Clientes trocam bancos pequenos pelos grandes nos EUA

Os grandes bancos dos Estados Unidos vêm sendo inundados por clientes tentando transferir o dinheiro que tinham em instituições de menor escala, depois de a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) ter provocado o que executivos dizem ser a maior movimentação de depósitos em mais de dez anos.

J.P. Morgan Chase, Citigroup e outras grandes instituições financeiras adotaram novos procedimentos para acelerar o processo de abertura de contas e poder receber os clientes que pedem rapidez na transferência de seus depósitos, segundo várias fontes a par do assunto. 

Um pacote de medidas emergenciais anunciado pelo governo dos Estados Unidos no domingo, que incluiu uma nova linha de crédito de assistência aos bancos, parece ter superado, por enquanto, seu primeiro grande teste e evitado o surgimento de alguma terceira quebra bancária, depois da implosão do SVB e do Signature Bank. 

Mesmo assim, ainda há depositantes tentando transferir o saldo de suas contas para bancos maiores como o J.P. Morgan, o Citigroup e o Bank of America, ou para fundos do mercado monetário, de acordo com as fontes. Isso tem sido especialmente comum quando os saldos superam o limite de US$ 250 mil, garantido pelo governo federal. 

As transferências de depósitos do SVB e de outros bancos regionais para os grandes nomes ganhou força na semana passada e ainda prosseguia no começo desta semana, segundo fontes. “Os pedidos estão chegando como aviões enfileirados [para decolar] em um dia de neve no aeroporto de O’Hare”, disse um executivo da área de banco de investimento, referindo-se ao movimentado centro de conexões aéreas em Chicago. 

O J.P. Morgan encurtou o tempo de espera para a abertura de contas e está acelerando a velocidade com que novos clientes pessoa jurídica podem ter acesso ao dinheiro, de forma a garantir que consigam pagar os funcionários até o fim da semana, segundo uma fonte que tomou conhecimento do assunto. 

Muitos bancos têm realocado funcionários para funções ligadas à abertura de contas, de acordo com as fontes. 

A área de gestão de fortunas do Citigroup procura estar com uma conta já aberta no mesmo dia da solicitação, em comparação ao período normal de uma a duas semanas, segundo as fontes. O banco também passou a dar início aos procedimentos de abertura de conta e de transferência de dinheiro enquanto o novo cliente ainda está na fase de verificação de seus dados. 

Executivos dizem estar pisando em terreno delicado, porque não querem ser acusados de estar se aproveitando para explorar a situação. O J.P. Morgan disse a seus executivos para não tentarem ativamente arrebatar clientes de rivais menores, segundo fontes a par das conversas. 

J.P. Morgan, Citigroup, Bank of America e First Republic não quiseram comentar as informações. 

“Golias está vencendo”, escreveu o analista Mike Mayo, especializado em setor bancário no Wells Fargo, em nota a seus clientes na qual destaca o J.P. Morgan como um nome beneficiado “nestes tempos mais incertos”. 

As ações de vários bancos regionais dos Estados Unidos, como o First Republic, de San Francisco, e o Western Alliance Bank, de Phoenix, fecharam com forte queda na segunda-feira, apesar da promessa do presidente do país, Joe Biden, de que seu governo fará “o que for necessário” para proteger os depositantes. 

Grandes gestores de ativos também relataram ter detectado uma elevada entrada de dinheiro proveniente de bancos, na esteira de alguns dias de ansiedade dos correntistas. 

“Os fluxos no setor vêm sendo dos bancos rumo aos fundos do mercado monetário”, disse uma fonte a par das operações de uma grande gestora de ativos americana. Os fundos do mercado monetário agora são alvo de maior supervisão em comparação a antes da crise financeira mundial de 2008, quando alguns precisaram de intervenção governamental.

Para alguns depositantes, a quebra do SVB colocou em evidência o risco de ter todo seu dinheiro em um único banco. Antes de os órgãos reguladores terem prometido no domingo que garantiriam todos os depósitos, muitos dos clientes pessoa jurídica do SVB nas áreas de tecnologia e ciências biológicas temiam ficar sem poder pagar funcionários e fornecedores. 

“Os clientes estão mais ou menos assim: ‘Aprendi minha lição, não vou diversificar apenas meu portfólio, quero diversificar o banco’”, disse o executivo de gestão de fortunas de uma grande firma. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/03/15/clientes-trocam-bancos-pequenos-pelos-grandes-nos-eua.ghtml

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