Núcleo: RAIA Risk Analysis and International Affairs
Coordenador: Professor Raphael Almeida Videira
Os eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes e menos esporádicos do que antes. Esses eventos incluem chuvas torrenciais destrutivas, como as tempestades no Rio Grande do Sul em maio de 2024, e as ondas de calor que têm atingido o Brasil recentemente.
Considerando as ondas de calor, segundo dados do INPE[1], o Brasil presenciou um aumento muito forte destes eventos. No período considerado entre 1991 e 2000, os dias com calor extremo atingiram 20 dias, sendo que no período compreendido entre 2011 e 2020, este número passou para 52 dias, um aumento de 160%.
Com este cenário, é importante avaliar os potenciais impactos de mudanças climáticas sobre a economia. A literatura econômica preocupada com este tema busca relacionar as mudanças na temperatura ao longo dos anos com o crescimento do PIB de cada um dos países. Kahn et al (2021)[2] realizam uma investigação sobre os efeitos de mudanças climáticas e seus impactos econômicos. A amostra contempla 174 países e o período entre 1960 e 2014. Os resultados apontados pelos autores é que o aumento da temperatura leva à uma redução do PIB, seja em países desenvolvidos (onde este efeito é menor), seja em países em desenvolvimento (onde este efeito é potencializado).
Já Cevik & Jalles (2023)[3] estudam a relação entre a vulnerabilidade de mudanças climáticas e a desigualdade de renda. Neste caso, a vulnerabilidade de mudanças climáticas é um conjunto de variáveis que ilustram a possibilidade dos países em lidar, adaptar-se e mitigar tais mudanças. Os dados avaliados pelos autores contemplam 158 países para um período entre 1995 e 2019. Os resultados encontrados pelos autores mostram que um aumento na vulnerabilidade de mudanças climáticas ocasiona um aumento na desigualdade de renda. O mais alarmante é que este resultado é verificado em países em desenvolvimento e não em países desenvolvidos, ou seja, a desigualdade existente acaba por ser agravada.
A grande questão que é posta nesse cenário não é sobre a existência ou não de mudanças climáticas, é sobre quais as estratégias de mitigação e de adaptação que podem ser feitas para minimizar os seus efeitos.
Segundo Raihan (2023)[4] os efeitos das mudanças climáticas são sentidos por praticamente todos os setores econômicos e, neste caso, demandam esforços coordenados entre instituições nacionais e internacionais. O autor sugere um conjunto de medidas de mitigação (que visam a redução da magnitude da mudança climática) que tratam desde a conservação da biodiversidade e do ecossistema, passando pela redução do desmatamento e da descarbonização da economia, até medidas de adaptação que visam a minimização dos efeitos nocivos, tais como manejo florestal sustentável à eficiência energética.
Para que estas medidas possam ser postas em prática, é necessário um efeito coordenado entre o setor público e o setor privado, pois como disse Ban Ki-moon “Não existe Planeta B”[5].
[1] https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2023/11/numeros-de-dias-com-ondas-de-calor-passaram-de-7-para-52-em-30-anos
[2] KAHN, Matthew E. et al. Long-term macroeconomic effects of climate change: A cross-country analysis. Energy Economics, v. 104, p. 105624, 2021.
[3] CEVIK, Serhan; JALLES, João Tovar. For whom the bell tolls: Climate change and income inequality. Energy Policy, v. 174, p. 113475, 2023.
[4] RAIHAN, Asif. A review of the global climate change impacts, adaptation strategies, and mitigation options in the socio-economic and environmental sectors. Journal of Environmental Science and Economics, v. 2, n. 3, p. 36-58, 2023.
[5] https://ibram.org.br/noticia/nao-existe-planeta-b-alerta-ban-ki-moon/