, com seu dinamismo e ambição de crescimento, surge como um parceiro de grande relevância para o Brasil no cenário africano, abrindo espaço para uma nova fase nas relações Sul-Sul.

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