O Grupo Dreamers, holding brasileira de comunicação e entretenimento, que criou o Rock in Rio, vem caminhando em uma curva de crescimento nos últimos quatro anos, sob a liderança de Rodolfo Medina. O executivo, que até 2022 acumulava a chefia da agência Artplan, passou então a dedicar-se exclusivamente ao Dreamers, assumindo o cargo de presidente-executivo. Em 2023, o faturamento do grupo cresceu 37% na comparação com o ano anterior, para R$ 1,5 bilhão.
Recentemente, o grupo lançou novas empresas, como a Game Code, dedicada a games; gen_c, com foco em marketing de influência; e Context Creative Tech, de tecnologia aplicada à criatividade.
“Sempre estivemos abertos a oportunidades, com cabeça de empreendedores. Este ano pretendemos criar mais sinergia entre as empresas do grupo”, diz Medina em entrevista ao Valor.
A maior empresa da holding e que “deu origem à série” de 18 negócios é a Artplan, atualmente com 443 colaboradores. Fundada em 1967, é uma das maiores agências no país com capital 100% nacional. Em sua carteira estão clientes como o Grupo BTG, Localiza, Grupo Yduqs, Hypera e Coca-Cola. Medina diz que a grande aposta do grupo é a área de entretenimento, além de tecnologia e dados.
“O entretenimento é o futuro da comunicação”, afirma o executivo. Confira os principais trechos da entrevista ao Valor.
Valor: O ano passado foi de crescimento de quase 40% para o Grupo Dreamers. A que se deve essa performance?
Rodolfo Medina: Tivemos uma consolidação muito clara e um crescimento muito interessante da Artplan, que trouxe clientes relevantes. Há quatro anos, fizemos um grande investimento numa plataforma de comunicação compartilhada chamada Aceleraí, que se conecta com pequenos anunciantes regionais. Dela nasceu a Pullse, nossa empresa de inteligência de varejo, comandada pelo Allan Barros. A Pullse cresceu muito no ano passado e conquistou as contas de Casas Bahia e Grupo Caoa – que vão influenciar mais o nosso crescimento em 2024, do que em 2023. A área de influenciadores se consolidou com força e criou potencial para a gen_c nascer no início deste ano. Também criamos com um experiente profissional de tecnologia, o Giovanni Rivetti, a Context. A Context fez uma parceria com a Eletromidia para criar o EletroLab, um hub especializado em inovação e projetos de realidade estendida.
Valor: Além da área de games, vocês entraram na área de eSports. Nesse caso, não criaram empresa, se associaram. Como foi isso?
Medina: Investimos em um time de eSports, a Black Dragons, da Nicolle Merhy (jogadora profissional de e-sports, conhecida como ‘Cherrygumms’), que este ano será jurada no festival Cannes Lions, na categoria Games. Havíamos feito algumas experiências com games, levando por exemplo o Game XP para o Rock in Rio, mas não conhecíamos o segmento de eSports. Queríamos trazer o know-how da Black Dragons para o mundo dos games, decodificar essa linguagem para o mercado anunciante. É menos sobre a competição e mais sobre a linguagem. Se essa é a linguagem que a nova geração usa para se comunicar, temos que aprender. E estamos engatinhando.
Valor: Vocês enfrentaram uma pandemia, que afetou muito a área de entretenimento, que segue como a grande aposta do grupo. Por quê?
Medina: Esse pilar comunicação/entretenimento é o futuro. É para onde vai a comunicação. A gente tem muita clareza do poder de cada ferramenta. Quando alguém vai a um festival de música, a uma experiência ao vivo, ou quando eu vou com meus filhos ao parque, criamos conexões emocionais que a comunicação sozinha não é capaz
de criar. A conexão emocional que um projeto como o Rock in Rio tem com a geração que o vivenciou é gigante. Gosto de contar uma experiência bem emblemática, do último Rock in Rio. Estávamos em pré-eleições, momento de Brasil bastante dividido. Chegou o dia do show do Coldplay, chovia muito. As pessoas estavam usando pulseirinhas que acendiam ao ritmo da música. Eram 100 mil pessoas cantando juntas, entendendo a força da música para acabar com as diferenças. Este é o poder da conexão da experiência ao vivo, que nenhuma outra plataforma tem. Quanto mais conectados estivermos com as novas tecnologias, novas plataformas, com os novos ‘TikToks’, mais precisaremos de momentos que emocionem e diferenciem os produtos. A diferenciação está na experiência, naquilo que levamos além do produto.
Valor: Vocês não venderam Artplan, embora tenham conversado com diversos grupos internacionais. Associações e venda ainda fazem parte dos planos?
Medina: Nunca tivemos muito interesse em vender porque sempre fomos um grupo saudável, mas nos mantivemos abertos a conversar com todo mundo. Qualquer proposta de negócio precisa contribuir com o todo. O nosso grupo teve o privilégio de construir uma sucessão, o que não é fácil para negócio nenhum. Não temos interesse em ir embora. Temos interesse em somar, em trazer parceiros para as empresas do grupo. Somos uma holding investidora, estamos sempre abertos a construir e crescer, dentro e fora, as lideranças querem continuar aqui. Queremos criar valor para toda a cadeia, e não eventualmente vender uma operação para alguém.
Valor: Qual é a sua visão do mercado publicitário e da publicidade como negócio?
Medina: Eu estou muito animado. Primeiro, porque acho que um espaço se abriu para quem é independente, para quem tem a sua própria forma de atuar. Nada contra os grupos multinacionais. Em segundo lugar, acho que voltamos a ter relevância. Em determinado momento, as agências foram perdendo um pouco de relevância no debate com o cliente. Voltamos a ter protagonismo até pela complexidade da comunicação. E é sobre ser estratégico. Por isso
montamos um grupo, que trabalha de forma colaborativa com o mercado. Não temos problema em trabalhar com outras agências, multinacionais ou não. E não somos capazes de fazer tudo, precisamos de gente que faça melhor ou tão bem quanto a gente. Quando a gente faz um projeto como o Rock in Rio, todas as agências estão trabalhando conosco. Quando a gente faz o Lab (projeto de produção de conteúdo da agência), trabalhamos com todas as agências. Não quero ser operacional para os meus clientes, quero ser estratégico.
Valor: Você está de olho em quais áreas?
Medina: Estou muito interessado em tecnologia, porque permeia todos os negócios; em dados, porque é um grande desafio e o “ouro do futuro”, embora ainda não saibamos como ganhar dinheiro com ele, mas é fundamental para a entrega de experiências. E tenho um olhar para o entretenimento – não de eventos, especificamente, mas como ferramenta de conexão com o consumidor. Isso pode ser via evento, comunicação ou plataforma de streaming. São os três pilares que ocupam minha cabeça, pensando no futuro.
Valor: Como você vê o futuro do grupo?
Medina: Eu quero fazer as empresas crescerem. Novas empresas virão, outras não vão continuar, faz parte a renovação. Em 2024, esperamos crescer 20%, e é um ano especial para nós. Fizemos o nosso primeiro Lolla. O Rock in Rio em Lisboa faz 20 anos em junho. E em setembro faremos os 40 anos do Rock in Rio no Brasil, uma data mágica.