Nestlé ganha eficiência de 12% em fábricas com inteligência artificial

Desde março a fábrica da Nestlé em Ituiutaba, cidade no interior de Minas Gerais, passou a ter o controle de toda as linhas de produção do leite em pó Ninho integrado em uma única sala. Antes, a operação se dividia em salas de controle em cada etapa da produção e, inevitavelmente, levava a erros e desperdícios. 

Na nova sala, telas apresentam gráficos interativos e visão de toda cadeia de produção, é possível a manutenção preditiva por meio de modelos de “machine learning”, que indicam que alguma falha tem potencial de acontecer. Tecnologias como óculos de realidade aumentada e assistente de voz se somam para tornar a operação mais intuitiva e ampliar ganhos. 

“Se as pessoas estão distantes, há problemas de comunicação. Mas o centro não é todo mundo junto numa sala bonita. Ele quebra barreiras e coloca tecnologia para facilitar a operação”, diz Gustavo Moura, gerente de elétrica e automação da Nestlé. 

Números específicos do centro de operações integradas (COI), o primeiro da companhia, ainda não estão consolidados, mas a Nestlé afirma que a adoção de modelos preditivos e tecnologias de automação já permite ganhos de 12% em eficiência em suas plantas industriais, como a redução de consumo de energia elétrica e menores ciclos de vapor e de limpeza de máquinas. 

Hoje, todas as 14 fábricas brasileiras da Nestlé usam ao menos uma tecnologia da chamada indústria 4.0, ou seja, tecnologias de automação, captação e análise de dados e realidade aumentada. Mas esse não é o cenário da maior parte da indústria no país e ainda menos para o setor de alimentos. Os dados mais recentes da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), de 2019, mostram que menos de 10% das empresas estão totalmente inseridas nessa etapa e as fabricantes de alimentos estavam entre as de menor grau de adoção. A ABDI prevê divulgar um novo estudo neste ano. 

“Nós somos pioneiros no Brasil, mas também na Nestlé. O grande avanço de robô colaborativo, ‘machine learning’ e número de transformação de processo está bem a frente de outros mercados da Nestlé”, afirma Ronald Delfino, gerente executivo de transformação digital de fábrica e manufatura. Um dos projetos que a Nestlé Brasil lidera neste ano é o de conexão de 100 linhas de produção por ferramentas de controles avançados que permitirão os operadores comandarem as máquinas por tablets. 

Apesar da pandemia, os projetos de engenharia não foram interrompidos. A capacidade de conexão dos sistemas permitiu, inclusive, que a reformulação de algumas unidades fosse feita à distância. É o caso da fábrica de Vila Velha (ES), em que parte da equipe de engenharia estava na Suíça e conseguia acompanhar as modificações por vídeo. No entanto, conta Moura, houve, sim, necessidade de adaptação de cronograma de projetos devido ao atraso na entrega de componentes eletrônicos, como condutores e semicondutores. “Nos adaptamos e conseguimos antecipar alguns pedidos e aos poucos ganhamos mais previsibilidade dos fornecedores.” Agora, porém, são os preços, com as commodities (ferro, aço e cobre) valorizadas, que exigem ginástica maior da equipe de compras. 

A inauguração do centro de operações integradas faz parte dos mais de R$ 764 milhões que a Nestlé vai investir neste ano em automação, modernização e expansão da capacidade nas fábricas, em linha com sua estratégia de transformação digital. No ano passado, foi inaugurado um centro dedicado à inovação, desenvolvimento e testes de novas tecnologias, dentro do Parque Tecnológico São José dos Campos (SP). Em 2021, algumas das metas são chegar a 70 robôs nas unidades e entregar centros como o da fábrica mineira em mais duas unidades da empresa. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/05/26/nestle-ganha-eficiencia-de-12-em-fabricas.ghtml

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