Huawei tem chip para sair na frente da Apple

A Huawei Technologies está posicionada para ultrapassar a Samsung, a Apple e a Qualcomm com o lançamento de dois dos chips mais avançados do mundo nos próximos meses, apesar das medidas duras dos Estados Unidos contra exportações para a principal empresa de tecnologia da China, segundo fontes familiarizadas com o assunto contaram à revista “Nikkei Asian Review”.
A iniciativa de lançar um chip avançado de telefonia móvel e um “chipset” para processador com modem 5G integrado ocorre num momento em que muitos observadores duvidam da capacidade da China de reduzir a distância que a separa dos EUA na área de semicondutores de alta tecnologia.
Ren Zhengfei, fundador da Huawei: meta da empresa é vender 10 milhões de smartphones com 5G até o fim do ano
Mas a Huawei vai lançar seus chips meses à frente de suas rivais, apesar da guerra comercial que cortou seu acesso a canais vitais de fornecimento de peças e software. Segundo fontes, a empresa também se prepara para lançar o novo modelo de seu principal smartphone de ponta, o Mate 30, no outono do hemisfério Norte, embora as perspectivas continuem incertas enquanto seu acesso ao sistema operacional Android, do Google ainda estiver em dúvida, como resultado das restrições dos EUA.
A Huawei estocou componentes e certificou fornecedores alternativos não americanos depois da prisão de seu executivo financeiro chefe, Meng Wanzhou, no ano passado, o que a ajudou a manter seus cronogramas de lançamentos.
Como resultado de sua maior autossuficiência, a cadeia de fornecimento da Huawei no longo prazo será alterada permanentemente, disseram fontes a par da estratégia da empresa. As medidas terão consequências para muitos dos maiores nomes no setor de semicondutores dos EUA, incluindo Micron Technology, Qualcomm, Broadcom e Texas Instruments, que têm na empresa chinesa uma de suas principais clientes.
“Ainda haverá muitos componentes americanos nos seus novos produtos no segundo semestre deste ano”, disse uma das fontes. “Mas entre um e três anos, a prioridade da Huawei será determinar planos detalhados de contingência e imaginar um mundo sem fornecedores americanos.”
Fornecedores americanos já levaram suas preocupações ao presidente Donald Trump, que parece ter moderado sua posição sobre a Huawei, já que os negociadores de Washington irão para Xangai na semana que vem em nova tentativa de resolver a guerra comercial prolongada entre os dois países.
Na semana passada, Trump reuniu-se com executivos de sete empresas de tecnologia, incluindo Google, Intel, Micron e Qualcomm, e aceitou seu pedido de que tome decisões rápidas sobre os requerimentos de licença para abastecer a Huawei.
O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, disse à Bloomberg Television na terça-feira passada que o governo Trump vai decidir sobre cerca de 50 requerimentos de isenção de 35 empresas nas próximas semanas.
Ainda assim, a Huawei não vai reverter suas tentativas de reduzir a dependência de fornecedores americanos, segundo disseram fontes à Nikkei Asian Review.
Os dois novos chips da Huawei são um marco significativo de seus esforços nessa área. O processador de telefonia móvel, batizado de Kirin 985, foi projetado pela divisão de chips da Huawei, a HiSilicon Technologies. Será o primeiro chip do mundo a usar a tecnologia de ponta de radiação ultravioleta extrema (EUV) e é produzido pela Taiwan Semiconductor Manufacturing, a maior fabricantes de chips por encomenda do mundo.
Segundo fontes, a Apple e a Samsung não adotarão a tecnologia EUV para processadores móveis até o ano que vem.
O fornecimento desses chips de ponta começou no segundo trimestre, informaram as fontes. Isso permitirá à Huawei estrear neste outono seu smartphone premium da linha Mate 30, projetado para competir com os novos iPhones. Estes são os processadores de telefonia móvel mais avançados do setor, com um desempenho em computação mais poderoso e menor consumo de energia.
A Huawei também trabalha em um novo chipset para telefonia móvel com um modem 5G integrado no sistema, cujo lançamento está previsto para o último trimestre deste ano, segundo duas fontes. Isso a colocaria à frente dos planos da principal desenvolvedora de chips para telefonia móvel do mundo, a Qualcomm, que pretende comercializar plenamente sua plataforma integrada de 5G na primeira metade de 2020.
A Huawei planeja colocar no mercado a edição 5G do Mate 30 na segunda metade deste ano e definiu uma meta agressiva, de vender 10 milhões de smartphones com 5G até o fim de 2019, segundo uma das fontes.
Na sexta-feira, a Huawei informou que também faria uma edição 5G da série Mate 20, que foi lançada no ano passado. A empresa afirma que será o primeiro smartphone 5G da China.
O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, disse à Yahoo Finance na semana passada que sua empresa planeja fornecer 270 milhões de telefones este ano, uma meta ambiciosa de crescimento de 30%. Os comentários otimistas de Ren contrastam com suas declarações anteriores de que as medidas duras de Washington tinham prejudicado as vendas no exterior de smartphones do grupo de tecnologia.
Mas a Huawei parece estar fazendo progressos na substituição de fornecedores com sede nos EUA por alternativas asiáticas. Segundo uma das fontes, a empresa já transferiu encomendas de amplificadores de potência e chips Wi-Fi que antes comprava da Skyworks, da Qorvo e da Broadcom para a Murata Manufacturing, do Japão, e a RichWave, de Taiwan.
A empresa chinesa também começou a produzir este ano um projeto próprio desses amplificadores de potência e componentes de radiofrequência, junto com a WIN Semiconductors, de Taiwan, disseram três fontes.
“O desempenho não é tão bom e o projeto da Huawei é sem dúvida mais caro, mas a empresa está fazendo isso de qualquer forma e vai substituir primeiro alguns produtos de baixo custo”, disse uma das fontes.
Remus Hsu, um analista de tecnologia do Market Intelligence & Consulting Institute, disse que a meta da Huawei de fornecer 270 milhões de celulares este ano é otimista, mesmo que a mudança da empresa para componentes próprios e fornecedores não americanos comece a dar resultados.
“A Huawei está se esforçando muito para reduzir a dependência dos fornecedores americanos”, disse Hsu. “Mas o desempenho de vendas de seus smartphones na segunda metade deste ano estará condicionado à obtenção do apoio das operadoras de telefonia ao redor do mundo.” A questão crucial, segundo o analista, é saber se a Huawei terá acesso ao sistema operacional Android, do Google, e se os aplicativos vão rodar bem.
Embora a Huawei pareça capaz de manter este ano o posto de número 2 dos smartphones, a decisão dos EUA de colocá-la na lista negra causou prejuízos e provocou incertezas sobre o futuro. Não será fácil encontrar alternativas para fornecedores americanos de componentes e software avançado tais como o sistema operacional Android e provedores de ferramentas para projetos de chips.
A Huawei não quis fazer comentários sobre o lançamento dos chips ou dos novos celulares, ou se está aumentando suas encomendas de fornecedores taiwaneses e japoneses. A Win Semiconductors e a RichWave não comentaram. Qualcomm, Skyworks, Broadcom, Qorvo e Lumentum e Murata não responderam aos pedidos de entrevista.

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