A unidade de computação em nuvem da Amazon suspendeu as encomendas do “superchip”
mais avançado da Nvidia para esperar por um novo modelo mais poderoso, enquanto investidores estão inquietos com uma queda na demanda entre os ciclos dos produtos da fabricante de chips de US$ 2,3 trilhões.
A Nvidia, que tem sede no Vale do Silício, apresentou uma nova geração de processadores, batizada de Blackwell, em março, apenas um ano depois que os processadores da geração anterior, a Hopper, começaram a ser enviados para os clientes. O executivo-chefe da empresa, Jensen Huang, disse que os novos produtos serão duas vezes mais poderosos para o treinamento de grandes modelos de linguagem, a tecnologia que está por trás do ChatGPT da OpenAI.
A Amazon Web Services (AWS), que é a maior provedora de computação em nuvem do mundo, explicou ao “Financial Times” que fez uma “migração total” de suas encomendas anteriores do superchip Grace Hopper da Nvidia, lançado em agosto, e as substituiu por pedidos de seu sucessor, o superchip Grace Blackwell.
Segundo a Nvidia, a mudança “faz sentido”, dado “que a janela entre o Grace Hopper e o Grace Blackwell foi pequena”.
A Nvidia não quis comentar a notícia antes da divulgação de seu relatório trimestral de lucros, marcada para esta quarta-feira (22), com a alegação de que há regras para um período de silêncio. [Neste terça- feira, as ações da companhia tiveram valorização de 0,64% na bolsa de valores americana Nasdaq].
A expectativa dos analistas é que a fabricante de chips informe que as vendas triplicaram no trimestre mais recente, impulsionadas por um frenesi de gastos com tecnologia de inteligência artificial por parte das grandes empresas de tecnologia. Mas alguns investidores começam a se perguntar por quanto tempo a Nvidia conseguirá manter essa fase extraordinária de crescimento.
Em uma nota aos clientes esta semana, analistas do Morgan Stanley escreveram que, embora as grandes empresas de tecnologia tenham se comprometido a continuar a investir dezenas de bilhões de dólares no desenvolvimento da infraestrutura de data centers para a inteligência artificial este ano, “existe uma ansiedade [em Wall Street] com relação a uma pausa na frente da Blackwell”.
A produção dos novos chips de arquitetura Blackwell crescerá ao longo deste ano. Os analistas esperam que eles comecem a ser entregues no quarto trimestre. Mas os do City veem a possibilidade de que nesse intervalo de tempo haja um “bolsão de ar” na demanda por chips de IA, depois que os longos períodos de espera para entrega de chips da Nvidia no ano passado praticamente acabaram.
Os chips baseados na arquitetura Hopper, da Nvidia, como suas cobiçadas unidades de processamento gráfico (GPU) H100, entraram em produção plena em setembro de 2022. O superchip Grace Hopper, também conhecido como GH200, é integrado por várias GPUs H100 ao lado de memórias de alta velocidade, conectividade e uma unidade central de processamento.
Seu sucessor, o GB200, é o primeiro produto a se beneficiar dos avanços da arquitetura Blackwell.
Nem a Amazon nem a Nvidia confirmaram o valor da encomenda. Analistas do HSBC estimam que um chip GB200, que inclui dois chips B100, custará até US$ 70 mil, e o preço de um servidor inteiro com a nova tecnologia chegará a US$ 3 milhões.
A AWS continua a oferecer outros chips da Nvidia, inclusive os H100, para seus clientes de computação em nuvem. Mas como a AWS é um dos maiores clientes da Nvidia, é provável que sua decisão preocupe os investidores, já apreensivos com a possibilidade de que empresas de tecnologia adiem suas compras e prefiram esperar pelo lançamento dos chips da arquitetura Blackwell.
Durante boa parte do ano passado, a demanda pelos chips H100 da Nvidia superou em muito sua oferta, pois o lançamento do revolucionário ChatGPT pela OpenAI desencadeou uma onda de investimentos em infraestrutura de inteligência artificial por parte de empresas de computação em nuvem e internet, startups e compradores empresariais.
Mas desde o início de 2024, as longas esperas para receber os chips H100 diminuíram.
O valor das ações da Nvidia quase duplicou desde o início do ano por causa da confiança dos investidores quanto à demanda de chips de IA. Mas a partir de março, quando a empresa apresentou a arquitetura Blackwell na sua GPU Technology Conference, as ações têm tido dificuldades para mostrar um aumento consistente.
A Nvidia já teve problemas antes para administrar a oferta e a demanda de maneira tranquila nos intervalos entre as atualizações de seus produtos. Durante a pandemia de covid-19 houve uma explosão na demanda por chips adequados para videogames e mineração de criptomoedas, à qual se seguiu uma superabundância de GPUs.
Analistas do Morgan Stanley disseram estar confiantes de que, mesmo se a oferta dos chips de última geração da Nvidia estivesse mais disponível de maneira imediata hoje, “no ínterim, estamos vendo novos clientes de computação em nuvem, empresariais e soberanos arrebatando todo o fornecimento disponível da Hopper”.