Wei Dilong, 18 anos, vive em Liuzhou, no sul da China. Ele gosta de basquete, hip-hop e super-heróis. Pretende estudar química no Canadá quando for à universidade. Wei é um adolescente chinês típico. Isso também se reflete em seus hábitos na internet: nunca ouviu falar do Facebook ou do Twitter e tem uma mínima noção do que é o Google. “Seria como o Baidu?”, questiona, referindo-se ao serviço de busca líder na China.
É algo que cria uma defasagem enorme em relação a outros países. Acostumados com os serviços online e aplicativos domésticos, muitos chineses não se interessam em saber o que foi censurado, o que permite às autoridades em Pequim criarem um sistema alternativo que compete com a democracia liberal ocidental. E é uma tendência que se propaga: hoje, a China exporta seu modelo de internet censurada para outros países, como Vietnã, Tanzânia e Etiópia.
Para as gigantes de internet dos EUA, a esperança de uma participação no mercado consumidor chinês – o maior do mundo, vale lembrar – se torna cada vez mais um sonho impossível.
Nos últimos tempos, o Partido Comunista da China deixou claro que vai aumentar o controle ideológico sob a presidência de Xi Jinping. No primeiro semestre, a Cyber Administration China, órgão regulador da internet no país, informou ter fechado ou revogado as licenças de mais de três mil sites.
As empresas americanas, porém, continuam buscando “furar a Muralha da China”. Em julho, o Facebook tentou abrir um escritório no país, mas teve sua licença retirada. Já o Google, diz o site The Intercept, estaria trabalhando em uma versão censurada de seu motor de busca para voltar ao mercado chinês, de onde saiu em 2010. O projeto provocou protestos dos funcionários da gigante, que veem nele uma ameaça à privacidade dos usuários. E mesmo que consigam entrar na China, as americanas terão de se defrontar com a apatia dos jovens locais.
Indiferença. Após uma pesquisa de 18 meses, dois economistas, das universidades de Pequim e de Stanford, chegaram à conclusão de que os universitários chineses são indiferentes quanto a ter acesso a informação sensível e censurada. O método foi simples: eles forneceram a mil estudantes do país ferramentas gratuitas para contornarem a censura.
Mais da metade deles não fez uso delas. Entre os que fizeram, quase nenhum perdeu tempo navegando por sites de notícias outrora bloqueados. “Nossa pesquisa sugere que a censura na China é eficaz. O regime não só dificulta o acesso à informação sensível, mas também fomenta um ambiente em que os cidadãos não fazem questão dessas informações”. É o caso de Zhang Yegiong, de 23 anos. “Cresci com o Baidu, estou acostumado com ele”, disse ela, que trabalha em um serviço de e-commerce local.
É uma atitude bem diferente de quem nasceu na década de 1980, uma geração “rebelde”. Um de seus integrantes mais famosos era Han Han, blogueiro que questionava os valores do país. Hoje, não há chineses como ele – nem o próprio Han, que hoje tem 40 milhões de seguidores no Sina Weibo, o Twitter chinês. Suas postagens, porém, versam sobre seus negócios, filmes e carros de corrida.
Em março, quando a chinesa Tencent, dona do WeChat, uma espécie de WhatsApp chinês, realizou uma pesquisa com 10 mil pessoas nascidas depois de 2000, 80% dos entrevistados disseram que a China está no seu melhor momento. Quase a mesma porcentagem se disse otimista com seu futuro.
É no que crê Shen Yanan, de 28 anos, que trabalha num site de imóveis em Baoding, perto de Pequim. Ela se descreve como patriota e otimista. Todas as noites, assiste a novelas coreanas no celular, mas não tem nenhum app de notícias – afinal, não se interessa por política. Mesmo quando foi ao Japão, só usou o Google Maps. “Os apps chineses têm tudo que preciso”, diz.
Já Wen Shengjian, de 14 anos, quer ser um rapper, inspirado em ídolos como Drake e Kanye West. Para ele, porém, as críticas sociais não funcionariam na China – “um país em desenvolvimento e que precisa de estabilidade social”. É o discurso do Partido Comunista, que os livros repetem o tempo todo.
Fã de basquete, o jovem até conhece nomes como Google, Facebook e Instagram. Mas nunca os usou – um amigo de seu pai lhe disse que “não são apropriados para o desenvolvimento do socialismo chinês.” Ele concorda: “não precisamos deles”.