A Microsoft tenta comprar todas as operações globais do TikTok, incluindo as atividades do aplicativo de vídeos virais na Índia e Europa, segundo cinco fontes a par das negociações.
A empresa americana de softwares havia informado no domingo que negociava com a ByteDance, dona chinesa do aplicativo, “uma compra do serviço TikTok nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia”.
Desde então, contudo, a Microsoft também passou a avaliar um plano que incluísse todos os países onde o TikTok opera. O TikTok não opera na China e tal transação não incluiria seu aplicativo equivalente usado no país, o Douyin.
Executivos da Microsoft vêm tentando satisfazer o governo chinês, uma vez que querem evitar ficar em fogo cruzado entre Pequim e Washington, segundo duas das fontes. Uma delas, próxima à Microsoft, negou a sugestão de que o grupo de tecnologia americano estaria discutindo uma troca de ativos na China como parte do negócio.
A mudança de estratégia coloca em evidência o caráter preliminar das conversas enquanto os dois lados correm para chegar a um acordo até o prazo estipulado, em meados de setembro, e evitar que o TikTok seja proibido de operar nos EUA.
Uma fonte próxima às operações da ByteDance na região da Ásia-Pacífico sinalizou que a Microsoft sentiu-se atraída pela ideia de comprar todas as unidades globais do TikTok, porque haveria dificuldades em separar funções administrativas como recursos humanos e porque gostaria de permitir que os usuários do TikTok em um país pudessem usar o aplicativo quando estão em outros.
Na segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que provavelmente seria “mais fácil comprar tudo do que 30%”. Também disse que quem comprar o aplicativo teria que pagar uma taxa “substancial” ao Tesouro dos EUA.
Qualquer possível negócio poderia dar-se das mais diversas formas, segundo pessoas entrevistadas pelo “Financial Times”. Elas destacaram a longa lista de obstáculos ainda à frente de uma transação, inclusive o preço.
Uma fonte disse que as discussões eram como um “xadrez em múltiplas dimensões”, dado o número de envolvidos no processo, incluindo governos e acionistas minoritários na ByteDance.
Mesmo se uma transação envolvesse todas as operações globais, isso não resolveria o enorme desafio de desmantelar a tecnologia do TikTok da estrutura da ByteDance. Segundo funcionários, a ByteDance já vinha trabalhando, antes do início das conversas, na separação dos dados e algoritmos usados na China e no resto do mundo.
A Microsoft discute adicionar um acordo pelo qual teria um ano para separar o TikTok de sua controladora chinesa e, assim, aliviar as preocupações dos EUA quanto à segurança dos dados gerados pelo aplicativo.
Duas fontes que acompanham as conversas de perto disseram que o prazo será difícil de cumprir, sendo que uma delas chegou a dizer que levaria entre cinco e oito anos para separar o software totalmente.
A Índia é o maior mercado do TikTok, com mais de 650 milhões de downloads, segundo dados da Sensor Tower. Mas o aplicativo está proibido naquele país desde o fim de junho, quando o governo indiano o colocou numa lista de 59 aplicativos chineses para aparelhos móveis que acusa de serem ameaças à segurança nacional.
A compra pela Microsoft poderia ajudar a mudar sua sorte, acabando com o estigma de ser de propriedade chinesa em tempos em que o sentimento anti-China na Índia está inflamado, após o confronto letal entre soldados chineses e indianos no Himalaia neste ano.
Uma fonte próxima à ByteDance na Índia disse que havia um “negócio sendo trabalhado” entre Microsoft e a TikTok India, mas que as conversas ruíram. A ByteDance poderia vender a TikTok India para investidores estrangeiros ou para compradores indianos. A ByteDance, então, licenciaria sua tecnologia para a empresa e compartilharia a receita.
ByteDance e Microsoft não quiseram comentar o assunto. (Colaboraram James Fontanella-Khan, de Nova York, Yuan Yang, de Pequim, e Richard Waters, de San Francisco).
