Morre Gorbachev, último presidente da União Soviética

Mikhail Gorbachev, último presidente da União Soviética cuja ascensão ao poder desencadeou uma série de mudanças revolucionárias que transformaram o mapa da Europa, morreu nesta terça-feira, 30, em Moscou aos 91 anos. Suas reformas puseram fim à Guerra Fria, que ameaçava o mundo com aniquilação nuclear.

“Mikhail Sergeevich Gorbachev morreu esta noite após uma doença grave e prolongada”, informou o Hospital Clínico Central, segundo a agência RIA Novosti. Nenhum outro detalhe foi dado até o momento.

Poucos líderes no século 20, na verdade em qualquer século, tiveram um efeito tão profundo em seu tempo. Em pouco mais de seis anos tumultuados, Gorbachev levantou a Cortina de Ferro, alterando decisivamente o clima político do mundo.

Em casa, ele prometeu e deu maior abertura ao se preparar para reestruturar a sociedade e a economia vacilante de seu país. Não era sua intenção acabar com o império soviético, mas cinco anos depois de chegar ao poder ele presidiu a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Ele acabou com a desventura soviética no Afeganistão e, em extraordinários cinco meses em 1989, ficou parado enquanto o sistema comunista implodia dos Bálticos aos Bálcãs em países já enfraquecidos pela corrupção generalizada e economias moribundas.

Por isso, ele foi expulso do cargo por conspiradores comunistas de linha dura e liberais desapontados, o primeiro grupo temendo que ele destruísse o antigo sistema e o outro temendo que ele não o fizesse.

Foi no exterior que ele foi saudado como herói. Para George Kennan, distinto diplomata americano e especialista em União Soviética, Gorbachev foi “um milagre”, um homem que via o mundo como ele era, sem pestanejar pela ideologia soviética.

Quando chegou ao poder, Gorbachev era um filho leal do Partido Comunista, mas que passou a ver as coisas com novos olhos. “Não podemos mais viver assim”, disse ele a Eduard Shevardnadze, que se tornaria seu ministro de Relações Exteriores de confiança, em 1984. Em cinco anos, ele havia derrubado muito do que o partido considerava inviolável.

Homem de abertura, visão e grande vitalidade, ele olhou para o legado de sete décadas de regime comunista e viu a corrupção oficial, uma força de trabalho sem motivação e disciplina, fábricas que produziam mercadorias de má qualidade e um sistema de distribuição que garantia aos consumidores pouco em prateleiras – vazias de quase tudo, menos vodca.

Ele foi pego entre forças opostas: por um lado, os hábitos arraigados por 70 anos de subsistência do berço ao túmulo sob o comunismo; por outro, os imperativos de agir rapidamente para mudar os velhos hábitos e demonstrar que qualquer deslocamento era temporário e valia o esforço.

Foi uma tarefa que ele foi forçado a entregar a outros quando foi destituído do cargo, consequência de sua própria ambivalência e de um golpe fracassado contra ele por soviéticos linha-dura que ele mesmo elevou ao seu grupo mais próximo.

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