A Índia é o mais recente país a enfrentar uma grave crise energética que coloca em risco sua recuperação pós-covid. Autoridades alertam que os estoques de carvão das usinas geradoras de energia estão perigosamente baixos.
Segundo o Ministério da Energia, as 135 usinas termelétricas da terceira maior economia da Ásia tinham na sexta-feira estoques de carvão para apenas quatro dias, em comparação aos 13 dias de suprimentos no começo de agosto. Das usinas monitoradas diariamente, mais da metade estão com estoques para menos de três dias.
Os problemas de escassez de energia já prejudicam a economia da vizinha China, onde a atividade industrial contraiu pela primeira vez no mês passado desde o começo da pandemia. Pequim ordenou às estatais de estatais que assegurem o fornecimento de combustíveis fósseis a qualquer custo para evitar a escassez de energia nos próximos meses de inverno, o que contribui para a alta dos preços para outros países, como a Índia.
“O setor de energia indiano enfrenta uma tempestade perfeita”, diz Aurodeep Nandi, economista da Nomura Financial Advisory and Securities para a Índia. “Você se encontra numa situação em que a demanda é alta, sua oferta é baixa no lado interno e você não repôs os estoques via importações.”
As usinas geradoras de energia da Índia reduziram as importações de carvão nos últimos meses, em virtude do aumento dos preços internacionais por causa da forte demanda global.
Ainda assim, o fornecimento interno de carvão mais barato – quase 80% dele oriundo da enorme e ineficiente estatal Coal India, não consegue acompanhar o aumento da demanda interna.
O Ministério da Energia disse no fim de semana que as pesadas chuvas de setembro em áreas mineradoras afetaram tanto a produção como a entrega de carvão, e as usinas não conseguiram repor seus estoques antes da temporada das monções. Ele instruiu as usinas de energia a acumular estoques, na expectativa de que a demanda permaneça “nos níveis atuais”.
A escassez agora levanta o risco de apagões em grande escala, preços maiores da eletricidade para os consumidores, ou um perdas financeiras às geradoras de energia, numa economia em que as usinas movidas a carvão hoje respondem por 66% da geração de energia.
“Basicamente, ficamos tão concentrados na recuperação da demanda na pandemia, que esses problemas do lado da oferta não mereceram atenção até que começaram a se intensificar”, diz Nandi.
O consumo de energia da Índia em agosto e setembro aumentou para 124,2 bilhões de unidades, ante 106 bilhões de unidades nos mesmos dois meses de 2019, com a acentuada queda no número de casos de covid-19 – e um grande avanço na vacinação – encorajando muitos indianos a retomar suas atividades normais.
Mas o preço do carvão da Indonésia subiu de US$ 60/t em março para US$ 200/t em setembro, desestimulando as importações.
Há muito a Índia quer reduzir sua dependência do carvão importado, que vem contribuindo para o seu déficit comercial, mas Nandi diz que o governo precisa ajudar urgentemente a Coal India a elevar sua produção, caso contrário as geradoras de energia terão de aumentar as importações, independentemente dos preços. “Se o governo não aumentar a produção ou se as importações não aumentarem, haverá cortes de energia.”
