Mike Pompeo, o secretário de Estado dos EUA, culpou o Irã pelos atentados de ontem no Golfo de Omã que causaram danos a dois navios petroleiros, levaram à alta nos preços do petróleo e aumentaram a tensão no Oriente Médio.
Pompeo disse que a avaliação dos EUA “está baseada no serviço de inteligência, nas armas usadas, no nível de perícia necessário para a execução da operação, recentes e parecidos ataques iranianos a navios e no fato de que nenhum grupo financiado por um Estado na área possui recursos para agir com tamanho grau de sofisticação”.
O secretário, que não apresentou as evidências, acrescentou que pediu ao embaixador dos EUA na ONU, Jonathan Cohen, para abordar a questão no Conselho de Segurança. “A comunidade internacional condena o ataque do Irã à liberdade de navegação e a utilização de civis inocentes com alvos.”
Horas após a declaração de Pompeo, o ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, disse que seu governo concordava com a avaliação dos EUA. No Reino Unido, o ministro do Exterior, Jeremy Hunt, disse que “nosso ponto de vista é acreditar na avaliação dos EUA de que o Irã é o culpado pelos ataques”.
Por outro lado, os governos do Catar e dos Emirados Árabes Unidos (EAU), em notas separadas, pediram contenção para evitar uma escalada na tensão regional.
A missão iraniana na ONU divulgou nota dizendo que seu país “rejeita categoricamente as acusações infundadas dos EUA” com relação aos “incidentes” com os navios-petroleiros.
Os navios, um japonês e um norueguês, foram atingidos por armas desconhecidas e abandonados perto do Estreito de Ormuz, uma das rotas de navegação mais movimentadas do mundo e ponto de passagem estratégico para as exportações de petróleo da região. Nenhum grupo reivindicou responsabilidade pelos atentados.
A Kokuka Sangyo, com sede em Tóquio, disse que seu navio Kokuka Courageous ficou à deriva, mas toda a tripulação foi salva. Os proprietários noruegueses do Front Altair disseram que sua tripulação foi resgatada ilesa e transferida para um porto iraniano pela Marinha do Irã.
Os atentados ofuscaram a visita do premiê japonês, Shinzo abe, ao Irã, com o intuito de tentar atenuar a tensão entre EUA e Irã – em nível elevado desde que o presidente Donald Trump, no ano passado, retirou os EUA do acordo nuclear firmado em 2015 com Teerã.
Abe estava reunido com líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, quando a notícia dos atentados veio à tona. Após a reunião, Khamenei descartou qualquer diálogo com os EUA. “A República Islâmica do Irã não confia nos EUA”, afirmou o aiatolá.
Os incidentes, que ocorreram em águas entre o Irã e a península árabe, elevaram o preço do petróleo tipo Brent em até 4,5% na máxima do dia. No fechamento, o petróleo Brent teve alta de 2,2%.
O Front Altair estava deixando o golfo após ser carregado em Ruwais, nos EAU. O Kokuka Courageous havia sido carregado em Jubail, na Arábia Saudita. Os EAU e a Arábia Saudita são aliados próximos dos EUA e apoiam os esforços do governo Trump para reduzir a influência iraniana na região.
A TV iraniana mostrou imagens de fogo saindo por um grande buraco no Front Altair, enquanto fumaça negra saía de seu casco danificado. Uma mensagem que circulou ontem entre executivos da marinha mercante dizia que o incêndio foi causado por um “ataque de superfície”.
A Kokuka Sangyo disse que recebeu um relatório indicando que o seu navio Kokuka Courageous foi atingido por dois projéteis, com três horas de diferença.
A infraestrutura petrolífera e de transporte do golfo vem sofrendo ataques desde o início de maio, quando os EUA alertaram para uma “escalada” não especificada de ações de Teerã e enviaram mais recursos militares à região. Autoridades iranianas classificaram os ataques de suspeitos.
Ontem, Mohammad Javad Zarif, ministro do Exterior do Irã, disse que “suspeita não serve para descrever” o fato de que os atentados aos navios coincidiram com o encontro de Abe com Khamenei.
Após atos de sabotagem contra quatro navios petroleiros no mês passado, Washington disse suspeitar que o Irã esteve por trás dos ataques. Uma investigação dos EAU por pouco não culpou a República Islâmica, mas disse que um “agente estatal” foi o responsável. Teerã negou qualquer envolvimento.
Helima Croft, ex-analista da CIA e hoje na RBC Capital Markets, disse que os atentados aumentam o risco de um confronto entre os EUA e o Irã. “Esses são os tipos de incidentes para os quais vínhamos alertando e que podem colocar a região à beira de uma guerra.”
Helga Maria Schmid, secretária-geral do braço de política externa da União Europeia, discutiu os incidentes com os navios com autoridades em Omã e os dois lados expressaram uma “clara preocupação”, segundo disse um porta-voz.
Na quarta-feira, um foguete disparado por houthis iemenitas atingiu o aeroporto de Abha no sul da Arábia Saudita, ferindo 26 pessoas. Riad e Washington acusam o Irã de traficar armas para os rebeldes houthis, incluindo mísseis usados contra alvos sauditas. O Irã nega as acusações.
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