Nobel de Medicina vai aos responsáveis pela tecnologia da vacina contra covid-19

Dois cientistas ganharam o prêmio Nobel de Medicina por pesquisas que criaram as bases para o desenvolvimento de alguns dos medicamentos mais vendidos de todos os tempos: as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a covid-19. 

O trabalho de Katalin Kariko e de Drew Weissman foi pioneiro ao contribuir para a tecnologia que permitiu à Moderna e à Pfizer- BioNTech criarem as vacinas rapidamente. As vacinas foram aplicadas em centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, um passo fundamental para combater a pandemia da covid-19. 

Kariko e Weissman dividirão o prêmio de 11 milhões de coroas suecas (US$ 1 milhão), segundo comunicado da Assembleia Nobel, do Instituto Karolinska, em Estocolmo, divulgado nesta segunda-feira (02). 

Os cientistas mostraram como resolver um dos principais problemas do mRNA, ajustando-o para evitar que seu uso causasse inflamações. A pesquisa, publicada em 2005, foi um dos pilares que permitiram a introdução do mRNA no corpo. 

O trabalho deles se tornou a base para um novo tipo de imunização. Em vez de introduzir um vírus enfraquecido ou morto no corpo para ensinar o sistema imunológico a reconhecer uma infecção, o mRNA passou a ser usado para induzir as células a produzirem o que é necessário para uma vacina. A abordagem é muito mais rápida e permitiu à Moderna e à equipe Pfizer/BioNTech desenvolverem vacinas contra a covid-19 em menos de 11 meses. 

Kariko, nascida na Hungria, e Weissman, nos EUA, trabalharam na relativa obscuridade por anos, com uma abordagem que muitos outros cientistas descartavam como muito difícil de usar. 

Filha de um açougueiro, Kariko nasceu em 1955 e cresceu em uma pequena cidade na parte leste do país. Ela obteve seu doutorado em bioquímica na Universidade de Szeged, e trabalhou com RNA pela primeira vez em 1978. Em 1985, mudou-se para os EUA para um emprego na Universidade de Temple, na Filadélfia, e depois se tornou professora assistente de pesquisa na Universidade da Pensilvânia. Por anos, ela lutou para conseguir reconhecimento acadêmico para seu trabalho. Após não conseguir obter financiamento para suas pesquisas ela foi rebaixada de posto na universidade em 1995. 

Kariko, contatada pelo secretário da Assembleia Nobel, disse que estava “emocionada e também contextualizou [o prêmio] com sua situação como cientista”. Thomas Perlmann, o secretário, disse aos repórteres reunidos em Estocolmo que o prêmio marca “uma mudança drástica nas circunstâncias dela”. 

“É absolutamente certo que o trabalho inovador em RNA liderado por Kariko e Weissman deva ser reconhecido com um prêmio Nobel, dada a extraordinária contribuição que os esforços científicos deles tiveram para o desenvolvimento de vacinas e para o impacto desse trabalho na saúde humana na pandemia”, disse Andrew Pollard, que trabalhou em uma vacina rival como diretor do grupo de vacinas de Oxford, na Universidade de Oxford. 

Em uma história que parece destinada a se tornar parte da história médica, Kariko e Weissman se conheceram em uma máquina de xerox. Ambos eram leitores vorazes de revistas científicas médicas e, enquanto copiavam centenas de páginas, começaram a conversar sobre suas pesquisas. Weissman tinha interesse em células dendríticas, que ajudam o sistema imunológico a se adaptar para combater invasores. Kariko achou que o mRNA poderia ajudar. 

Em 2005, eles publicaram um artigo inovador resolvendo um dos principais problemas do uso de mRNA. Até aquele ponto, a introdução da molécula em uma célula causava inflamação e, às vezes, a célula — ou o camundongo de laboratório — morria. Kariko e Weissman fizeram uma pequena modificação na uridina, um dos blocos de construção que compõem o mRNA, imitando um processo que ocorre naturalmente no corpo. Quando o fizeram, a inflamação deixou de ocorrer. 

Os prêmios anuais para feitos conquistados na física, química, medicina, literatura e paz foram estabelecidos no testamento de Alfred Nobel, o sueco inventor da dinamite, que morreu em 1896. Um prêmio para as ciências econômicas foi adicionado pelo banco central da Suécia em 1968. (Colaboraram Anton Wilen e Christopher Jungstedt)

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/10/02/nobel-de-medicina-2023-vai-para-dupla-que-ajudou-a-desenvolver-vacinas-de-rna-mensageiro.ghtml

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