Steve Wozniak, cofundador da Apple, defendeu nesta quarta-feira um modelo digital em que usuários tenham a opção de pagar uma quantia mensal para empresas não usarem seus dados para monitoramento de hábitos ou para fins de publicidade.
Essa ideia, que ficou conhecida como pagamento por privacidade, é ventilada há alguns anos na comunidade técnica de internet, à medida que as companhias de tecnologia passaram a lucrar como nunca e, ao mesmo tempo, protagonizar escândalos com o uso e compartilhamento indevido de dados.
O modelo de pagar por privacidade é, ironicamente, criticado pela EFF (Electronic Frontier Foundation), entidade de defesa dos direitos na internet financiada por nomes como Wozniak.
A organização se opõe a essa dinâmica porque argumenta que ela criaria uma divisão entre quem pode e quem não pode pagar por privacidade e transformaria um direito em uma moeda de troca num sistema sem lastro. O caminho, segundo defesa da ativista Hayley Tsukayma, seria regulação forte e homogênea a todas as companhias.
Wozniak também defendeu uma internet com mais regulação, mas não deu mais detalhes.
Nesse campo, também circula a ideia dos dividendos de dados, defendida por especialistas do Fórum Econômico Mundial. Em linhas gerais, o argumento é: como as pessoas não deixarão de usar Facebook ouGoogle, é justo que recebam recompensa financeira pelo fornecimento de suas informações.
Claro que as companhias devolvem um produto ao utilizarem um dado, seja o WhatsApp, o buscador do Google ou uma rede social. Um dos problemas é que, ao longo dos anos, o valor desse dado barateou perto do lucro do setor, que tem poucos concorrentes.
As big techs tornaram-se as companhias mais ricas do mundo, com poucos competidores, estruturadas em modelos de captação massiva de dados e oferecendo pouco poder de barganha para os “clientes”. O usuário até pode alterar as configurações de privacidade, mas isso tem um limite. Ele também, a essa altura, enfrentará vários tipos de obstáculos sociais ao deixar de usar Google ou WhastApp.
Apesar de o modelo soar justo, colocaria a privacidade como um produto, quando trata-se de um direito. Também caberia ao setor privado, sem muita transparência, determinar quanto valeria cada informação.
Durante o painel, Wozniak também disse estar orgulhoso da posição pró-privacidade da Apple nos últimos anos. Após muitas críticas, a companhia decidiu adiar uma decisão de controversa de revisar fotos enviadas à nuvem para coibir abuso infantil. A iniciativa foi considerada invasiva e perigosa porque abriria precedentes para a intromissão do setor privado e de governos em documentos pessoais.