China anuncia menor meta para o PIB desde 1991

A China estabeleceu a menor meta para o PIB (Produto Interno Bruto) em décadas, com a advertência do primeiro-ministro Li Keqiang sobre uma perspectiva “grave e incerta” no contexto da pandemia de coronavírus, do declínio do setor imobiliário e da guerra na Ucrânia.

Li anunciou o objetivo modesto de crescimento ao redor de 5,5% —o menor de desde 1991— no discurso de abertura da sessão anual do Legislativo chinês.

No discurso para quase 3.000 membros do CNP (Congresso Nacional do Povo) no Grande Salão do Povo, Li afirmou que a segunda maior economia do mundo “encontrará mais riscos e desafios”.

“Temos que continuar a superá-los”, completou.

A meta é manter o emprego estável, cobrir as necessidades básicas e “proteger-se do risco”, afirmou no discurso, a versão chinesa do Estado da União.

O objetivo de crescimento é acompanhado com atenção na China porque o Partido Comunista baseia sua legitimidade na economia em expansão estável, algo que melhorou as condições de vida da população.

O partido se preocupa com qualquer possibilidade de instabilidade social que afete o crescimento econômico.

ESTABILIDADE, A PRIORIDADE

A estabilidade econômica deve ser a “maior prioridade”, disse Li.

A sessão parlamentar de cada ano consiste em uma semana de reuniões para estabelecer as prioridades políticas, as expectativas econômicas e os objetivos de política externa do partido. O evento deste ano tem como ingrediente a intenção do presidente Xi Jinping de consolidar ainda mais seu poder.

O crescimento econômico chinês registrou uma desaceleração considerável nos últimos anos em comparação com o ‘boom’ das décadas anteriores, com avanços que em alguns momentos superaram 10%.

O país foi afetado recentemente pela crise do mercado imobiliário, regulamentações severas dos setores imobiliário, de tecnologia e financeiro, além de focos de coronavírus que provocaram medidas de confinamento.

A economia da China, um indicador chave do crescimento global, superou a meta oficial de pelo menos 6% de crescimento no ano passado, chegando em um momento do ano a alcançar 8,1%.

Porém, no segundo semestre a desaceleração foi muito forte.

A política chinesa de “Covid zero” conseguiu conter a pandemia e permitiu a recuperação econômica em um primeiro momento, mas uma série de focos do coronavírus —combatidos com medidas de contenção severas nos últimos meses— afetou a demanda dos consumidores.

Também pesa a campanha de Pequim para conter o endividamento excessivo e a especulação dos consumidores.

Apesar da incerteza mundial provocada pela guerra na Ucrânia, Li não citou diretamente o conflito. A China evitou até o momento condenar abertamente as ações da Rússia, sua aliada diplomática.

Neste cenário, o governo também anunciou um aumento de 7,1% do orçamento militar da China —o segundo maior, atrás apenas dos Estados Unidos—, a 1,45 trilhão de yuanes (US$ 230 bilhões) em 2022, seguindo a tendências dos últimos anos.

A China destinou bilhões de dólares para transformar seu enorme exército em uma força mundial de nível mundial, similar às Forças Armadas dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais.

Pelo terceiro ano consecutivo, o encontro legislativo chinês acontece de maneira reduzida devido à Covid.

Os legisladores devem discutir estratégias para aumentar o número de nascimentos no país, depois que analistas alertaram para os temores de uma crise demográfica: a taxa de natalidade caiu ao mínimo histórico no ano passado.

Além da sessão anual, o Partido Comunista da China se prepara para o 20º Congresso do partido, no fim do ano.

A reunião, que acontece a cada cinco anos, deve aprovar o terceiro mandato de Xi Jinping, após uma mudança na Constituição para eliminar o limite de mandatos.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/03/china-anuncia-menor-meta-para-o-pib-desde-1991.shtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação