‘Lives’ atraem patrocínio de marcas

Apresentações ao vivo pela internet foram maneira encontrada pela indústria da música para enfrentar quarentena 

Um dos primeiros setores afetados pelas medidas de isolamento social de combate ao coronavírus, a indústria de entretenimento ao vivo conseguiu transferir ao menos parte de seu palco para a internet e está atraindo cada vez mais público e patrocinadores para “lives” de artistas. 

A empresa de máquina de cartões Stone, por exemplo, foi atraída para a apresentação da cantora sertaneja Marília Mendonça, uma das maiores audiências até aqui. Mais de 3 milhões de pessoas assistiram simultaneamente à transmissão feita na sala da cantora em Goiânia, com instrumentos em playback. 

Diretora de marketing da Stone, Alessandra Giner diz que a crise do coronavírus atingiu o varejo brasileiro de “forma dura” e que a intenção da marca na apresentação era se comunicar com os lojistas. Ela não informou o investimento da marca para aparecer como parceira durante a transmissão. 

 “Em março criamos o movimento Compre Local – Cuide do Pequeno Negócio, que deu origem ao nome da Live Local da Marília Mendonça. Para nós ficou evidente que o momento pedia uma abordagem com absoluto foco em ajudar nosso cliente, que movimenta cerca de 27% do PIB”, afirma a diretora. 

A maioria das empresas e dos artistas associa as lives a questões humanitárias. Ontem, os irmãos Sandy e Junior se apresentaram ao vivo pela internet para arrecadar alimentos para o programa “Fome de Música”, que direciona doações para mais de 6 mil instituições cadastradas em todo o país. A apresentação foi apoiada pelas empresas Casas Bahia e pela Elo. A rede de eletrodomésticos foi patrocinadora e a Fundação Casas Bahia se comprometeu a doar R$ 1 a cada R$ 1 doado pelo público. A Elo já havia patrocinado a turnê da duplas antes do coronavírus. 

“A própria dupla fez toda a produção de equipamentos e câmera de forma a evitar a aglomeração de equipes e seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde”, conta Ilca Sierra, diretora de marketing da Via Varejo, controladora da Casas Bahia. Ela não revelou o valor do patrocínio. 

Outra companhia que tem apoiado “lives” é a Ambev, que patrocinou a apresentação ao vivo do cantor sertanejo Gusttavo Lima, com pico de audiência de 731 mil pessoas. Internacionalmente, o festival “One World: Together At Home”, exibido no sábado, reuniu marcas como Coca-Cola e Cisco. 

Empresário do setor de entretenimento, Luiz Calainho diz que as “lives” são um exemplo da capacidade da economia criativa de se reinventar em momentos difíceis. Ele lembra que as apresentações começaram de forma espontânea, com artistas como Paul Simon e Jon Bon Jovi gravando de casa, com voz e violão. 

“O modelo de apresentação ao vivo pela internet vai ficar após a pandemia, é uma formato que está encantando as pessoas, que permite interação com o público. Não vai substituir o show presencial, claro, mas é um produto a mais que surge para ser explorado”, diz Calainho, para quem o conceito dá acesso ao público que não pode pagar ingresso. 

O empresário quer levar esse conceito para o mercado teatral. Dentro de três semanas, ele começa a lançar apresentações com transmissões ao vivo pela internet. Serão essencialmente monólogos, com patrocínio de empresas. Ele diz que estão acertados nomes com Marcelo Serrado, Fábio Porchat e Karen Acioly. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/04/22/lives-atraem-patrocinio-de-marcas.ghtml

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