Mecanismo de busca Google está pior? 

Há 25 anos, as dúvidas da humanidade têm sido sanadas pelo Google. Mas, nos últimos tempos, a principal ferramenta de buscas parece não funcionar tão bem como antes. Usuários passaram a reclamar enquanto surgiam concorrentes improváveis, como o TikTok e o ChatGPT. Nesse novo momento, a companhia passou a buscar melhorias para afastar a ideia de que o seu principal produto piorou.

Há alguns meses, usuários passaram a relatar o que consideram uma queda no mais famoso sistema de busca da internet. As principais reclamações são que os primeiros resultados de pesquisa não entregam links certeiros: geralmente, as primeiras linhas do buscador trazem links patrocinados, vídeos e cards de perguntas.

“Mesmo utilizando palavras-chave, tenho tido dificuldade de encontrar referências acadêmicas que antes apareciam mais facilmente. Na hora de fazer pesquisas sempre aparecem resultados parecidos (mesmos sites) e pouco espaço para indicações de algo mais diversificado”, explica a professora Millena Farias, 36.

No X (antigo Twitter), o usuário @lucasfelix também é um dos que percebeu a mudança nos resultados de busca. “(o site) parece querer priorizar resultados recentes na marra, talvez pelo perfil de consumo de notícias, mas nem isso faz bem”, afirmou. Em outra publicação, o perfil @barbaara__ disse que os algoritmos estão priorizando conteúdos mais “fabricados” em vez dos resultados orgânicos.

A percepção dos usuários não é um ponto fora da curva, segundo Fernando Meirelles, professor da Escola de Administração de Empresas da FGV. Para ele, os resultados de busca realmente estão diferentes do que costumavam ser.

“Houve uma piora nos últimos dois anos. Ela é muito sutil, mas houve. Ou seja, houve um aumento na prioridade dos algoritmos para os anúncios. Talvez a busca tenha que ser cada vez mais instantânea e, para isso, o algoritmo precisa ser mais simples”, explica Meirelles.

O algoritmo usado no motor de buscas do Google, e suas eventuais mudanças, sempre foi “secreto” – é a “fórmula da Coca-Cola” da gigante. No entanto, ao longo dos anos, a receita sempre se manteve mais ou menos a mesma: quanto mais uma página é citada, maior será a sua relevância, o que faz com que ela apareça melhor e com mais frequência nos resultados. A reclamação atual é que os resultados relevantes estão enterrados no índice.

Para a reportagem, o Google afirma que sabe que as buscas podem melhorar, mas que tem uma abordagem meticulosa para medir a qualidade da busca, além de fazer refinamentos para garantir a melhoria contínua da qualidade dos resultados. “Nossas métricas internas nos mostram que estamos conseguindo”, diz a nota da empresa.

Carro-chefe

Atualmente, o mecanismo de pesquisa representa a maior fatia do faturamento da empresa, com cerca de 58% da receita total — no último trimestre, a área cresceu 11% e faturou US$ 39,5 bilhões. A representação no mercado também é bastante grande: cerca de 90% do ecossistema de buscas é dominado pelo Google e já são mais de 8 bilhões de pesquisas diárias feitas na plataforma, de acordo com um levantamento divulgado pela empresa de pesquisas Hubspot.

Com os números gigantes, a empresa enfrenta duas situações com o mecanismo de busca: ao mesmo tempo em que precisa olhar para o seu produto principal frente às demandas de usuários, a empresa está segura que seu mecanismo ainda não encontra concorrentes à altura no mercado.

Para quem cresceu com a internet dos anos 90/2000, talvez não faça sentido pensar em uma perda de hegemonia do Google. Mas pessoas mais novas, como a Geração Z, enxergam suas redes sociais bem além da interação com amigos ou trends do momento. O TikTok, por exemplo, tem crescido como motor de buscas entre jovens.

“Em nossos estudos, cerca de 40% dos jovens não vão ao mapa ou à ferramenta de busca do Google quando procuram onde almoçar. Eles vão ao TikTok ou ao Instagram”, disse Prabhakar Raghavan, executivo da gigante da tecnologia na área de conhecimento e informação, em evento organizado pela revista americana Fortune em julho de 2022. Segundo ele, as gerações mais novas querem conteúdo imersivo, com formatos “ricos”, como vídeos.

É uma mudança importante na organização da aglutinação de conhecimento na internet, que está migrando de sites indexados na web. Com redes sociais e interações cada vez mais nichadas, as informações ficam registradas em plataformas onde o buscador “não chega”.

“Hoje, muito da interação orgânica das pessoas com a internet fica concentrada nas redes sociais. O conceito de construir uma teia de informações na web está caindo. As pessoas basicamente pararam de construir a web em sites abertos”, explica Fábio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação do Insper.

Sobre as novas formas de procurar conhecimento, a companhia diz: “Não existe apenas uma maneira pela qual as pessoas desejam interagir com as informações. Agora existem mais tipos de informação ao seu alcance do que nunca – em imagens, vídeo, áudio e texto – e a nossa capacidade de compreender todos os tipos de informação tem continuado a melhorar. Portanto, a maneira como abordamos o desenvolvimento da busca é primeiramente pensando nas necessidades do usuário e criando soluções que sejam úteis para eles”.

https://www.estadao.com.br/link/cultura-digital/mecanismo-de-busca-do-google-esta-pior-entenda-o-que-acontece-com-o-servico/

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