Inovação faz da voz a nova rainha do lar

Você é o tipo de pessoa que odeia cozinhar e arruma qualquer desculpa para jantar fora, detesta gastar tempo na área de serviço mesmo que a máquina de lavar roupa faça tudo sozinha e sempre leva o cachorro para passear só para não ficar em casa? Então, prepare-se para ser cada vez mais seduzido pela indústria de eletrônicos e eletrodomésticos. Essas empresas decidiram aproveitar a conectividade e evolução tecnológica dos equipamentos para convencê-lo de que ficar em casa cercado por coisas que obedecem a seu comando de voz é um grande prazer.

Os fabricantes estão munidos de dados para entrar em ação. Menos de 60%
 das refeições consumidas nas casas americanas são preparadas na cozinha daquele lar, segundo o vice-presidente de marketing e da internet das coisas da Whirlpool, Brett Dibkey. O executivo está convencido de que as pessoas gostariam de cozinhar mais se contassem com mais tecnologia.

Há pouco mais de um ano, a Whirlpool adquiriu a Yummly, startup especializada em guias digitais de preparação de receitas. Demonstrações práticas de como isso funciona estão espalhadas em caprichadas cozinhas expostas no estande que a gigante americana armou na Consumer Electronics Show (CES), a maior feira de tecnologia do mundo. E para quem não gosta nem de pensar em ter de fazer a lista de ingredientes, Dibkey tem a solução: em pouco tempo bastará escanear a geladeira com o celular. Em poucos segundos, um aplicativo dará dicas para preparar uma refeição sem ter que ir ao supermercado. O mesmo processo pode ser usado para controlar desperdício de comida.

A conectividade entre todos os aparelhos domésticos ainda levará um bom tempo. Mas não estamos muito longe de saber, por meio dos próprios eletrodomésticos, o momento de fazer uma boa limpeza no fogão, diz Anne Rucker, diretora global de estratégia digital da Bosch. Ou, mais simples ainda, de a coifa ligar ao primeiro sinal de gordura saindo da frigideira. Muito desse trabalho já está sendo feito no mundo há algum tempo por assistentes virtuais acionados por voz, como a Alexa, da Amazon.

“Os dispositivos que temos em casa precisam cada vez mais falar entre si”, destaca o diretor de soluções inteligentes da LG, Henry Kim. Anne Rucker diz que a Bosch investe em torno de 5% do seu faturamento em pesquisas cada vez mais voltadas ao comportamento do consumidor diante da evolução tecnológica dos aparelhos.

A Whirlpool tem avançado também no segmento de lavadoras, cada vez mais inteligentes. Para evitar que você tenha o trabalho de medir a quantidade de sabão toda vez que vai lavar roupa, a empresa apresenta em Las Vegas uma máquina com compartimento para sabão suficiente para 40 lavagens. “É como abastecer o tanque do seu carro”, explica a demonstradora. O próprio equipamento se incumbe de usar a quantidade certa a cada ciclo. E se quiser saber quanto falta para as roupas ficarem limpas sem ter que se levantar do sofá, basta perguntar à Alexa.

Os fabricantes de eletrodomésticos e eletrônicos dizem estar convencidos de que o consumidor vai querer ficar cada vez mais casa se a indústria acertar no desenvolvimento dos produtos. “Juntar a família na cozinha é um comportamento antigo que está cada vez mais em moda”, afirma Dibkey.

Buscar tecnologia para viver melhor não significa apenas usar a voz para pedir um expresso à sua cafeteira. Uma pesquisa da consultoria Deloitte, apresentada em um debate durante a CES, indica a tendência de as novas gerações buscarem na tecnologia meios de controlar a saúde.

A pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que 75% dos entrevistados disseram usar algum tipo de alerta para saber o horário de tomar remédios. O índice tende a ser maior quando a questão é feita aos chamados “millennials”, a geração que tem entre 18 e 35 anos, segundo Melissa Andresko, diretora da empresa de eletrônicos Lutron. Segundo ela, a companhia trabalha agora em soluções para atender àqueles que não viajam sem deixar uma luz acesa para “fingir para o ladrão” que tem gente em casa.
Segundo ela, uma pesquisa nos EUA mostra que 55% das pessoas disseram ficar preocupados quando saem de férias e 85% admitiram deixar uma luz acesa.

Tecnologia e conectividade ampliaram o envolvimento humano com objetos que os obedecem. Em alguns casos, porém, a pessoa corre o risco de criar afeição pelo equipamento.

Uma das maiores atrações na CES é a nova versão do robô da Sony em formato de cãozinho. “Ele não vai lavar a sua roupa, mas vai te acordar quando alguém bater à porta”, afirma a porta-voz da Sony nos EUA, Cheryl Goodman.

Cheryl apresentou o pequeno Aibo na CES. Quando o cãozinho saiu latindo pelo palco, boa parte da plateia, principalmente as mulheres, levantou-se para acariciá-lo. Aibo está à venda nos EUA e no Japão desde novembro. Custa US$ 2,9 mil no mercado americano. O preço da inovação é alto. Mas se você passar a gostar mesmo de ficar em casa não vai precisar levá- lo para passear.

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