Entretenimento e mídia devem ter expansão de 7% no mundo neste ano

O setor de entretenimento e mídia deve escapar das tormentas econômicas mundiais previstas para o ano que vem. Este ano deve fechar com faturamento de US$ 2,5 trilhões, 7,3% a mais que no ano passado, muito acima do crescimento do PIB global de 2,9%. A publicidade, por sua vez, recuperou-se do tombo de 2020 e caminha para chegar ao faturamento de US$ 1 trilhão no mundo em 2026. No Brasil deve ficar em US$ 10 bilhões no mesmo ano. 

As previsões são da 23a edição da pesquisa global sobre entretenimento e mídia da consultoria e auditoria PwC. 

No Brasil, entretenimento e mídia, que na pesquisa agrupa 16 segmentos, desde livros, cinema até publicidade, devem fechar o ano com US$ 33 bilhões em receitas, avanço de 8,6%, maior que a média mundial. Até 2026, chegará perto dos U$ 40 bilhões. 

As tevês tradicionais devem ter crescimento anual de 3% nas receitas de publicidade até 2026. “A TV aberta, que vinha perdendo um ou dois pontos percentuais anualmente na distribuição dos gastos de publicidade no Brasil, deve se estabilizar, nos próximos quatro anos”, diz Ricardo Queiroz, sócio da PwC Brasil. 

“Escapar [da crise em 2023] é uma palavra muito forte”, diz Dan Calladine, líder de mídia da agência Dentsu Internacional, um dos responsáveis pelo relatório global de tendência de mídia da agência para 2023. Para Calladine, haverá crescimento, mas em ritmo lento. De sua casa em Londres, o executivo da Dentsu diz que está usando um suéter a mais e que mantém a calefação a 16 graus e não a 22 graus como no passado. “Os preços de energia estão proibitivos e os pobres vão sofrer bastante”. 

Calladine observa que boa parte das previsões da Dentsu é feita sob ponto de vista europeu e americano, onde se concentram as operações da agência sediada no Japão. No Brasil, diz Silvia Visani a líder de inteligência de dados, há peculiaridades: “O brasileiro tem muito o senso do ‘eu mereço’ e demora mais a cortar serviços de entretenimento”. 

Mas, pondera Visani, a inflação vai moderar algumas compras no ano que vem. Uma indústria que ainda vai enfrentar dificuldades nos próximos anos é a automobilística, diz ela. 

Outra característica nacional, segundo Visani, é que no Brasil a tecnologia de banda larga não tem tanta penetração como nos Estados Unidos e Europa, portanto o impacto de custos na população em geral não é tão grande. Enquanto nos Estados Unidos 90% da população dispõe de banda larga, no Brasil o percentual é de 63% e 67% para os telefones móveis, segundo a PwC. No Brasil as receitas com acesso à internet aumentaram de forma acentuada entre 2017 e 2020, mantendo tendência de crescimento. 

Segundo o estudo da PwC, a receita da publicidade na internet vai crescer 10,1% no Brasil, um ponto percentual a mais que a média global, para US$ 5,1 bilhões em 2026. A maior parte disso será aplicada em anúncios de vídeo para dispositivos móveis (59%). 

A mudança do modelo de negócios baseado em assinaturas para a opção gratuita mas com a adoção de anúncios, em empresas de streaming e vídeos “on demand”, como Netflix e Disney plus, está se acelerando na Europa e Estados Unidos, mas no Brasil tem outro ritmo, diz a executiva da Dentsu. “A diferença é a preponderância e abrangência da TV aberta no país, que já oferece canais gratuitos na versão digital e por streaming”, acrescenta. 

A questão toda é a audiência, diz Queiroz da PwC. Segundo ele, a audiência da TV aberta sempre terá relevância. Ele aponta também para a volta do consumidor aos cinemas, como parte da geração de receita para os produtores. “As superproduções não se sustentam só com o que é pago pelo streaming”. Ele cita o filme “Maverick”, sequência de “Top Gun”, de 1986, com Tom Cruise, lançado nos cinemas neste ano – já gerou mais de US$ 1,4 bilhão de receita. 

A maior aceleração de investimentos publicitários ocorre, entretanto, nos jogos eletrônicos. Movimento detectado nas duas pesquisas. “São 60 a 70 milhões de pessoas que jogam no Brasil, 75% aceitariam receber publicidade e 44% já compraram alguma coisa dentro do ambiente dos jogos”, diz Queiroz da PwC. “Embora ainda fique com uma parte pequena (23%) do total dos investimentos em publicidade, eles cresceram 33% este ano em relação ao ano passado e devem chegar a US$ 1 bilhão em 2026, multiplicando por cinco os valores atuais”, afirma Queiroz. 

No estudo da Dentsu, os jogos eletrônicos, que mobilizam 3,2 bilhões de jogadores no mundo, estão entre as três principais tendências para 2023. “Os jogos estão em todos os lugares”, deixaram de ser coisa de adolescentes, diz a Dentsu. 

Ao lado da questão da publicidade nos canais de vídeo on demand e por assinatura, a Dentsu aponta a importância cada vez maior de medir a atenção dos usuários, diante da multiplicidade de canais a seu alcance. Para a agência, essa necessidade traz de volta a importância da criatividade da publicidade. 

Tanto os estudos da Dentsu quanto os da PwC mostram o consumidor cada vez mais preocupado com a sustentabilidade. “A mídia pode construir comunidades como nunca antes, mas a maneira como isso funciona está mudando”, diz a Dentsu. “A responsabilidade das marcas ocupa o centro do palco”, afirma a agência. 

“Em vez de ‘quem segue quem’, as pessoas estão procurando mais entretenimento”, afirma o relatório da Dentsu. O exemplo do Tik Tok, segundo Visani, é bastante claro. As pessoas buscam se divertir, mostrar uma para as outras as imagens, mas ninguém discute com ninguém, como estava acontecendo em plataformas como Twitter. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/12/02/entretenimento-e-midia-devem-ter-expansao-de-7-no-mundo-neste-ano.ghtml

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