A necessidade de digitalização para a sobrevivência de muitos negócios na pandemia elevou o consumo interno do software brasileiro em 2020. No entanto, a produção local, majoritariamente composta por micro e pequenas empresas no país, pode sofrer impacto caso a proposta atual da reforma tributária, que tramita no Congresso, seja aprovada.
No ano passado, os investimentos do mercado doméstico em softwares desenvolvidos no país somaram R$ 10,7 bilhões (US$ 2,7 bilhões, considerando a cotação do dólar a R$ 3,95 usada no estudo). O volume representa um avanço de 35,2% sobre o resultado de 2019. Já o faturamento do software brasileiro com exportações avançou 8,6% no período, gerando uma receita de R$ 916,4 milhões (US$ 232 milhões), informa a Associação Brasileira das Empresas de Sofware (Abes) em um estudo sobre o mercado de tecnologia feito pela consultoria IDC.
Embora 77,8% dos investimento do país em software sejam em produtos do exterior, a participação do software local nestes investimentos ganhou um ponto percentual para 20,4%, no ano passado.
O número de desenvolvedores locais de software também aumentou de 5.519, em 2019, para 6.500, no ano passado, sendo 95% micro e pequenas que têm entre dez e 99 funcionários.
Para Rodolfo Fücher, presidente da Abes, um cenário promissor para a indústria local, entretanto, corre riscos diante de pontos da reforma tributária, como a cobrança de impostos sobre o lucro real, e não o lucro presumido. “As mudanças tributárias podem aniquilar estas empresas”, diz.
A estimativa da associação é de que a proposta discutida no Congresso traga uma carga adicional de 5% a 26,75% em impostos sobre o lucro líquido de empresas de software brasileiras e sua distribuição aos acionistas. “Isso faz com que o investidor estrangeiro repense aportes no setor, o que pode gerar uma fuga de investimentos”, avalia o presidente da Abes.
No geral, a aceleração de projetos digitais, na pandemia, ajudou a elevar em 22,9% os investimentos totais em tecnologia (software, hardware e serviços) no ano passado, para R$ 200,3 bilhões (US$ 50,7 bilhões).
Este ano, a associação projeta um crescimento de 11,1% em investimentos no setor e um direcionamento cada vez maior ao software, que hoje representa 26,2% dos gastos com tecnologia no país, ante 22% em 2016. Nesse intervalo, a participação de serviços recuou de 26% para 20%, e a parcela voltada a equipamentos foi de 51,5% e 53,6%.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/08/04/demanda-por-software-nacional-aumenta.ghtml