Venda de submarino nuclear para Austrália aumenta tensão no Pacífico 

Os EUA se comprometeram a vender pela primeira vez em 65 anos submarinos de propulsão nuclear para um aliado. 

A China acusou os países de embarcarem em um “caminho de erro e perigo”. “Isso é típico de uma mentalidade da Guerra Fria e só provocará uma corrida armamentista, quebrará os mecanismos internacionais de não proliferação nuclear e prejudicará a paz e a estabilidade regional”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.

A Austrália se comprometeu a comprar de três a cinco modelos da classe Virgínia, uma embarcação de ataque que pode empregar mísseis de cruzeiro e que começou a ser fabricada no ano 2000.

A aquisição vai ser a primeira etapa do Aukus, o pacto militar negociado pelo governo de Joe Biden com o da Austrália e do Reino Unido, em um momento de crescente tensão com a China e em meio a um realinhamento global que está provocando aumentos dramáticos nos gastos militares após a invasão russa da Ucrânia. Aukus é um acrônimo unindo os nomes dos países em inglês.

Na segunda-feira, 12, o presidente Joe Biden apareceu em um estaleiro naval ao lado de Anthony Albanese, premiê australiano, e Rishi Sunak, do Reino Unido. “Estamos mostrando novamente como as democracias podem oferecer nossa própria segurança e prosperidade”, acrescentou Biden. “E não apenas para nós, mas para o mundo inteiro”.

O acordo é substancial, já que a Austrália nas próximas décadas gastará mais de US$ 100 bilhões para comprar os submarinos e construir sua própria capacidade industrial, bem como fortalecer a capacidade de construção naval dos Estados Unidos e do Reino Unido, disseram autoridades.

Ao mesmo tempo, analistas afirmam que o acordo pode causar ainda mais instabilidade regional. “Muito da defesa da venda dos submarinos para a Austrália reflete a preocupação ocidental com a expansão militar chinesa, mas a questão é como a China encara o Aukus”, explica Jian Zhang, professor de Estudos Internacionais e Políticos na Universidade de Camberra. “Há grande ansiedade da China sobre as implicações do Aukus para os interesses de segurança nacional do país, e os analistas de segurança chineses veem o Aukus fundamentalmente uma camarilha militar anti-China, uma grande estratégia dos EUA para construir uma Otan na Ásia-Pacífico”.

De fato, o acordo visa reforçar as capacidades militares dos aliados dos EUA no Indo-Pacífico, aprofundar os laços entre os militares australianos e americanos e melhorar a postura da força americana na região. O acordo marcou a mais recente manobra geopolítica em um momento de turbulência global, já que a Rússia invadiu a Ucrânia e a China está se esforçando para expandir sua influência.

Para o professor emérito de Estudos Estratégicos na Australian National University, Hugh White, o novo acordo submarino coloca a Austrália e toda a região em risco. “A China tem um interesse evidente em controlar os mares e os territórios próximos, mas em nenhum momento mostrou uma visão de expansionismo territorial”, escreveu Hugh White em um relatório publicado no ano passado. “Uma Otan no Pacífico não ajuda a conter a crescente rivalidade, muito menos submarinos nucleares rondando seus mares”.

https://www.estadao.com.br/internacional/venda-de-submarino-nuclear-dos-eua-para-australia-aumenta-tensao-no-pacifico/

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