Quando Elon Musk disse em junho que a Hyundai estava “indo bastante bem”, a montadora sul-coreana não dava a impressão de que representaria uma ameaça competitiva séria à Tesla. No entanto, os números mais recentes sobre as vendas e algumas semelhanças entre a Apple e a Samsung nos anos 2010 sinalizam que o ritmo de mudanças está em aceleração.
A Hyundai Motor e a afiliada Kia assumiram o segundo lugar, atrás da Tesla, no mercado de carros elétricos dos Estados Unidos, em unidades vendidas em 2022. A participação de mercado de ambas na Europa atingiu 12% depois de terem conseguido os maiores ganhos de participação em 2021 entre todas as montadoras. No mundo, excluindo a China, Hyundai e Kia combinadas são a segunda maior na área de carros elétricos em unidades vendidas, com uma participação de mercado somada de 14%. A Tesla ocupa o primeiro lugar com 27%.
A diferença reflete a vantagem competitiva conquistada pela Tesla em mais de dez anos nos quais manteve sua posição de líder no mercado. É difícil replicar o fator “cool” da Tesla – estudos de marca a classificam como a montadora “mais legal” entre a geração Y. Também é difícil replicar sua rede de abastecimento rápido, as atualizações remotas de software e os gigantescos volumes de dados de seus motoristas que, combinados a algoritmos de aprendizagem de máquina, aperfeiçoam continuamente seus softwares.
O mais novo impulso para a Tesla chegou na semana passada. A lista de carros aptos a receber créditos tributários com a recém-assinada Lei de Redução da Inflação, do presidente dos EUA, Joe Biden, inclui todos os quatro modelos da Tesla à venda atualmente, mas nenhum fabricado pela Hyundai ou Kia.
É possível fazer uma comparação mais profunda analisando as margens de lucro. O ágil modelo de negócios da Tesla permite à montadora gordas margens operacionais, de 16%, mais que o dobro dos 6% da Hyundai – que tem linhas de produtos mais a mais amplas e precisa lidar com um sindicato forte.
O valor das ações reflete esse contraste – e a divergência das expectativas do mercado. As ações da Tesla são negociadas a um valor equivalente a 60 vezes o lucro futuro, um múltiplo mais de dez vezes maior que o da Hyundai. O aumento nas vendas de carros elétricos da Hyundai e o resultante lucro recorde em seu trimestre mais recente pouco fizeram para mudar o pessimismo relativo na comparação com a líder.
Ainda assim, o ritmo de mudanças na Hyundai foi muito mais rápido do que se imaginava. Seu sedã elétrico Ioniq 6 tem alcance de até 610 km (379 milhas) com uma única carga – superior ao do Model Y e do Model 3 Long Range, da Tesla. Seu utilitário esportivo elétrico Ioniq 5 se tornou o carro elétrico importado mais vendido nos EUA.
