Governos da Ásia resistem às sanções e dão sobrevida à junta em Mianmar

Os americanos vêm tentando formar uma coalizão para punir os generais de Mianmar, mas não estão tendo sucesso em convencer os países da Ásia. A reputação do regime de Min Aung Hlaing despencou depois que os militares intensificaram a repressão aos protestos contra o golpe de Estado. O Conselheiro de Segurança Nacional do EUA, Jake Sullivan, diz que Washington está “coordenando com aliados na região” e tomará medidas adicionais após impor sanções contra os golpistas. 

O Reino Unido também impôs sanções aos generais e a União Europeia disse que fará o mesmo. Os países asiáticos, porém, não tomaram nenhuma ação concreta. Embora a Indonésia venha conduzido uma diplomacia discreta e Cingapura tenha condenado a violência, nenhum país da região apoia sanções ou medidas que afetariam a economia local.

Na terça-feira, os chanceleres da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que inclui Mianmar, pediram o “fim da violência” e “um diálogo construtivo”. Embora alguns ministros tenham pedido a libertação de Aung San Suu Kyi e um retorno à democracia, a declaração não a mencionou pelo nome e evitou usar a palavra “golpe”. O premiê de Cingapura, Lee Hsien Loong, disse que as sanções só prejudicariam a população e empurrariam Mianmar para o colo da China. “Dizer que vou agir contra eles, onde isso vai levar?”, questionou. 

Para os generais de Mianmar, a relutância da Ásia em aderir às sanções é uma salvação diplomática. Antes da abertura do país, há cerca de uma década, os laços comerciais com a Ásia permitiram que a junta sobrevivesse por anos, apesar das sanções ocidentais muito mais amplas do que as de agora. “A Asean tem um histórico incomparável de indiferença com o governo autoritário em Mianmar”, disse Lee Morgenbesser, professor da Griffith University, da Austrália.

Entre os dez países do Sudeste da Ásia, dois são governados por militares que deram golpes, dois são regimes comunistas sem eleições, dois têm partidos que governam há mais de duas décadas e um é uma monarquia absoluta. Malásia, Indonésia e Filipinas são as únicas democracias.

Hoje, China e Tailândia respondem por metade do comércio exterior de Mianmar, com os EUA e a Europa responsáveis por apenas 13%. Sete países asiáticos estão entre os dez maiores investidores do país. Em 2018, a estatal Viettel Group, do Vietnã, gastou US$ 1,5 bilhão para criar a operadora de telefonia móvel Mytel. A estatal PTT, da Tailândia, importa gás natural de Mianmar e disse que a situação política não impacta suas operações. Os generais de Mianmar dizem que não querem levar o país ao isolamento e prometem realizar eleições após um ano de estado de emergência.

Por enquanto, a chave para a sobrevivência do regime está na Ásia.

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