Desaceleração da Apple na China exige mudança radical do iPhone

A Apple vem operando há anos sob a suposição de que tem o direito de ditar o gosto do planeta. Seus problemas na China levaram alguns observadores atentos a dizer que ela precisa mudar.
Os poucos modelos de iPhone que a Apple anuncia a cada setembro são oferecidos aos compradores mundiais em termos de “ame-o ou deixe-o”.
A fórmula foi rejeitada no mais recente trimestre da empresa, quando as vendas da Apple na região da China caíram em 27%, para US$ 13,17 bilhões (R$ 48 bilhões).
Isso resultou no alerta, em janeiro, de que as projeções de receita da empresa não seriam cumpridas. As ações da Apple, que já estavam pressionadas, caíram ainda mais.
Alguns analistas e ex-funcionários sugerem uma mudança radical: pôr fim à abordagem de um produto único para todos os mercados e pressionar agressivamente pela diferenciação dos aparelhos e aplicativos oferecidos na China.
“Eles não estão se adaptando com rapidez suficiente”, disse Carl Smit, antigo executivo de varejo da Apple na Ásia e hoje consultor estratégico de vendas.
“Esses apps e sistemas são a forma pela qual as pessoas se comunicam na China e, se você não oferece integração impecável, isso confere uma vantagem aos fabricantes chineses”, afirmou.
Um porta-voz da Apple se recusou a comentar.
Na terça-feira (29), a Apple informou que condições econômicas precárias e demanda inferior à esperada pelo iPhone haviam prejudicado seus negócios na China.
Tim Cook, presidente-executivo da companhia, disse que a empresa estava encetando diversas iniciativas para melhorar os resultados, como simplificar a troca de modelos antigos do iPhone e oferecer planos de financiamento.
A Apple também baixou o preço de seu iPhone XR.
Criar modelos de iPhone mais adaptados ao mercado chinês poderia ajudar a Apple a enfrentar a concorrência crescente de empresas locais como a Huawei e a Xiaomi.
Também permitiria que o comando local da empresa fosse mais ágil diante de eventos inesperados como a disputa comercial entre EUA e China, que causou rejeição de chineses a marcas americanas.
As operações da empresa na China estão entre as maiores contribuições de Cook à Apple. Elas mais que dobraram, para mais de US$ 50 bilhões (R$ 184 bilhões) anuais em receita, desde que ele se tornou presidente-executivo, em 2011.
O mercado chinês é o segundo maior para a Apple, atrás apenas do americano.  Mas Huawei, Xiaomi e outros desafiaram a Apple com o lançamento de dezenas de produtos a cada ano, direcionados aos consumidores locais e atendendo ao seu gosto mutável.
As vendas da Apple na China tropeçaram pela primeira vez em 2016.
Ainda que o iPhone X, um modelo de alto preço, ajudasse a região a reconquistar o crescimento de vendas no ano fiscal encerrado em setembro, a receita total na China ficou 12% abaixo do pico registrado no ano fiscal de 2015.
A equipe da Apple na China está pressionando os executivos da sede, em Cupertino, Califórnia, para que acompanhem o ritmo, disseram ex-empregados. Já em 2012 e 2013, empregados da divisão chinesa da Apple sugeriram que ela lançasse celulares com dois chips.
“Nós dizíamos que era aquilo que os consumidores queriam”, disse Veronica Wu, que trabalhou em vendas para a Apple na China antes de se tornar executiva de capital para empreendimentos na Hine Capital. Os executivos de produtos da Apple foram “reticentes”.
Os celulares com dois chips se tornaram tão populares que cerca de 93% dos smartphones vendidos na China oferecem esse recurso, de acordo com o grupo de pesquisa de mercado Canalys.
Mas a Apple só lançou iPhones com capacidade para dois chips em setembro passado. iPhones específicos para a China criariam novos custos e complexidades, que ameaçariam as margens de lucros. 
Outras companhias há muito tempo adaptam seus modelos ao enorme mercado da China, dos biscoitos Oreo com sabor de chá verde vendidos pela Mondelez International aos carros da marca Baojun, uma joint-venture da General Motors.
A carta de Cook a investidores em 2 de janeiro não detalhava especificamente como a Apple planeja tratar da desaceleração na China, mas dizia que os negócios da empresa no país “têm um futuro brilhante”.
Ele apontou que o número de aparelhos da Apple ativos na China cresceu no ano passado e que a receita do segmento de serviços havia subido no quarto trimestre de 2018 na região chinesa, que inclui Hong Kong e Taiwan.
A empresa está tentando ser mais rápida. Em 2017, apontou Isabel Ge Mahe como executiva responsável por supervisionar a região chinesa. Cabe a ela monitorar o mercado e garantir que a Apple conte com os recursos certos para os usuários chineses.
A empresa também apontou recentemente um diretor para seu grupo de serviços de internet na China, uma equipe de dez pessoas, com nomes revelados no LinkedIn, cuja missão é criar mais software adaptado à China.

https://www1.folha.uol.com.br/tec/2019/02/desaceleracao-da-apple-na-china-exige-mudanca-radical-do-iphone.shtml

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