iPhone pronto para 5G, mas sem carregador

A Apple ampliou sua oferta de smartphones para acirrar a disputa no segmento de alto padrão. A maior empresa do mundo, que passou a valer mais de US$ 2 trilhões, tem nos iPhones sua maior receita – US$ 26,4 bilhões somente no segundo trimestre do ano. 

“Esse é mais um grande ano para o iPhone”, disse Tim Cook em transmissão ao vivo da sede da empresa no Apple Park, em Cupertino, na Califórnia (EUA), pela internet, ao anunciar os novos smartphones prontos para conexão com redes móveis na tecnologia 5G, que ainda não está disponível no Brasil. O leilão das frequências 5G para as operadoras deve ocorrer na primeira metade de 2021. “Isso marca o início de uma nova era para o iPhone”, acrescentou o CEO. 

O evento começou com o anúncio de uma nova linha de assistentes inteligentes de voz, Home Pod mini, ainda sem previsão de lançamento no Brasil, mas logo o executivo revelou que a linha iPhone 12 ganhou uma versão mini, com tela de 5,4 polegadas, enquanto o iPhone Pro passou a ter uma opção com a maior tela de todas as gerações, com 6,7 polegadas. 

Os aparelhos anunciados um mês após o habitual, por conta da pandemia, ainda não têm preços ou data de chegada ao Brasil. Isso significa que a Apple terá de correr se quiser que seus aparelhos cheguem às prateleiras antes do Natal e ao lado de rivais como Samsung, líder de vendas no País, e Motorola, segunda colocada segundo a IDC. 

Apesar de uma gama maior de modelos e avanços em desempenho e resolução, à exceção da linha Pro, que traz recursos de vídeo profissionais e realidade aumentada, os iPhones 12 não tiveram um salto em design como em lançamentos anteriores. Além disso, o iPhone mais barato da nova geração custa US$ 100 a mais em relação a um iPhone 11 e vem sem carregador ou fones. A embalagem menor, com um cabo no lugar do carregador e sem fones é justificada pela meta da Apple de zerar suas emissões de carbono até 2030. 

No Brasil, a Apple briga em um segmento de aparelhos com valores acima de R$ 2,5 mil, que representam 8% das vendas de smartphones, segundo a IDC, e contando com rivais à altura. 

Sem o apelo do design ou das redes 5G, a empresa também encontra um mercado mais maduro e adepto dos aparelhos intermediários. “O consumidor começa a perceber que não precisa pagar mais de R$ 3 mil por um aparelho com boas especificações”, disse Renato Meirelles, analista de consumo e dispositivos móveis da IDC Brasil. 

“O brasileiro já sabe o que buscar em termos de característica de um aparelho, como memória, armazenamento, telas maiores e com melhor resolução para ‘streaming’ e câmera avançada”, explicou o analista. Segundo ele, a evolução no comportamento de consumo de smartphones, especialmente nas classes B e C, elevou a participação de aparelhos com preços de R$ 1,2 mil a R$ 2,49 de 24% das vendas no segundo trimestre de 2019 para 42% entre abril e junho deste ano, segundo a IDC. Já a categoria premium passou de 7% para 8% das vendas. 

Meirelles destacou que a concorrência vai crescer. Considerando que o Brasil é o quarto maior mercado em vendas de smartphones, atrás de China, Estados Unidos e Índia, os fabricantes devem se preparar para uma entrada mais forte das empresas chinesas no segmento intermediário. No segundo trimestre, a Huawei tomou da Samsumg a primeira posição do ranking global de smartphones, com 20% de fatia. Entre os cinco primeiros, três são chineses, incluindo Xiaomi e Oppo. 

O Brasil também é um dos maiores mercados da Motorola no mundo, representando 40% de suas vendas globais. Este ano, a fabricante decidiu apostar em modelos de alto padrão – desde 2013 abriu espaço no segmento intermediário com a linha Moto G. Segundo José Cardoso, presidente da Motorola no Brasil, a decisão partiu da demanda dos consumidores por mais funcionalidades. “Por causa da pandemia, algumas necessidades afloraram, como buscar aparelhos com tela maior, bateria mais durável e o acesso rápido à internet”, disse o executivo. 

Em julho, a Motorola lançou a linha de aparelhos Edge prontos para o padrão 5G e habilitados para uso na tecnologia de compartilhamento dinâmico de espectro (DSS, na sigla em inglês), que traz algumas funções da experiência 5G a algumas localidades, em parceria com a Claro e a Ericsson. “O isolamento despertou a necessidade de termos as redes 5G como ferramenta de trabalho e estudo”, disse. 

Para incentivar o consumidor a partir para os modelos premium, a fabricante aposta em parcerias com as operadoras para oferecer financiamentos mais longos. “É uma prática que ajuda bastante a viabilizar o desejo do consumidor”, disse o executivo. 

Já a Samsung, que provocou o comentário de Steve Jobs em 2010 de que “ninguém se interessaria em comprar um smartphone com tela grande”, traz uma tela de 6,9 polegadas na nova linha Galaxy Note 20, anunciada em setembro, como um dos modelos prontos para redes de quinta geração. 

Além disso, a empresa busca fazer pesquisas com seus consumidores e aceitar aparelhos antigos como parte do pagamento por smartphones novos. 

Antonio Quintas, vice-presidente da divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil, disse que o valor de troca para a nova linha Note 20 pode chegar a R$ 2,5 mil, dependendo do modelo do aparelho usado. 

O executivo destacou que o varejo é um importante parceiro nas vendas premium. “Tanto em nossas lojas quanto em parceria com os principais varejistas do país, procuramos oferecer as melhores condições de pagamento e vantagens a quem busca um novo smartphone”, afirmou. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/10/14/iphone-pronto-para-5g-mas-sem-carregador.ghtml

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