A Microsoft perdeu US$ 200 bilhões em valor de mercado depois de sua gigantesca unidade de computação na nuvem ter apresentado um crescimento abaixo do previsto por Wall Street, diante das dificuldades da empresa para acompanhar o ritmo da demanda por serviços relacionados à inteligência artificial (IA).A empresa de softwares, de Seattle, anunciou seu balanço do trimestre encerrado em dezembro na quarta-feira (29), com receita e lucro líquido acima das previsões. No entanto, o desempenho da divisão de serviços na nuvem, que é sua maior fonte de receita e inclui a plataforma Azure, ficou um pouco abaixo do esperado.
Apesar de as receitas de serviços de IA da Azure terem crescido 157% na comparação anual, a empresa projeta que o “impacto atual” das limitações de capacidade continuará em 2025, enquanto trabalha para “resolver problemas de execução”, segundo a diretora de finanças da Microsoft, Amy Hood.
A receita da divisão de computação na nuvem como um todo subiu 21% em comparação ao mesmo trimestre de 2023, para US$ 40,9 bilhões, ficando abaixo dos US$ 41,1 bilhões estimados em pesquisa da “Bloomberg”. Os resultados decepcionantes da unidade tiveram impacto sobre as ações, que caíram 6,18% na quinta-feira, fazendo evaporar US$ 200 bilhões do valor de mercado da Microsoft.
A receita total da empresa no trimestre aumentou 12% na comparação anual, para o recorde de US$ 69,6 bilhões. O lucro líquido subiu 10%, para US$ 24,1 bilhões, acima da estimativa média da pesquisa da “Bloomberg”, de US$ 23,5 bilhões.A Microsoft investiu US$ 22,6 bilhões em bens de capital em seu segundo trimestre fiscal, o dobro do mesmo período de 2023. A empresa já havia anunciado em janeiro que investiria cerca de US$ 80 bilhões no ano fiscal encerrado em 30 de junho para expandir a infraestrutura de dados necessária para treinar modelos de inteligência artificial e lançar aplicativos.
O alto investimento chega em meio às preocupações em Wall Street com a DeepSeek, da China, que sustenta ser capaz de realizar tarefas de IA tão bem quanto as grandes empresas dos Estados Unidos, como a OpenAI, que é financiada pela Microsoft, mas a um custo muitíssimo menor.
Segundo o executivo-chefe da Microsoft, Satya Nadella, a DeepSeek demonstrou “inovação real’, incluindo equiparar-se ao desempenho do modelo o1 da OpenAI, que foi elogiado por sua capacidade de responder a perguntas mais avançadas e científicas.
“Vamos ver tudo isso se tornar commodity, e isso será usado de forma generalizada. E os grandes beneficiários de qualquer ciclo de software como esse são os clientes”, disse o executivo.
De acordo com Nadella, uma das lições da transição para a computação em nuvem – quando as empresas terceirizam suas tarefas de processamento de computador para servidores externos – foi que, à medida que o custo dos recursos caía, a demanda crescia. “A otimização significa que isso [o uso da inteligência artificial] será muito mais onipresente”, acrescentou.
A gigante dos softwares tem sido uma das principais beneficiárias do boom da IA, graças ao aumento da demanda por seus serviços na nuvem e ao entusiasmo em torno à parceria de US$ 13 bilhões com a OpenAI, o que a elevou para o seleto grupo de empresas com valores de mercado superiores a US$ 3 trilhões.
Os modelos da OpenAI dão sustentação ao “chatbot” Copilot, da Microsoft. Além disso, o modelo de linguagem de grande escala (LLM,na sigla em inglês) da OpenAI está disponível para os clientes da Microsoft por meio da Azure.
Na semana passada, empresa de softwares informou que mudaria a estrutura de seu acordo com a OpenAI para permitir que a startup passe a usar serviços de computação na nuvem de rivais, embora tenha se reservado o direito de preferência.
O anúncio da mudança acompanhou a apresentação dos planos da startup com a provedora de computação na nuvem Oracle e o SoftBank, do Japão, para construir pelo menos US$ 100 bilhões em infraestrutura de IA nos EUA, como parte de um projeto chamado Stargate. A Microsoft é citada só como parceira técnica do projeto.
“O sucesso deles é o nosso sucesso por causa de todos os outros arranjos comerciais”, disse Nadella, em referência ao acordo de divisão de lucros da Microsoft com a OpenAI, assim como aos direitos de uso e de propriedade intelectual, embora ressaltando que a empresa trabalha para otimizar custos. “Você não quer comprar muito de ‘nada’ de uma só vez.”