Como usar menos plástico nos brinquedos

Hoje é possível comprar um carrinho de brinquedo Matchbox Tesla Roadster construído com 99% de materiais reciclados e certificado como neutro em carbono. Também é possível adquirir uma boneca Barbie feita de lixo plástico reciclado, coletado no México antes que possa poluir o Oceano Pacífico. Além disso, as crianças já podem até instalar painéis solares de plástico à base de plantas na Mega Bloks Build & Learn Eco House.

Esses brinquedos, vendidos pela Mattel, fazem parte de um esforço da indústria global de brinquedos de US$ 104 bilhões para tornar seus produtos predominantemente plásticos mais sustentáveis ​​em meio a uma crise de poluição plástica.

A Hasbro anunciou no ano passado que o brinquedo anteriormente conhecido como Mr. Potato Head (no Brasil, Sr. Cabeça de Batata) seria feito de materiais vegetais ou renováveis até o final de 2024. 

O Grupo Lego está fabricando alguns de seus acessórios de construção com plástico derivado da cana-de-açúcar brasileira e experimentando transformar garrafas plásticas recicladas em seus amados tijolos. 

“Acho que podemos estar realmente em um ponto de inflexão”, diz Pamela Gill-Alabaster, chefe de sustentabilidade global da Mattel, citando pesquisas que mostram que quase 80% dos pais classificam a sustentabilidade dos brinquedos como importante. “É a coisa certa a fazer, mas também acho que há uma atração por parte dos consumidores, e acho que veremos mais disso.” 

A Mattel oferece 33 brinquedos rotulados como sustentáveis, contra quatro em 2020. A empresa prometeu que, até o final da década, toda a sua linha de produtos será feita de “materiais plásticos 100% reciclados, recicláveis ou de base biológica”. 

Resinas sustentáveis para fazer brinquedos mais ecológicos também estão em falta, provocando aumentos de preços. “Muitas empresas de bens de consumo estão se comprometendo com o uso de plástico sustentável, então há uma enorme demanda e uma oferta finita”, diz Gill-Alabaster. 

O impacto da indústria na poluição plástica dos oceanos permanece incerto. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente de 2014 descobriu que o uso mais intensivo de plástico em família ocidental média compra 18,3 quilos de brinquedos de plástico por criança todos os anos 

Uma nova geração de pais está exigindo brinquedos sustentáveis, o que significa que os fabricantes de brinquedos têm pouca escolha a não ser abandonar o plástico à base de petróleo, de acordo com Juli Lennett, analista da indústria de brinquedos do NPD Group. “As pessoas pensam que é importante que um brinquedo, uma marca ou uma empresa seja sustentável ou ecologicamente correto, mas o que isso realmente significa é confuso”, diz ela. “Acho que temos um longo caminho a percorrer para educar os consumidores nesse sentido, e até eu fico confuso.” 

O “plástico ligado ao oceano” compõe 90% do material usado para fabricar a boneca Barbie Loves the Ocean. Esse plástico é coletado dentro de 50 quilômetros (31 milhas) de vias navegáveis em regiões sem instalações de processamento de resíduos estabelecidas. Neste caso, a Barbie nasceu de plástico da Baja Mexico, de acordo com Gill- Alabaster. 

O caminho para a sustentabilidade para a miniatura de Tesla, da Mattel, parece bastante simples. Segundo a empresa, 62,1% do brinquedo é feito de zinco reciclado, 36,9% de plástico reciclado e o restante 1% de aço inoxidável. A embalagem do brinquedo é feita de materiais reciclados e a bandeja de produtos de base biológica é compostável em casa, diz a Mattel. 

No caso dos brinquedos Mega Bloks Green Town, da Mattel, os pais são mergulhados no mundo desconhecido das compensações de carbono. Como os Mega Bloks contêm uma mistura de plásticos derivados da cana-de-açúcar e combustíveis fósseis, a empresa comprou menos de 500 toneladas de compensações de carbono geradas pela preservação de uma floresta na Colúmbia Britânica. 

Um relatório de 2013 do auditor geral da Colúmbia Britânica questionou a validade das compensações florestais, alegando que a floresta teria sido protegida independentemente da venda dos créditos de carbono. 

“O carbono neutro foi uma maneira fácil de comunicar e telegrafar que este produto é melhor para o planeta”, diz Gill-Alabaster. “Não foi só que compramos as compensações de carbono, na verdade fizemos o produto com um material melhor. A própria linha de produtos foi projetada para ajudar a ensinar comportamentos verdes por meio de padrões de brincadeira, como triagem de resíduos, transporte elétrico e proteção de abelhas.” 

A Mattel não divulgou o preço pago pelas compensações. Especialistas dizem que essas compensações florestais normalmente são vendidas por US$ 5 a US$ 6 por tonelada métrica, o que colocaria o custo da Mattel para compensar as emissões de gases de efeito estufa dos Mega Bloks em US$ 2.500 a US$ 3.000. 

Não se sabe se a mudança para materiais mais sustentáveis ajudará a reduzir a poluição prejudicial à vida marinha que ajuda a sustentar a saúde dos oceanos e o clima. 

Um estudo de 2020 publicado na revista Environmental Pollution analisou tijolos de Lego levados à costa no Reino Unido depois de décadas no mar. Os cientistas determinaram que os tijolos poderiam persistir no oceano por até 1.300 anos antes de se decomporem completamente. Até 2 milhões de peças de Lego podem ter acabado no oceano nas décadas de 1970 e 1980, depois que crianças pequenas no Reino Unido as jogaram no vaso sanitário. 

Andrew Turner, principal autor do estudo e professor associado de ciências ambientais da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, diz que são necessárias mais pesquisas sobre o impacto dos plásticos de base biológica nos ecossistemas marinhos. 

“Se você pegar uma peça de Lego padrão que acaba no oceano, suponho que essas de biopolímero acabarão no oceano da mesma maneira”, diz ele. De acordo com a Lego, o plástico à base de plantas usado para fazer os tijolos não é biodegradável – a empresa quer que os brinquedos sejam duráveis – e Turner diz que isso significa que os tijolos podem permanecer no oceano por tanto tempo. “Imagino que, uma vez no oceano, eles vão ficar lá por um bom tempo”, diz ele. 

A Mattel diz que está tentando manter os brinquedos antigos fora do meio ambiente por meio de seu programa PlayBack, que permite que clientes no Canadá, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos devolvam seus produtos à empresa para reutilização ou reciclagem. “Nossa esperança e objetivo final é poder usar o material recuperado desse programa na produção futura de brinquedos”, diz Gill-Alabaster. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/10/21/mattel-aposta-em-boneca-barbie-e-miniatura-de-carro-tesla-fabricados-com-lixo-reciclado.ghtml

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